Demagogia e invasões
Pedro J. Bondaczuk
O
homem contemporâneo está invertendo o processo de dispersão populacional
ocorrido na bíblica Babel, quando as línguas foram confundidas para que as
pessoas não se entendessem e não permanecessem concentradas em um único lugar.
As
grandes cidades, com populações superiores a um milhão de habitantes,
multiplicam-se mundo afora, em especial na Ásia e na América Latina,
degradando, na proporção direta desse crescimento, a qualidade de vida de seus
moradores.
Políticos
sem muito critério, provavelmente de olho apenas na quantidade de vagas geradas
nas Câmaras Municipais pelo fator populacional, ou em outros índices
eleitorais, estimulam o êxodo do campo para as zonas urbanas.
Invasões
de terras públicas dos municípios, para a construção de favelas, são não apenas
toleradas, mas sutilmente incentivadas, com a legalização das propriedades
invadidas. Concordamos com a leitora Vicentina Rivera, que através de carta,
com opiniões sensatas e bem fundamentadas, pede "medidas drásticas"
para evitar que cidades como Campinas (que há somente 30 anos tinha pouco mais
de 100 mil moradores) continuem com o processo de deterioração na qualidade de
vida.
Excesso
de habitantes está longe de ser indicativo de progresso, como determinadas
pessoas ainda pensam. Fosse assim, Bombaim, Calcutá e Nova Delhi, na Índia,
seriam pujantes metrópoles, pólos irradiadores de riqueza e civilização e não
os guetos de miséria que realmente são.
A
leitora citada, de 67 anos (portanto dotada daquela maturidade que ressalta a
sabedoria e que só o tempo dá às pessoas que mantêm a inteligência ativa),
embora ressaltando que tem "pena dos que não podem ter casa ou
terra", condena as invasões e lembra, com propriedade, que elas são
ilegais.
Sob
o pretexto de se resolver um problema, o habitacional, na verdade acabam sendo
gerados inúmeros outros, cuja solução demanda recursos de que o País não
dispõe. Não seria mais lógico, humano e racional estipular uma política
agrária, pragmática, sem demagogia ou populismo, que fixasse o morador das
zonas rurais no campo?
Sem
terra e sem teto, ressalte-se, não são apenas esses camponeses despreparados,
que vêm se aventurar nas grandes cidades. Há milhões de médicos, advogados,
engenheiros, professores, etc., que também o são. Já imaginaram se cada
brasileiro que não tiver um pedaço de chão para erguer sua casa cismasse de
invadir propriedade alheia?! Seria o caos!!
(Artigo
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 22 de maio de 1994).
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