Saturday, March 12, 2016

Alicerce pronto, falta a casa


Pedro J. Bondaczuk


A situação do Brasil contemporâneo lembra muito a daquele cidadão que tinha um terreno com razoável porte, num lugar que não dispunha de infra-estrutura e desejava, mesmo sem poder, erguer ali uma mansão.

Necessitava aplainar o local em alguns pontos, aterrar em outros, para que o local se tornasse apropriado para a construção. Tinha que fazer uma obra aqui, outra ali, para utilizar a fonte de água que possuía. Além disso, precisava preparar um lugar para jogar os dejetos. Mas faltava dinheiro para tudo isso.

Nosso cidadão não teve dúvidas: foi a vários bancos, ofereceu todas as garantias necessárias, submeteu-se a todas as exigências requeridas e obteve os financiamentos que tanto queria. É verdade que o empréstimo foi tomado em situação desvantajosa.

Dinheiro nas mãos, foi só começar a obra. Durante um tempo prolongado, enquanto os recursos não se acabaram, ele partiu para a elaboração de uma infra-estrutura da mansão. Nem sempre, porém, foi prudente nos gastos do capital alheio. Muitas vezes descambou para a suntuosidade, o luxo até, esquecido de que logo teria que fazer o pagamento. Por ironia, o montante emprestado acabou sendo a conta exata apenas para o trabalho de base.

O alicerce estava pronto, mas...não era suficiente o dinheiro que tinha para erguer a mansão. Não durou muito tempo, os credores passaram a pressionar para receber o pagamento, com os correspondentes leoninos juros – cujas taxas, contratualmente, seriam determinadas por eles – comissões, seguros e outras coisinhas mais. E o nosso cidadão teve que suspender as obras, mesmo com toda a infra-estrutura já pronta, por absoluta falta de recursos.

Algo idêntico aconteceu com o Brasil. O escritor Viana Moog, em seu livro “Pioneiros e Bandeirantes”, mostra que a natureza, ao contrário do que se pensa, não foi tão pródiga assim com nosso País. Por exemplo, o litoral tem diante de si grandes montanhas, atrapalhando a colonização do interior.

Os rios são, na maioria, encachoeirados, tornando a navegação fluvial uma aventura. O solo é fértil em apenas 50% do território. Para promover o desenvolvimento, portanto, se fazia necessário investir em infra-estrutura capitais que não tínhamos. Eles foram tomados emprestados para financiar Brasília, Três Marias, Furnas, Ilha Solteira, Itaipu, etc.,etc., etc.

Tudo isso era preciso, mas talvez não do porte que saiu ou para tantas obras simultâneas. De qualquer forma, o terreno foi aplainado. Mas na hora de erguer a mansão – no caso, de deflagrar a corrida para o desenvolvimento – cadê os dólares? As más condições da tomada dos empréstimos estão fazendo com que, ao invés de entrarem, eles saiam cada vez em maior quantidade! Até quando?

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 24 de julho de 1990).


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