Monday, February 16, 2015

Todos no mesmo barco


Pedro J. Bondaczuk


O presidente norte-americano George Bush reviveu, ontem, os grandes tempos do saudoso John Kennedy, ao propor ao seu povo um novo desafio, durante as comemorações do 20º aniversário do primeiro passo dado por um homem (no caso o astronauta Neil Armstrong, da Apolo 11) num outro mundo. Ou seja, no satélite natural da Terra.

Ele propôs um esforço concentrado para a reconquista da Lua, desta feita em caráter permanente, para construir, ali, uma base que permita a ida de pessoas ao planeta Marte. Coincidentemente, nesse mesmo dia, a Câmara dos Deputados apreciava proposta de um parlamentar republicano, de corte nas verbas da Nasa, para a construção da estação orbital “Freedom”, essencial para os dois outros projetos.

Mostrando que suas palavras de fé na capacidade empreendedora do homem eram capazes de contagiar seu povo, Bush teve a satisfação de ver a medida rejeitada pelos legisladores. Se há algo que mereça ser cortado, para enxugar o orçamento norte-americano, este é o insensato programa conhecido como “guerra nas estrelas” e não a conquista espacial.

Em primeiro lugar, por ser utópico e inviável. Em segundo, porque os tempos atuais são de distensão e de desarmamento e não comportam mais planos que objetivem militarizar o espaço. E, em terceiro, principalmente, pelo dispêndio absurdo de NCz$ 1,4 trilhão, mais do que a totalidade da dívida externa do Terceiro Mundo e dez vezes o custo integral do Projeto Apolo.

Quanto à corrida na busca por novas fronteiras, além da Terra, esta não apenas deve continuar, mas ser incrementada, e mais, precisa deixar de ser projeto exclusivo dos Estados Unidos e envolver, também, a União Soviética.

Ambos, trabalhando juntos, sem ciumeiras e sem vedetismo, cada um oferecendo o que tiver de melhor, poderão transformar a conquista de Marte de mero sonho em uma grandiosa realidade. Além do mais, um projeto espacial desse porte tende a trazer, em sua esteira, avanços tecnológicos enormes, além de gerar um milhão de empregos diretos, ou até mais. Vale ou não vale, portanto, mais a pena do que a estúpida “guerra nas estrelas”?

O astrônomo Carl Sagan, uma das mentes mais iluminadas do nosso tempo, disse, em 1985: “Quando olhamos a Terra do espaço sideral, o que vemos é um planeta frágil, pequeno e extremamente sensível à depredação de seus habitantes. É impossível não supor que o que estamos fazendo é uma tolice. Não existem territórios nacionais quando se olha para a Terra do espaço. O que se vê é um planeta, um único lugar. E todos os seres que vivem nele são mutuamente dependentes, como se estivessem juntos num barco salva-vidas perdido em alto mar”. Que se aceite, pois, o sábio desafio do presidente George Bush, em busca das novas fronteiras mentais.  

(Artigo publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 21 de julho de 1989)


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