Friday, March 04, 2016

De olho nas eleições


Pedro J. Bondaczuk


O presidente norte-americano, Ronald Reagan, atravessou seus dois mandatos com duas grandes fixações, que dificilmente vão ser sustentadas por seu sucessor, seja ele quem for: o escudo espacial, conhecido popularmente como “guerra nas estrelas” e sua repulsa pelo regime sandinista da Nicarágua, que ele tentou de todas as formas derrubar.

Quanto à primeira questão, o eleitorado dos Estados Unidos jamais se manifestou contrário ou favorável. Muitos sequer têm a mínima noção, nesse país, do que o programa signifique, embora deva consumir nada menos do que US$ 1 trilhão (quase 25% do Produto Interno Bruto da potência mais rica do Planeta).

Há, inclusive, cientistas sérios, de grande renome, que não acreditam na viabilidade do projeto. Para eles, a Iniciativa de Defesa Estratégica não passa de fantasia, tanto quanto é o seu apelido.

Já sobre a ajuda aos anti-sandinistas, as pesquisas refletem que a maioria dos norte-americanos não se mostra tão indiferente assim. A última consulta, divulgada na semana passada, mostrou que 60% dos ouvidos acham que Reagan não deveria continuar financiando os “contras”.

Ademais, há um processo de pacificação, encabeçado pelo Prêmio Nobel da Paz de 1987, o costarriquenho Oscar Arias Sanchez, em andamento. As partes em conflito na Nicarágua estão mantendo diálogo direto em busca, pelo menos, de um cessar-fogo.

A interferência da Casa Branca, portanto, seria não somente indevida (como sempre foi), mas sumamente inoportuna neste momento crucial para que o acordo Esquipulas-II, firmado em 7 de agosto do ano passado na Guatemala, funcione ou não.

Provavelmente, os congressistas estão de olho nessas pesquisas, para não se disporem a aprovar mais US$ 36,2 milhões para os anti-sandinistas, conforme Reagan pede. Afinal, este é um ano eleitoral, portanto, de se “pisar em ovos” perante a opinião pública norte-americana.

Para o presidente, tanto faz como tanto fez que os eleitores aprovem ou não a sua política para a América Central. Seu objetivo no governo ele certamente já satisfez, que foi o de passar para a história como “pacificador”. Apenas a assinatura do acordo para a eliminação de mísseis de curta e média distância, que ele realizou junto com Mikhail Gorbachev, em 8 de dezembro passado, foi suficiente para que no futuro venha a ser lembrado como um “cavaleiro da paz”.

O povo esquece facilmente tudo. Em pouco tempo, a invasão de Granada, o ataque à Líbia e outras atitudes belicosas de sua responsabilidade serão “apagadas” de seu currículo. Ficará, apenas, o lado positivo. Candidato ele não pode ser e nem será mais. Quem, contudo, vai ter que enfrentar as urnas, não pode jamais esquecer que “vox populi, vox Dei”. Por isso, se a ajuda aos “contras” vier a ser aprovada, certamente não vai ser uma de caráter militar. É esperar para ver.

(Artigo publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 3 de fevereiro de 1988).


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