Será que o objetivo da
vida é viver?
Pedro
J. Bondaczuk
O “pai” da Teoria da
Relatividade, Albert Einstein – físico alemão que revolucionou as ciências,
tido e havido como um dos maiores gênios que a humanidade já conheceu –
escreveu, em determinado trecho do seu livro “Como vejo o mundo”, em tom de
conselho: “Se quiser ter uma vida plena prenda-a a um objetivo, não às pessoas
nem às coisas”. Cá para nós, será que as coisas, então, são tão simples, como o
eminente cientista afirmou? Basta que você se auto-imponha determinada meta a
alcançar para que se sinta realizado e justifique sua presença no mundo?
Desconfio que não. Ademais, quem sabe o objetivo de ter sido o “escolhido” (e,
convenhamos,aleatoriamente) pela natureza para viver?
Todavia, qual é a razão
de sermos nós, especificamente, os convocados para esta aventura fascinante,
mas perigosa e incerta, e não outra combinação qualquer de espermatozóide e
óvulo? Existe alguma? Qual? Qual a verdadeira finalidade da vida? Existe
alguma? Há uma única? São várias? Por
que os seres – animais ou vegetais, não importa – nascem, se desenvolvem e se
reproduzem, se estão, irremediavelmente, condenados a morrer? Não seria um
desperdício? Há vida em outras partes do Universo? Caso a resposta seja
afirmativa, onde? E mais, nessa mesma hipótese, ela é igual, semelhante ou diferente
da existente na Terra? São perguntas, perguntas e mais perguntas, infinitas
delas, sem respostas adequadas ou sequer satisfatórias...
Escrevi muito sobre
este tema – e o leitor que me é fiel e não apenas ocasional, é testemunha –
possivelmente não com estas mesmas palavras, mas com outras semelhantes e com o
mesmo sentido, sem que sequer me aproximasse de uma conclusão minimamente
lógica e verossímil. Não creio que haja alguém capaz de responder a estas
questões. Em outro texto sobre o mesmo assunto, citei esta declaração do
fotógrafo e pintor luxemburguês (que fez carreira nos Estados Unidos), Edward
Steichen, que expressa a mesma perplexidade que tenho a respeito: “´É possível
compreender os estragos da bomba atômica. Mais difícil é entender o significado
da vida”. Eu apenas substituiria a palavra “difícil”, por esta outra:
“impossível”. Afinal, há milênios, notáveis filósofos vêm procurando, em vão,
essa explicação, se é que ela existe.
A compreensão do
intrincado mecanismo da vida, se já não é completa, está próxima disso. Fica a
cada dia fica mais clara, por exemplo, dados os avanços da ciência, notadamente
da genética. A morfologia e o funcionamento das células, tecidos, órgãos,
aparelhos e organismos vivos já perderam quase todos seus mistérios. Cientistas
já mapearam a totalidade do genoma humano e estão habilitados a prevenir
doenças dos fetos ainda no ventre materno. Bebês de proveta há muito deixaram
de ser novidade. A engenharia genética já é capaz de mesclar características de
diferentes espécies numa só (os transgênicos) ou de clonar qualquer um de nós,
partindo de quaisquer das nossas células, não mais necessariamente as da
reprodução natural. Porém... no que se refere aos objetivos da vida, a ciência,
e sua “mãe”, a Filosofia, continuam “no escuro”. Sequer se aproximaram de
alguma conclusão minimamente lógica.
Há quem faça desse
questionamento interminável matéria-prima de sua arte, não importa qual.
Confesso que sou um deles. Para uns, o objetivo prioritário da vida é
conquistar esse estado ideal de espírito chamado de “felicidade”. Para
outros, viver significa competir e
vencer as competições, não importa quais e nem como obter esse sucesso. Para
terceiros (suponho que a maioria) a finalidade da sua existência é o acúmulo de
bens, é deter riquezas, é contar com
poder e é satisfazer os sentidos. Há ainda outra corrente, talvez composta por
pessoas um pouco mais sensatas, que impõe como objetivo para suas vidas o
processo inverso dos chamados materialistas: o de deixar algum legado, em obras
– materiais, artísticas ou espirituais
–, idéias ou exemplos.
Para o filósofo
norte-americano, Ralph Waldo Emerson, a felicidade não deve ser levada em conta
nessa questão. Tanto que ele escreveu, em um de seus tantos ensaios: “O
objetivo da vida não é ser feliz. É ser útil, honrado, compassivo, fazendo com
que nossa vida, bem vivida, faça alguma diferença”. Para compreender sua
postura, tem que se levar em conta que o referido pensador era “puritano”, que
entendia que o sofrimento era algo necessário para purgarmos um suposto “pecado
original”, com o que discordo. Concluo estas descompromissadas reflexões com as
palavras com que concluí artigo que publiquei no jornal “Correio Popular” de
Campinas, em 28 de março de 1991 sobre o mesmo tema:
“Teorias
para explicar os objetivos e, sobretudo, o significado da vida, abundam, a
maioria de caráter esotérico, usando jargões próprios para os ‘iniciados’ (ou
tolos?), com expressões complicadíssimas, num arremedo de sabedoria, que no
final das contas não passa de estupidez, que pouco ou nada significam. Não
passam de fantasias delirantes, de engodos e de empulhações. Mas sempre contam
com hordas de fanáticos seguidores. O verdadeiro e, sobretudo, o belo, são
simples. A beleza está na simplicidade. E embora o homem seja incapaz de
entender o significado da vida (e talvez por isso mesmo), com que facilidade
ele a suprime! Inventa máquinas sofisticadíssimas de assassinatos em massa,
dizima espécies e mais espécies de animais e vegetais (que um dia lhe farão
muita falta) e elabora, com extremo cinismo, pomposas, mas abstratas,
justificações para o injustificável: as guerras!
Apesar
do ‘disfarce’ de modernidade, portanto, não passamos do primitivo animal, dito
racional, que apenas trocou as cavernas primitivas por mansões, apartamentos ou
casebres em infectas favelas de superpopulosas e violentas cidades”.
Ao fim e ao cabo, endosso a perplexidade do poeta francês Paul Claudel, que
trouxe à baila, nesse contexto, sábia e pertinente indagação que talvez tenha
em si a própria resposta: “Será que o objetivo da vida é viver?” Será?!!!!
No comments:
Post a Comment