Gafe
de Dukakis
Pedro J. Bondaczuk
O candidato presidencial norte-americano Michael Dukakis,
que disputa a postulação democrata para enfrentar George Bush nas eleições de 8
de novembro próximo, cometeu, ontem, uma grande gafe, numa entrevista que concedeu
ao jornal “New York Daily News”. Disse que se for presidente dos Estados
Unidos, e a União Soviética invadir a Europa Ocidental, mesmo que seja com
armas convencionais, ele poderia recorrer à força nuclear contra os russos. Ou
seja, manifestou que o seu país seria o primeiro a lançar mão desse medonho
poder de destruição.
É verdade que ele condicionou o uso desse imenso
poderio dizendo que o faria “com moderação e somente quando não houver outra
alternativa”. Resta saber o que Dukakis entende como “retaliação nuclear
moderada”. E se o outro lado, o que for atingido pelas ogivas prenunciadoras do
“doomsday” (Juízo Final) vai entender assim, ou se, pelo contrário, despejará
toda a sua capacidade de fogo sobre os Estados Unidos.
O leitor que assistiu no Sábado o filme “The Day
After”, exibido pela Rede Globo, deve estar lembrado que ali o ataque também
ocorreu em circunstâncias como a preconizada pelo governador de Massachusetts,
em sua infeliz entrevista de ontem.
Os soviéticos haviam invadido Berlim Oriental e
ameaçavam avançar. Aí, o presidente dos Estados Unidos retaliou nuclearmente.
As conseqüências valeram a pena? A atitude norte-americana construiu alguma
coisa, além de ruínas e desolação? Resolveu alguém mais curioso ter inquirido
quem fez o primeiro ataque?
E ressalte-se que um confronto nuclear seria,
certamente, muito mais dramático e terrível do que o filme mostrou. O mundo
todo ficaria sem comunicações. Todas as memórias de computador seriam apagadas.
Ninguém conseguiria saber (podendo apenas supor) o que aconteceu a Moscou,
Roma, Paris, Bruxelas, Londres, Amsterdam...Ou mesmo numa cidade vizinha à sua.
Nenhum motor funcionaria. Não existiria transporte. Haveria, somente, choro,
dor, gemidos e lamentações. E mortes, muitas mortes.
Outro ponto a considerar diz respeito às
alternativas. Quando não existe outra, a não ser a atômica? É um conceito vago
demais para expor a sobrevivência da humanidade a ele. O pensamento de Dukakis
é muito louco para tempos tão perigosos, como os nossos.
Não foi por acaso que o senador sulista, Albert
Gore, que por sinal não é nenhum anjinho pacifista, se assustou com esses
comentários, ao ponto de os classificar, com inteira justiça, de “imprudentes e
irresponsáveis”.
Depois desta, os eleitores norte-americanos terão
que pensar duas vezes antes da escolha do seu candidato. Se optarem por
Dukakis, não poderão dizer, no futuro, quando os mísseis inimigos começarem a
chover sobre as suas cabeças, que não foram consultados sobre a guerra nuclear.
Eles estão sendo agora, pelo governador de Massachusetts.
(Artigo publicado na
página 10, Internacional, do Correio Popular, em 14 de abril de 1988).
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