Wednesday, March 30, 2016

A lógica do mercado


Pedro J. Bondaczuk


A expectativa pela entrada em vigor do Real, que vai acontecer dentro de exatos sete dias, enlouqueceu os preços, o que, aliás, já havia ocorrido quando da introdução da Unidade Real de Valor, em 1º de março passado. Quem está agindo dessa maneira, ao contrário do que pensa, não está sendo esperto. Simplesmente está espantando fregueses, sem nenhuma garantia de que irá recuperar esses clientes perdidos.

A quantidade da nova moeda na praça será muitíssimo menor do que a da atual, que ascende, talvez, a estratosféricos e absurdos quatrilhões. Como os salários permanecem congelados até as respectivas datas-base de reajuste, vai faltar dinheiro na praça.

Quem quiser ter vendas e apurar recursos para pagar seus compromissos, principalmente com os fornecedores, no instante em que sentir que não está vendendo coisa alguma, fatalmente terá que cair na realidade comercial: ou pratica preços compatíveis com o dinheiro existente em mãos dos trabalhadores, que são a maior parte dos consumidores, ou não vende nada.

Há quem esteja apostando no imediato aumento do poder aquisitivo da população, com uma abrupta queda da inflação, e quer se aproveitar disso. Mas para lograr seu objetivo, esses agentes econômicos deveriam escolher estratégia diametralmente oposta à que vêm adotando nos últimos dias. Teriam que cobrar o valor justo por suas mercadorias ou serviços, sem embutir nos custos delirantes projeções de taxas inflacionárias futuras.

Ao estipularem preços exagerados, muito além da realidade, estão conseguindo, somente, diminuir --- ou na melhor das hipóteses manter como está --- o verdadeiro valor dos salários. Portanto, diante desse comportamento, uma coisa é certa: a temida explosão de consumo não irá ocorrer, por insuficiência da massa salarial. É só conferir daqui a um mês para ver.

Ninguém está disposto a ter perdas, o que é uma atitude sensata, prudente e muito justa. Pois os trabalhadores também não estão. Estimular inflação alta em Real, estando os salários congelados, é provocar queda de vendas. Não é preciso ser nenhum economista para chegar a essa conclusão.

Portanto, faz sentido a observação do ministro da Fazenda, Rubens Ricupero, num de seus pronunciamentos em rede de rádio e televisão, quando afirmou: "A partir de 1º de julho, um Real valerá um dólar americano. E não existe inflação elevada em dólares".

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 24 de junho de 1994).

Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk


No comments: