Monday, March 07, 2016

Domínio dos gerontocratas


Pedro J. Bondaczuk


Observadores ocidentais em Moscou fazem previsões de que, em breve, será aberta, outra vez, a guerra de foice para a sucessão no Cremlin. Isto porque, segundo especulações que se avolumam cada vez mais, o novo homem forte da União Soviética, Konstantin Chernenko, seria uma pessoa muito doente. Seu mal seria um avançado enfisema pulmonar. Alguns (mais afoitos) chegaram, mesmo, a prever que o governante, de 72 anos, teria, quando muito, meio ano de vida.

Verdadeiras ou não estas informações, fundamentadas ou não, o fato é que o dirigente máximo da URSS não tem demonstrado o vigor físico necessário para governar uma potência complexa como a sua. Assessores do rei Juan Carlos, da Espanha (que visita, atualmente, a União Soviética) puderam notar grande debilidade orgânica (ao menos exterior) em Chernenko. O líder russo, inclusive, em várias oportunidades, teve que ser amparado nas várias recepções de que participou, nos últimos dias.

Do outro lado do mundo, contando com a mesma idade de Chernenko, temos o presidente norte-americano Ronald Reagan, vendendo saúde, mais disposto do que muitos dos seus assessores bastante mais jovens, preparando-se para postular um segundo mandato na Casa Branca.

Inutilmente seus competidores buscam fazer da idade desse ex-ator de Hollywood um obstáculo à sua reeleição. Nas eleições de 1980, Reagan, já tendo o mesmo fato contra ele, fartamente explorado na ocasião por Jimmy Carter, conseguiu uma das mais expressivas vitórias eleitorais da história dos EUA.

Agora, quatro anos mais velho, lidera todas as pesquisas de opinião e, dificilmente, será ameaçado por qualquer dos adversários democratas, seja qual for o indicado para concorrer com ele (Walter Mondale, Gary Hart ou Jesse Jackson), para permanecer por mais quatro anos na Casa Branca.

Não seria, todavia, um erro de avaliação do eleitorado? Não queremos afirmar que os líderes idosos não têm capacidade para as funções de governo. Ao contrário, sua própria experiência de vida já os credencia para a função. Mas já imaginaram a morte de um deles o (soviético ou o norte-americano) em meio a alguma grave crise, onde esteja em jogo a paz e a segurança mundiais? Seria catastrófico! Afinal, embora o nosso tempo de vida não se preste a previsões, a probabilidade do desaparecimento dos gerontocratas, não se pode negar, é muito maior do que o de um líder mais jovem. 


(Artigo publicado na página 18, Internacional, do Correio Popular, em 13 de maio de 1984)

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