Saturday, March 26, 2016

Demagogia e invasões



Pedro J. Bondaczuk


O homem contemporâneo está invertendo o processo de dispersão populacional ocorrido na bíblica Babel, quando as línguas foram confundidas para que as pessoas não se entendessem e não permanecessem concentradas em um único lugar.

As grandes cidades, com populações superiores a um milhão de habitantes, multiplicam-se mundo afora, em especial na Ásia e na América Latina, degradando, na proporção direta desse crescimento, a qualidade de vida de seus moradores.

Políticos sem muito critério, provavelmente de olho apenas na quantidade de vagas geradas nas Câmaras Municipais pelo fator populacional, ou em outros índices eleitorais, estimulam o êxodo do campo para as zonas urbanas.

Invasões de terras públicas dos municípios, para a construção de favelas, são não apenas toleradas, mas sutilmente incentivadas, com a legalização das propriedades invadidas. Concordamos com a leitora Vicentina Rivera, que através de carta, com opiniões sensatas e bem fundamentadas, pede "medidas drásticas" para evitar que cidades como Campinas (que há somente 30 anos tinha pouco mais de 100 mil moradores) continuem com o processo de deterioração na qualidade de vida.

Excesso de habitantes está longe de ser indicativo de progresso, como determinadas pessoas ainda pensam. Fosse assim, Bombaim, Calcutá e Nova Delhi, na Índia, seriam pujantes metrópoles, pólos irradiadores de riqueza e civilização e não os guetos de miséria que realmente são.

A leitora citada, de 67 anos (portanto dotada daquela maturidade que ressalta a sabedoria e que só o tempo dá às pessoas que mantêm a inteligência ativa), embora ressaltando que tem "pena dos que não podem ter casa ou terra", condena as invasões e lembra, com propriedade, que elas são ilegais.

Sob o pretexto de se resolver um problema, o habitacional, na verdade acabam sendo gerados inúmeros outros, cuja solução demanda recursos de que o País não dispõe. Não seria mais lógico, humano e racional estipular uma política agrária, pragmática, sem demagogia ou populismo, que fixasse o morador das zonas rurais no campo?

Sem terra e sem teto, ressalte-se, não são apenas esses camponeses despreparados, que vêm se aventurar nas grandes cidades. Há milhões de médicos, advogados, engenheiros, professores, etc., que também o são. Já imaginaram se cada brasileiro que não tiver um pedaço de chão para erguer sua casa cismasse de invadir propriedade alheia?! Seria o caos!!


(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 22 de maio de 1994).



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