A lógica do mercado
Pedro J. Bondaczuk
A
expectativa pela entrada em vigor do Real, que vai acontecer dentro de exatos
sete dias, enlouqueceu os preços, o que, aliás, já havia ocorrido quando da
introdução da Unidade Real de Valor, em 1º de março passado. Quem está agindo
dessa maneira, ao contrário do que pensa, não está sendo esperto. Simplesmente
está espantando fregueses, sem nenhuma garantia de que irá recuperar esses
clientes perdidos.
A
quantidade da nova moeda na praça será muitíssimo menor do que a da atual, que
ascende, talvez, a estratosféricos e absurdos quatrilhões. Como os salários
permanecem congelados até as respectivas datas-base de reajuste, vai faltar
dinheiro na praça.
Quem
quiser ter vendas e apurar recursos para pagar seus compromissos,
principalmente com os fornecedores, no instante em que sentir que não está
vendendo coisa alguma, fatalmente terá que cair na realidade comercial: ou
pratica preços compatíveis com o dinheiro existente em mãos dos trabalhadores,
que são a maior parte dos consumidores, ou não vende nada.
Há
quem esteja apostando no imediato aumento do poder aquisitivo da população, com
uma abrupta queda da inflação, e quer se aproveitar disso. Mas para lograr seu
objetivo, esses agentes econômicos deveriam escolher estratégia diametralmente
oposta à que vêm adotando nos últimos dias. Teriam que cobrar o valor justo por
suas mercadorias ou serviços, sem embutir nos custos delirantes projeções de
taxas inflacionárias futuras.
Ao
estipularem preços exagerados, muito além da realidade, estão conseguindo,
somente, diminuir --- ou na melhor das hipóteses manter como está --- o
verdadeiro valor dos salários. Portanto, diante desse comportamento, uma coisa
é certa: a temida explosão de consumo não irá ocorrer, por insuficiência da
massa salarial. É só conferir daqui a um mês para ver.
Ninguém
está disposto a ter perdas, o que é uma atitude sensata, prudente e muito
justa. Pois os trabalhadores também não estão. Estimular inflação alta em Real,
estando os salários congelados, é provocar queda de vendas. Não é preciso ser
nenhum economista para chegar a essa conclusão.
Portanto,
faz sentido a observação do ministro da Fazenda, Rubens Ricupero, num de seus
pronunciamentos em rede de rádio e televisão, quando afirmou: "A partir de
1º de julho, um Real valerá um dólar americano. E não existe inflação elevada
em dólares".
(Artigo
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 24 de junho de 1994).
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