Encontro com o Papa chega a ser excitante
Pedro J.
Bondaczuk
A comunidade internacional mal
pode esconder a sua ansiedade diante da ofensiva diplomática que será
deflagrada nesta semana pelo mentor intelectual desta autêntica revolução sem
armas que está em andamento na Europa do Leste: o presidente soviético Mikhail
Gorbachev.
Primeiro ele irá à Itália, firmar
vários acordos comerciais bilaterais com os italianos. Mas a parte excitante
desse compromisso vai ocorrer amanhã, quando o líder do Cremlin será recebido,
por duas horas, no Vaticano, pelo papa João Paulo II, na primeira reunião dessa
natureza da história. Nunca antes qualquer secretário-geral da URSS foi
recepcionado por um Pontífice. Aliás, nem daria para ser.
Ninguém concebe, por exemplo, um
Joseph Stalin circulando pelos corredores da
Santa Sé ou um Leonid Brezhnev aguardando na ante-sala papal, para
manter conversações com o chefe da Igreja Católica. Isto somente poderia
acontecer mesmo com Gorbachev, com a sua visão de um “socialismo com face
humana”. Aliás, expressão idêntica à que havia sido usada pelo líder checo,
Alexander Dubceck, há 21 anos, quando ele encabeçou um movimento chamado de
“Primavera de Praga”, esmagado pelos tanques do Pacto de Varsóvia.
O presidente soviético deverá estabelecer
relações diplomáticas com o Vaticano ou pelo menos impulsionar tal processo e
especula-se que deve convidar, inclusive, o Papa a visitar a União Soviética,
intenção que João Paulo II já manifestou ter, mas que, se vier a se
concretizar, poderá ocorrer somente em 1992, por uma questão de datas na
agenda.
O melhor, todavia, está reservado
para sábado e domingo próximo. Nesses dias, os líderes das superpotências vão
realizar uma insólita reunião de cúpula, a bordo de dois navios de guerra, os
cruzadores “Slava”, soviético, e “Belknap”, norte-americano, que estarão
ancorados ao largo da Ilha de Malta, no Mediterrâneo.
O curioso nesse encontro é que, a
despeito de ambos terem anunciado que o diálogo terá um caráter meramente
informal, sem nenhum acordo para ser assinado e sequer um comunicado conjunto
final, o mundo aguarda tal acontecimento com o “coração nas mãos”.
Isto ocorre porque, na
oportunidade, os dois homens mais poderosos do Planeta vão esclarecer suas
respectivas posições sobre os dramáticos acontecimentos que se desenrolam na
Europa, em especial no Leste. De seu entendimento, o processo poderá adquirir
uma outra dinâmica. Ou sofrer aceleração ainda maior, em sua vertiginosa
velocidade, ou diminuir de ritmo.
O que é confortador, no entanto,
é ver dirigentes de dois sistemas tão antagônicos, como o comunismo e o
capitalismo, trocando pontos de vista cordialmente ao redor de uma mesa, ao
invés de estarem se ameaçando de destruição mútua como antes e com isso, de
porem fim à vida na Terra. São tempos extremamente excitantes estes que estamos
vivendo, não há dúvida.
(Artigo
publicado na página 16, Internacional, do Correio Popular, em 28 de novembro de
1989).
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