De olho nas eleições
Pedro J. Bondaczuk
O presidente
norte-americano, Ronald Reagan, atravessou seus dois mandatos com duas grandes
fixações, que dificilmente vão ser sustentadas por seu sucessor, seja ele quem
for: o escudo espacial, conhecido popularmente como “guerra nas estrelas” e sua
repulsa pelo regime sandinista da Nicarágua, que ele tentou de todas as formas
derrubar.
Quanto
à primeira questão, o eleitorado dos Estados Unidos jamais se manifestou
contrário ou favorável. Muitos sequer têm a mínima noção, nesse país, do que o
programa signifique, embora deva consumir nada menos do que US$ 1 trilhão
(quase 25% do Produto Interno Bruto da potência mais rica do Planeta).
Há,
inclusive, cientistas sérios, de grande renome, que não acreditam na viabilidade
do projeto. Para eles, a Iniciativa de Defesa Estratégica não passa de
fantasia, tanto quanto é o seu apelido.
Já
sobre a ajuda aos anti-sandinistas, as pesquisas refletem que a maioria dos
norte-americanos não se mostra tão indiferente assim. A última consulta,
divulgada na semana passada, mostrou que 60% dos ouvidos acham que Reagan não
deveria continuar financiando os “contras”.
Ademais,
há um processo de pacificação, encabeçado pelo Prêmio Nobel da Paz de 1987, o
costarriquenho Oscar Arias Sanchez, em andamento. As partes em conflito na
Nicarágua estão mantendo diálogo direto em busca, pelo menos, de um
cessar-fogo.
A
interferência da Casa Branca, portanto, seria não somente indevida (como sempre
foi), mas sumamente inoportuna neste momento crucial para que o acordo
Esquipulas-II, firmado em 7 de agosto do ano passado na Guatemala, funcione ou
não.
Provavelmente,
os congressistas estão de olho nessas pesquisas, para não se disporem a aprovar
mais US$ 36,2 milhões para os anti-sandinistas, conforme Reagan pede. Afinal,
este é um ano eleitoral, portanto, de se “pisar em ovos” perante a opinião
pública norte-americana.
Para
o presidente, tanto faz como tanto fez que os eleitores aprovem ou não a sua
política para a América Central. Seu objetivo no governo ele certamente já
satisfez, que foi o de passar para a história como “pacificador”. Apenas a
assinatura do acordo para a eliminação de mísseis de curta e média distância,
que ele realizou junto com Mikhail Gorbachev, em 8 de dezembro passado, foi suficiente
para que no futuro venha a ser lembrado como um “cavaleiro da paz”.
O
povo esquece facilmente tudo. Em pouco tempo, a invasão de Granada, o ataque à
Líbia e outras atitudes belicosas de sua responsabilidade serão “apagadas” de
seu currículo. Ficará, apenas, o lado positivo. Candidato ele não pode ser e
nem será mais. Quem, contudo, vai ter que enfrentar as urnas, não pode jamais
esquecer que “vox populi, vox Dei”. Por isso, se a ajuda aos “contras” vier a
ser aprovada, certamente não vai ser uma de caráter militar. É esperar para
ver.
(Artigo
publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 3 de fevereiro de
1988).
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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