Saturday, March 12, 2016

Será que o objetivo da vida é viver?


Pedro J. Bondaczuk

O “pai” da Teoria da Relatividade, Albert Einstein – físico alemão que revolucionou as ciências, tido e havido como um dos maiores gênios que a humanidade já conheceu – escreveu, em determinado trecho do seu livro “Como vejo o mundo”, em tom de conselho: “Se quiser ter uma vida plena prenda-a a um objetivo, não às pessoas nem às coisas”. Cá para nós, será que as coisas, então, são tão simples, como o eminente cientista afirmou? Basta que você se auto-imponha determinada meta a alcançar para que se sinta realizado e justifique sua presença no mundo? Desconfio que não. Ademais, quem sabe o objetivo de ter sido o “escolhido” (e, convenhamos,aleatoriamente) pela natureza para viver?

Todavia, qual é a razão de sermos nós, especificamente, os convocados para esta aventura fascinante, mas perigosa e incerta, e não outra combinação qualquer de espermatozóide e óvulo? Existe alguma? Qual? Qual a verdadeira finalidade da vida? Existe alguma? Há uma única? São várias?  Por que os seres – animais ou vegetais, não importa – nascem, se desenvolvem e se reproduzem, se estão, irremediavelmente, condenados a morrer? Não seria um desperdício? Há vida em outras partes do Universo? Caso a resposta seja afirmativa, onde? E mais, nessa mesma hipótese, ela é igual, semelhante ou diferente da existente na Terra? São perguntas, perguntas e mais perguntas, infinitas delas, sem respostas adequadas ou sequer satisfatórias...

Escrevi muito sobre este tema – e o leitor que me é fiel e não apenas ocasional, é testemunha – possivelmente não com estas mesmas palavras, mas com outras semelhantes e com o mesmo sentido, sem que sequer me aproximasse de uma conclusão minimamente lógica e verossímil. Não creio que haja alguém capaz de responder a estas questões. Em outro texto sobre o mesmo assunto, citei esta declaração do fotógrafo e pintor luxemburguês (que fez carreira nos Estados Unidos), Edward Steichen, que expressa a mesma perplexidade que tenho a respeito: “´É possível compreender os estragos da bomba atômica. Mais difícil é entender o significado da vida”. Eu apenas substituiria a palavra “difícil”, por esta outra: “impossível”. Afinal, há milênios, notáveis filósofos vêm procurando, em vão, essa explicação, se é que ela existe.

A compreensão do intrincado mecanismo da vida, se já não é completa, está próxima disso. Fica a cada dia fica mais clara, por exemplo, dados os avanços da ciência, notadamente da genética. A morfologia e o funcionamento das células, tecidos, órgãos, aparelhos e organismos vivos já perderam quase todos seus mistérios. Cientistas já mapearam a totalidade do genoma humano e estão habilitados a prevenir doenças dos fetos ainda no ventre materno. Bebês de proveta há muito deixaram de ser novidade. A engenharia genética já é capaz de mesclar características de diferentes espécies numa só (os transgênicos) ou de clonar qualquer um de nós, partindo de quaisquer das nossas células, não mais necessariamente as da reprodução natural. Porém... no que se refere aos objetivos da vida, a ciência, e sua “mãe”, a Filosofia, continuam “no escuro”. Sequer se aproximaram de alguma conclusão minimamente lógica.

Há quem faça desse questionamento interminável matéria-prima de sua arte, não importa qual. Confesso que sou um deles. Para uns, o objetivo prioritário da vida é conquistar esse estado ideal de espírito chamado de “felicidade”. Para outros,  viver significa competir e vencer as competições, não importa quais e nem como obter esse sucesso. Para terceiros (suponho que a maioria) a finalidade da sua existência é o acúmulo de bens, é  deter riquezas, é contar com poder e é satisfazer os sentidos. Há ainda outra corrente, talvez composta por pessoas um pouco mais sensatas, que impõe como objetivo para suas vidas o processo inverso dos chamados materialistas: o de deixar algum legado, em obras –  materiais, artísticas ou espirituais –, idéias ou exemplos.

Para o filósofo norte-americano, Ralph Waldo Emerson, a felicidade não deve ser levada em conta nessa questão. Tanto que ele escreveu, em um de seus tantos ensaios: “O objetivo da vida não é ser feliz. É ser útil, honrado, compassivo, fazendo com que nossa vida, bem vivida, faça alguma diferença”. Para compreender sua postura, tem que se levar em conta que o referido pensador era “puritano”, que entendia que o sofrimento era algo necessário para purgarmos um suposto “pecado original”, com o que discordo. Concluo estas descompromissadas reflexões com as palavras com que concluí artigo que publiquei no jornal “Correio Popular” de Campinas, em 28 de março de 1991 sobre o mesmo tema:

“Teorias para explicar os objetivos e, sobretudo, o significado da vida, abundam, a maioria de caráter esotérico, usando jargões próprios para os ‘iniciados’ (ou tolos?), com expressões complicadíssimas, num arremedo de sabedoria, que no final das contas não passa de estupidez, que pouco ou nada significam. Não passam de fantasias delirantes, de engodos e de empulhações. Mas sempre contam com hordas de fanáticos seguidores. O verdadeiro e, sobretudo, o belo, são simples. A beleza está na simplicidade. E embora o homem seja incapaz de entender o significado da vida (e talvez por isso mesmo), com que facilidade ele a suprime! Inventa máquinas sofisticadíssimas de assassinatos em massa, dizima espécies e mais espécies de animais e vegetais (que um dia lhe farão muita falta) e elabora, com extremo cinismo, pomposas, mas abstratas, justificações para o injustificável: as guerras!

Apesar do ‘disfarce’ de modernidade, portanto, não passamos do primitivo animal, dito racional, que apenas trocou as cavernas primitivas por mansões, apartamentos ou casebres em infectas favelas de superpopulosas e violentas cidades”. Ao fim e ao cabo, endosso a perplexidade do poeta francês Paul Claudel, que trouxe à baila, nesse contexto, sábia e pertinente indagação que talvez tenha em si a própria resposta: “Será que o objetivo da vida é viver?” Será?!!!!


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