Alicerce pronto, falta a casa
Pedro J.
Bondaczuk
A situação do Brasil contemporâneo lembra muito a daquele
cidadão que tinha um terreno com razoável porte, num lugar que não dispunha de
infra-estrutura e desejava, mesmo sem poder, erguer ali uma mansão.
Necessitava aplainar o local em
alguns pontos, aterrar em outros, para que o local se tornasse apropriado para
a construção. Tinha que fazer uma obra aqui, outra ali, para utilizar a fonte
de água que possuía. Além disso, precisava preparar um lugar para jogar os
dejetos. Mas faltava dinheiro para tudo isso.
Nosso cidadão não teve dúvidas:
foi a vários bancos, ofereceu todas as garantias necessárias, submeteu-se a
todas as exigências requeridas e obteve os financiamentos que tanto queria. É
verdade que o empréstimo foi tomado em situação desvantajosa.
Dinheiro nas mãos, foi só começar
a obra. Durante um tempo prolongado, enquanto os recursos não se acabaram, ele
partiu para a elaboração de uma infra-estrutura da mansão. Nem sempre, porém,
foi prudente nos gastos do capital alheio. Muitas vezes descambou para a
suntuosidade, o luxo até, esquecido de que logo teria que fazer o pagamento.
Por ironia, o montante emprestado acabou sendo a conta exata apenas para o
trabalho de base.
O alicerce estava pronto, mas...não
era suficiente o dinheiro que tinha para erguer a mansão. Não durou muito
tempo, os credores passaram a pressionar para receber o pagamento, com os
correspondentes leoninos juros – cujas taxas, contratualmente, seriam
determinadas por eles – comissões, seguros e outras coisinhas mais. E o nosso
cidadão teve que suspender as obras, mesmo com toda a infra-estrutura já
pronta, por absoluta falta de recursos.
Algo idêntico aconteceu com o
Brasil. O escritor Viana Moog, em seu livro “Pioneiros e Bandeirantes”, mostra
que a natureza, ao contrário do que se pensa, não foi tão pródiga assim com
nosso País. Por exemplo, o litoral tem diante de si grandes montanhas,
atrapalhando a colonização do interior.
Os rios são, na maioria,
encachoeirados, tornando a navegação fluvial uma aventura. O solo é fértil em
apenas 50% do território. Para promover o desenvolvimento, portanto, se fazia
necessário investir em infra-estrutura capitais que não tínhamos. Eles foram
tomados emprestados para financiar Brasília, Três Marias, Furnas, Ilha
Solteira, Itaipu, etc.,etc., etc.
Tudo isso era preciso, mas talvez
não do porte que saiu ou para tantas obras simultâneas. De qualquer forma, o
terreno foi aplainado. Mas na hora de erguer a mansão – no caso, de deflagrar a
corrida para o desenvolvimento – cadê os dólares? As más condições da tomada
dos empréstimos estão fazendo com que, ao invés de entrarem, eles saiam cada
vez em maior quantidade! Até quando?
(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 24 de julho
de 1990).
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