Reação do Estado
Pedro J.
Bondaczuk
O Parlamento da Índia, preocupado com a onda terrorista
que há duas semanas fez 85 vítimas fatais no país, vem de instituir a pena de
morte para os que cometerem atos que possam ser classificados como de terror.
No mexo dia, ontem, o Papa flou
sobre o assunto, num pronunciamento feito no palácio rel da Bélgica, em
Bruxelas, perante o rei Balduíno, a rainha Fabíola e mais 800 personalidades
com poder decisório. Embora, obviamente, condenando esse flagelo, João Paulo II
apontou aquele, que a seu ver, é o único caminho para resolver de vez esse
angustiante problema: um amplo acordo internacional a respeito.
Recorde-se que o Pontífice foi,
ele próprio, vítima de um insidioso ataque, no dia 12 de maio de 1981, quando o
turco Mehmet Ali Agca quase consegue extinguir sua vida. O terror é algo que
vem de muito longe. Não data, portanto, dos dias de hoje.
Júlio César foi sua vítima, em
Roma, sob o punhal assassino de Brutus. Em épocas mais recentes, pode-se cita,
assim de chofre, pelo menos mais seis casos célebres, em que os envolvidos
foram governantes de grandes países.
Em 1865, o presidente
norte-americano Abraham Lincoln tombava com um tiro na nuca, disparado por John
Wilkes Booth. Em 1881, seria a vez de James Garfield ser eliminado pela
violência, no dia 2 de julho, pela bala assassina de Charles Guiteau. O
presidente dos EUA, mortalmente ferido, viria a falecer pouco mais de dois
meses após, em 19 de setembro.
Outro ocupante da Casa Branca,
William McKinley, teria o mesmo destino a 6 de setembro de 1901, assassinado
que foi pelo anarquista (antigamente usava-se essa designação para classificar
todo e qualquer terrorista) Leon Czolgosz. Isso, para não mencionar os irmãos
John e Robert Kennedy.
Mas não foram apenas os EUA que
tiveram problemas em relação a seus governantes, com os agentes do terror. Em
1º de março de 1881, o czar Alexandre II, da Rússia, seria morto por fanáticos
comandados por Sophia Perovzkaya. No Japão, desde 1860, nove
primeiros-ministros foram assassinados. E é bom que não se esqueça que de um
ataque terrorista, o perpetrado contra o Arquiduque Francisco Ferdinando, da
Áustria, pelo estudante Gavrilo Princip, surgiu a sangrenta Primeira Guerra
Mundial. O atentado, que serviu de estopim para o conflito, ocorreu em 28 de
junho de 1914.
Na maioria dos casos, os autores
das mortes foram sentenciados à pena capital. E isso mostrou-se, é óbvio,
contraproducente. O terrorista, quando vai praticar seu ato, sabe que
dificilmente escapará vivo. É movido a fanatismo, o que o faz se desprender da
própria vida, a qual oferece, insensatamente, em favor da “causa”.
Muitos procuram, deliberadamente,
a morte, para servirem de mártires, de bandeiras para o grupo que os comanda. É
claro que o Estado deve procurar formas de se auto-preservar e de proteger,
principalmente, a vida e a propriedade dos seus cidadãos. Tem esse direito
natural que deve, todavia, ser usado com parcimônia.
O que deve ser procurado,
ingentemente e, como já pregava Licurgo, nos tempos de fastígio da civilização
grega, é “combater o mal pela raiz”. É ir à causa do surgimento de grupos que
buscam resolver, pela via violenta, suas querelas políticas ou religiosas. E
isso somente vai ser possível quando os líderes das grandes nações, esquecendo
suas profundas divergências ideológicas, conseguirem justificar a definição de
civilizados que ostentam e obtiverem um amplo acordo de não-agressão e de
cooperação na luta antiterror, de âmbito universal.
Caso contrário, ainda haveremos
de despertar, algum dia, ameaçados, todos, por uma impensável chantagem nuclear
terrorista, de conseqüências que nem é bom pensar...
(Artigo publicado na página 11, Internacional, do Correio Popular, em 21
de maio de 1985).
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