Bush
apóia Gorbachev, não reformas
Pedro J. Bondaczuk
O
presidente norte-americano, George Bush, embora reticente na questão do
separatismo das Repúblicas bálticas, está arriscando seu prestígio para apoiar
a política de Mikhail Gorbachev. Não é a perestroika que ele respalda, por
vislumbrar muitas falhas nesse programa, mas à pessoa do líder do Cremlin, em
que vê um estadista confiável e ponderado, capaz de evitar o caos na URSS.
Muita
gente nos Estados Unidos age dessa mesma maneira. Até uma organização,
integrada por empresários, intelectuais e gente da política, foi criada neste
país para respaldar o presidente soviético e impedir que a linha-dura do
Partido Comunista o deponha, com resultados imprevisíveis e possivelmente
catastróficos para a estabilidade internacional.
O
jornal The New York Times, num editorial de 4 de junho de 1990, ressaltou:
"Tendo caminhado de uma política de apoio às reformas soviéticas para uma
política de apoio pessoal a Gorbachev, Bush demonstrou sua disposição não
apenas em ter um novo diálogo com o líder soviético, mas também de assumir
riscos políticos para ajudá-lo".
Mas
até que ponto está disposto a se arriscar? Ao de oferecer um indispensável
suporte econômico para que o presidente da URSS realize, sem sobressaltos, a
transição de uma economia planificada para a de mercado? Parece que não.
A
estratégia do Cremlin em relação às Repúblicas separatistas bálticas é motivo
de séria preocupação, não somente na Casa Branca, como em toda a Europa
Ocidental. A situação de confronto entre Moscou e a Lituânia, Letônia e Estônia
começou a se configurar, de fato, no início de 1990, embora já viesse se
manifestando sutilmente antes, com a declaração de independência aprovada pelo
Parlamento lituano, acompanhada por documentos similares dos estonianos e
letões.
Inicialmente,
Gorbachev tentou dobrar os separatistas utilizando uma arma que os Estados
Unidos sabem esgrimir com perfeição: o boicote econômico. O Cremlin, para
pressionar as autoridades de Vilnius a voltarem atrás em seu desafio, recorreu
ao corte no fornecimento de gás e de petróleo ao Estado rebelde.
Além
disso, deixou implícita a possibilidade de recorrer à força militar a qualquer
momento para reprimir o movimento nacionalista que, então, só cresceu. Bush
alertou Gorbachev, na oportunidade, para que não cometesse esse erro e disse,
em 23 de março de 1990: "Toda tentativa de coerção, intimidação ou
intervenção frente ao povo lituano teria o efeito de 'bumerangue'. Sabemos que
a União Soviética tem grande interesse na Lituânia, porém esses interesses
somente podem ser discutidos através de negociação".
O
assunto voltou à baila na reunião de cúpula de Washington, levada a efeito em
maio do ano passado. E as pressões feitas sobre o presidente soviético, na
oportunidade, foram tão intensas, ao ponto de o irritarem e o levarem a
desabafar, numa coletiva de imprensa, com a característica ironia dos russos:
"Tenho certeza de que se um Estado americano quisesse se separar, o
presidente Bush resolveria tudo em 24 horas. No nosso caso vai demorar. Mas
pretendemos resolver o problema levando em conta todos os interesses e dentro
da Constituição, que jurei defender".
(Artigo
publicado na página 20, Internacional, do Correio Popular, em 14 de abril de
1991).
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