Sunday, March 13, 2016

Gafe de Dukakis


Pedro J. Bondaczuk


O candidato presidencial norte-americano Michael Dukakis, que disputa a postulação democrata para enfrentar George Bush nas eleições de 8 de novembro próximo, cometeu, ontem, uma grande gafe, numa entrevista que concedeu ao jornal “New York Daily News”. Disse que se for presidente dos Estados Unidos, e a União Soviética invadir a Europa Ocidental, mesmo que seja com armas convencionais, ele poderia recorrer à força nuclear contra os russos. Ou seja, manifestou que o seu país seria o primeiro a lançar mão desse medonho poder de destruição.

É verdade que ele condicionou o uso desse imenso poderio dizendo que o faria “com moderação e somente quando não houver outra alternativa”. Resta saber o que Dukakis entende como “retaliação nuclear moderada”. E se o outro lado, o que for atingido pelas ogivas prenunciadoras do “doomsday” (Juízo Final) vai entender assim, ou se, pelo contrário, despejará toda a sua capacidade de fogo sobre os Estados Unidos.

O leitor que assistiu no Sábado o filme “The Day After”, exibido pela Rede Globo, deve estar lembrado que ali o ataque também ocorreu em circunstâncias como a preconizada pelo governador de Massachusetts, em sua infeliz entrevista de ontem.

Os soviéticos haviam invadido Berlim Oriental e ameaçavam avançar. Aí, o presidente dos Estados Unidos retaliou nuclearmente. As conseqüências valeram a pena? A atitude norte-americana construiu alguma coisa, além de ruínas e desolação? Resolveu alguém mais curioso ter inquirido quem fez o primeiro ataque?

E ressalte-se que um confronto nuclear seria, certamente, muito mais dramático e terrível do que o filme mostrou. O mundo todo ficaria sem comunicações. Todas as memórias de computador seriam apagadas. Ninguém conseguiria saber (podendo apenas supor) o que aconteceu a Moscou, Roma, Paris, Bruxelas, Londres, Amsterdam...Ou mesmo numa cidade vizinha à sua. Nenhum motor funcionaria. Não existiria transporte. Haveria, somente, choro, dor, gemidos e lamentações. E mortes, muitas mortes.

Outro ponto a considerar diz respeito às alternativas. Quando não existe outra, a não ser a atômica? É um conceito vago demais para expor a sobrevivência da humanidade a ele. O pensamento de Dukakis é muito louco para tempos tão perigosos, como os nossos.

Não foi por acaso que o senador sulista, Albert Gore, que por sinal não é nenhum anjinho pacifista, se assustou com esses comentários, ao ponto de os classificar, com inteira justiça, de “imprudentes e irresponsáveis”.

Depois desta, os eleitores norte-americanos terão que pensar duas vezes antes da escolha do seu candidato. Se optarem por Dukakis, não poderão dizer, no futuro, quando os mísseis inimigos começarem a chover sobre as suas cabeças, que não foram consultados sobre a guerra nuclear. Eles estão sendo agora, pelo governador de Massachusetts.

(Artigo publicado na página 10, Internacional, do Correio Popular, em 14 de abril de 1988).

  

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