Wednesday, March 09, 2016

Reação do Estado


Pedro J. Bondaczuk


O Parlamento da Índia, preocupado com a onda terrorista que há duas semanas fez 85 vítimas fatais no país, vem de instituir a pena de morte para os que cometerem atos que possam ser classificados como de terror.

No mexo dia, ontem, o Papa flou sobre o assunto, num pronunciamento feito no palácio rel da Bélgica, em Bruxelas, perante o rei Balduíno, a rainha Fabíola e mais 800 personalidades com poder decisório. Embora, obviamente, condenando esse flagelo, João Paulo II apontou aquele, que a seu ver, é o único caminho para resolver de vez esse angustiante problema: um amplo acordo internacional a respeito.

Recorde-se que o Pontífice foi, ele próprio, vítima de um insidioso ataque, no dia 12 de maio de 1981, quando o turco Mehmet Ali Agca quase consegue extinguir sua vida. O terror é algo que vem de muito longe. Não data, portanto, dos dias de hoje.

Júlio César foi sua vítima, em Roma, sob o punhal assassino de Brutus. Em épocas mais recentes, pode-se cita, assim de chofre, pelo menos mais seis casos célebres, em que os envolvidos foram governantes de grandes países.

Em 1865, o presidente norte-americano Abraham Lincoln tombava com um tiro na nuca, disparado por John Wilkes Booth. Em 1881, seria a vez de James Garfield ser eliminado pela violência, no dia 2 de julho, pela bala assassina de Charles Guiteau. O presidente dos EUA, mortalmente ferido, viria a falecer pouco mais de dois meses após, em 19 de setembro.

Outro ocupante da Casa Branca, William McKinley, teria o mesmo destino a 6 de setembro de 1901, assassinado que foi pelo anarquista (antigamente usava-se essa designação para classificar todo e qualquer terrorista) Leon Czolgosz. Isso, para não mencionar os irmãos John e Robert Kennedy.

Mas não foram apenas os EUA que tiveram problemas em relação a seus governantes, com os agentes do terror. Em 1º de março de 1881, o czar Alexandre II, da Rússia, seria morto por fanáticos comandados por Sophia Perovzkaya. No Japão, desde 1860, nove primeiros-ministros foram assassinados. E é bom que não se esqueça que de um ataque terrorista, o perpetrado contra o Arquiduque Francisco Ferdinando, da Áustria, pelo estudante Gavrilo Princip, surgiu a sangrenta Primeira Guerra Mundial. O atentado, que serviu de estopim para o conflito, ocorreu em 28 de junho de 1914.

Na maioria dos casos, os autores das mortes foram sentenciados à pena capital. E isso mostrou-se, é óbvio, contraproducente. O terrorista, quando vai praticar seu ato, sabe que dificilmente escapará vivo. É movido a fanatismo, o que o faz se desprender da própria vida, a qual oferece, insensatamente, em favor da “causa”.

Muitos procuram, deliberadamente, a morte, para servirem de mártires, de bandeiras para o grupo que os comanda. É claro que o Estado deve procurar formas de se auto-preservar e de proteger, principalmente, a vida e a propriedade dos seus cidadãos. Tem esse direito natural que deve, todavia, ser usado com parcimônia.

O que deve ser procurado, ingentemente e, como já pregava Licurgo, nos tempos de fastígio da civilização grega, é “combater o mal pela raiz”. É ir à causa do surgimento de grupos que buscam resolver, pela via violenta, suas querelas políticas ou religiosas. E isso somente vai ser possível quando os líderes das grandes nações, esquecendo suas profundas divergências ideológicas, conseguirem justificar a definição de civilizados que ostentam e obtiverem um amplo acordo de não-agressão e de cooperação na luta antiterror, de âmbito universal.

Caso contrário, ainda haveremos de despertar, algum dia, ameaçados, todos, por uma impensável chantagem nuclear terrorista, de conseqüências que nem é bom pensar...

(Artigo publicado na página 11, Internacional, do Correio Popular, em 21 de maio de 1985).


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