Domínio
dos gerontocratas
Pedro J. Bondaczuk
Observadores ocidentais em Moscou fazem previsões de
que, em breve, será aberta, outra vez, a guerra de foice para a sucessão no
Cremlin. Isto porque, segundo especulações que se avolumam cada vez mais, o novo
homem forte da União Soviética, Konstantin Chernenko, seria uma pessoa muito
doente. Seu mal seria um avançado enfisema pulmonar. Alguns (mais afoitos)
chegaram, mesmo, a prever que o governante, de 72 anos, teria, quando muito,
meio ano de vida.
Verdadeiras ou não estas informações, fundamentadas
ou não, o fato é que o dirigente máximo da URSS não tem demonstrado o vigor
físico necessário para governar uma potência complexa como a sua. Assessores do
rei Juan Carlos, da Espanha (que visita, atualmente, a União Soviética) puderam
notar grande debilidade orgânica (ao menos exterior) em Chernenko. O líder
russo, inclusive, em várias oportunidades, teve que ser amparado nas várias
recepções de que participou, nos últimos dias.
Do outro lado do mundo, contando com a mesma idade
de Chernenko, temos o presidente norte-americano Ronald Reagan, vendendo saúde,
mais disposto do que muitos dos seus assessores bastante mais jovens,
preparando-se para postular um segundo mandato na Casa Branca.
Inutilmente seus competidores buscam fazer da idade
desse ex-ator de Hollywood um obstáculo à sua reeleição. Nas eleições de 1980,
Reagan, já tendo o mesmo fato contra ele, fartamente explorado na ocasião por
Jimmy Carter, conseguiu uma das mais expressivas vitórias eleitorais da
história dos EUA.
Agora, quatro anos mais velho, lidera todas as
pesquisas de opinião e, dificilmente, será ameaçado por qualquer dos
adversários democratas, seja qual for o indicado para concorrer com ele (Walter
Mondale, Gary Hart ou Jesse Jackson), para permanecer por mais quatro anos na
Casa Branca.
Não seria, todavia, um erro de avaliação do
eleitorado? Não queremos afirmar que os líderes idosos não têm capacidade para
as funções de governo. Ao contrário, sua própria experiência de vida já os
credencia para a função. Mas já imaginaram a morte de um deles o (soviético ou
o norte-americano) em meio a alguma grave crise, onde esteja em jogo a paz e a
segurança mundiais? Seria catastrófico! Afinal, embora o nosso tempo de vida
não se preste a previsões, a probabilidade do desaparecimento dos
gerontocratas, não se pode negar, é muito maior do que o de um líder mais
jovem.
(Artigo publicado na página 18, Internacional, do
Correio Popular, em 13 de maio de 1984)
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