Início de nova era: das
trevas à luz
Pedro
J. Bondaczuk
O mais famoso e acatado
ensaísta norte-americano, Henry David Thoreau – tido e havido como o inspirador
do pai da independência indiana, Mohandas Karamanchand Gandhi, na tática de
resistência pacífica a desmandos de governos, que redundou no surgimento da
Índia atual, soberana e independente – escreveu, em um de seus tantos e
memoráveis ensaios: “Muitos homens iniciaram uma nova era na sua vida a partir
da leitura de um livro”. Muitas pessoas, as que não têm o hábito de ler e que
tiram conclusões apressadas, afoitas, sem maiores reflexões (ou mesmo sem
nenhuma), certamente acharão essa declaração exagerada. Dirão, no mínimo, que
ela é meramente retórica.
A citação acima pode
até parecer, á primeira vista, fruto de exagero do ilustre ensaísta. Mas... não
é. A leitura de livros mudou, e para infinitamente melhor, não somente a vida
de milhões, quiçá bilhões de pessoas, mundo e tempo afora, como acelerou de
forma espantosa o progresso dos povos. Pode-se demonstrar que é uma das
principais responsáveis pelo avançado estágio da atual civilização.
Convenhamos, se ela não é um primor (e não é mesmo) e se está muito distante do
minimamente desejável, é muitos, muitíssimos furos melhor do a de apenas parcos
pares de anos, um ou dois séculos atrás se tanto. Basta raciocinar só um
pouquinho para se chegar a esta óbvia conclusão.
A humanidade permaneceu
ágrafa por milênios e milênios sem conta. Quantos? É impossível sequer de se
estimar, quanto mais quantificar, por total e absoluta ausência de registros,
que nem poderiam existir, pelo simples e lógico fato da inexistência de algum
sistema de escrita, mesmo que rudimentar. Por um tempo imenso, predominou,
pois, única e tão somente, a tradição oral, para a transmissão de descobertas,
histórias, pensamentos, sentimentos etc.etc.etc. Ou seja, as várias comunidades
(que nem mesmo eram tantas) dependiam exclusivamente da memória das pessoas –
cuja fragilidade sequer é preciso destacar – para preservar o pouco que era
possível. E, assim mesmo, o que teria
sobrevivido (se é que algo deixou de se perder), seria truncado,
corrompido, alterado, muito diferente do original.
É pura questão de
lógica. Nossos remotos ancestrais não eram gênios (pois se o fossem, teriam
inventado, antes, algum tipo de escrita, que não inventaram, não é mesmo?). O
primeiro conjunto de símbolos que se pode chamar de “alfabeto” que se conhece
com alguma certeza são as “Tábuas Tártaras”, descobertas na Romênia. Elas datam
de em torno de 5.500 a.C., de acordo com o método de datação do Carbono 14. Não
houve nenhum outro anterior? Como saber?! Suponho que tenha existido. E talvez
muitos. Mas... se existiram, perderam-se, por completo, nas brumas do tempo.
Hoje, a maioria dos historiadores “aceita” que uma escrita verdadeira, que não
se limitasse a somente números, teria sido “inventada”, de forma independente,
em duas regiões do mundo separadas uma da outra por todo um continente. Ou
seja, na Mesopotâmia (atual Iraque), mais especificamente na Suméria, em torno
de 3.200 a.C. e na América Central, mas dois milênios e meio depois, em 700
a.C.
Essa, porém, é uma
discussão que não tem fim. E refere-se, apenas, à escrita no Ocidente. É mais
do que provável, no entanto, que haja algum método bastante anterior, de um par
de milênios, no Oriente, sobretudo na China e na Índia, que dispunham, como a
arqueologia comprova fartamente, civilizações relativamente muito avançadas,
antes que os ocidentais deixassem as cavernas primitivas. Há historiadores, por
exemplo, que afirmam terem argumentos para comprovar que no Egito foi criado um
sistema inteligente e coerente de escrita, e de forma independente das demais
regiões, por volta de 3.200 a.C. Todavia, da mesma forma que os arqueólogos
descobriram as Tábuas Tártaras na Romênia, datadas por volta de 5.500 a.C., não
ficarei nada surpreso se amanhã for anunciada a descoberta de uma forma de
escrita muitíssimo mais antiga que não proceda da Suméria, da China, da América
Central ou do Egito.
Dos bilhões de seres
humanos que já existiram no Planeta desde o surgimento da nossa espécie
(quantos? Vinte? Cinquenta? Cem? Mais? Menos? Como saber?), a lógica me induz à
conclusão que pelo menos 90% foram rigorosamente analfabetos. Jamais conseguiram
assimilar os símbolos que constituíam os alfabetos criados, muito menos as
palavras, frases, orações etc. que sua combinação formava para compor
raciocínios lógicos. Exagero? Nem tanto! Basta atentar que, há só menos de três
séculos, a hoje cultíssima Europa dispunha de uma população de analfabetos que
girava em torno de 80%. Tudo isso, apenas enfatiza a importância do livro, que
há apenas duzentos anos, era produto bastante raro, e caro, por razões que me
proponho a apresentar oportunamente. E não pensem que ele surgiu
simultaneamente à invenção da escrita. Longe disso. Está claro que não. Como
está claríssimo que seu surgimento deu início a nova era, que ainda está em
andamento e que não sabemos onde vai dar. Mas este é um assunto que fica para
outra vez.
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