Saturday, February 28, 2015

A importância das pequenas coisas

Pedro J. Bondaczuk

As pequenas coisas, volta e meia, tendem a ser as mais importantes, embora nem sempre venhamos a nos dar conta dessa importância. E não somente as diminutas. Também (ou p0rincipalmente), as microscópicas, as invisíveis a olho nu ou mesmo com o uso de aparelhos óticos que não sejam ultra-potentes. Entram, aí, não só objetos ou seres vivos, mas também acontecimentos e ações (nossas e alheias). Muitas vezes fazemos algo aparentemente trivial, de forma mecânica, automática, casual, sem atentar para conseqüências, por julgarmos que não haverá nenhuma. E... de repente, esse ato supostamente inocente e comezinho altera nossa vida para sempre, para melhor ou para pior. Vou mais longe. Afirmo que as pequenas coisas, as ínfimas, as microscópicas e as invisíveis a olho nu podem se tornar não só importantes, mas decisivas. Algumas têm potencial, até, de nos destruir. E, mais do que isso, podem extinguir toda uma espécie, no caso a nossa, a humana. Exagero? Não!

Estão, neste caso, dois agentes tão minúsculos que, até não faz muito, tinham a existência até mesmo ignorada: o átomo e os vírus. O primeiro, âmago da matéria, era até intuído por sábios da Grécia Antiga. Mas se limitava ao terreno da especulação, das teorias, da mera abstração de filósofos que raciocinavam para muito além das aparências. Todavia, o homem do século XX conheceu, horrorizado, seu poder de destruição. Os sobreviventes de Hiroshima e de Nagasaki que o digam. E o potencial catastrófico do átomo não está nem mesmo na sua integralidade, mas em algo consideravelmente menor: em seu núcleo (daí a energia gerada ser denominada de “nuclear”), muitíssimo menos visível por suas dimensões absurdamente pequenas. Esse potencial, tão imenso a ponto de gerar calor mais intenso do que o de alguns pares de sóis do tamanho do nosso, se faz concreto de duas formas: fissão e fusão. No primeiro caso, o núcleo é dividido (grosso modo), liberando energia. No segundo, é aumentado mediante acréscimo de nova partícula, com resultado mais ou menos parecido.        

No caso dos vírus, guardadas as devidas proporções, há, também, monstruoso potencial destrutivo da vida (e não somente a humana). Ao contrário do átomo, até o final do século XIX os mais doutos e geniais cientistas sequer desconfiavam de sua existência, embora eles viessem agindo, causando doenças mortais, suponho, desde o surgimento do homem. Nem me refiro a outras espécies vivas. Para que o leitor tenha uma idéia, basta recordar que uma bactéria (e olhem que estas são, proporcionalmente, muito maiores que os vírus), a “yersinia pestis”, aniquilou pelo menos o mesmo tanto de pessoas, na Europa, que a Segunda Guerra Mundial. Deixou 75 milhões de mortos! Proporcionalmente, porém, a catástrofe teve dimensões de hecatombe. Eliminou três quartos da população européia de então!!! Um quarto a mais que matasse, e o homem simplesmente desapareceria do continente europeu. E olhem que as bactérias são não só muito maiores do que os vírus, como potencialmente menos letais.

Inúmeras delas são até inofensivas ao ser humano. Há  muitas que nos são benéficas e indispensáveis para o bom funcionamento do nosso organismo. Já os vírus... Não se pode confiar neles. A pandemia que mencionei foi a da chamada peste negra, que varreu a Europa, no início do século XIV. Só não eliminou o homem, não apenas do continente europeu, mas da face da Terra, por puríssimo acaso. Não havia, na época, Medicina que merecesse esse nome. O que havia era um misto de curandeirismo com certo empirismo, que às vezes até funcionava, mas que na maioria dos casos era inútil e vão. As mortes, que ocorriam em nove de cada dez doentes, eram atribuídas não às doenças, hoje facilmente tratáveis e de rápida cura, mas a castigos divinos. Ademais, não havia a mínima noção de higiene e da sua necessidade. Vai daí...

A “yersinia pestis” era transmitida ao homem através de pulgas (Xenopsylla Cheopis) que se alimentavam do sangue de ratos pretos (Ratus Ratus) antes de os trocarem pelas pessoas ao seu redor. E esses roedores nunca faltaram (e não faltam ainda hoje), dada a rapidez de sua reprodução. Mesmo nos tempos atuais, com todos os recursos sanitários, de higiene, existentes, a população mundial desses prolíficos animais é estimada, pela Organização Mundial de Saúde, em vinte exemplares para cada ser humano. É só fazer as contas. Multipliquem 7,2 bilhões de habitantes do Planeta por vinte. Os ratos são, hoje, portanto, no mínimo, 144 bilhões (se não errei na multiplicação). E a OMS admite que esse número pode ser muitíssimo maior. Desconfio que seja. Imaginem no século XIV, com a absoluta falta de higiene que existia!

Hoje, a maior ameaça, ou uma das maiores ameaças à nossa sobrevivência está em vírus, como os da família Filoviridae (que provocam febres hemorrágicas graves) como o ebola (que já causou pelo menos cinco mil mortes em 2014), como o Marburg (considerado ainda pior), ou como o H5N1 (causador da gripe aviária), ou o que provoca a Sars (Síndrome Respiratória Aguda Grave) ou os vários Hantavírus e vai por aí afora. Já imaginaram se ocorrer uma pandemia dessas doenças, a tragédia que será? E isso é perfeitamente possível, apesar dos recursos atuais da Medicina e dos avanços da Virologia. Só um súbito assomo de loucura nos responsáveis pelo uso do absurdo arsenal nuclear existente na atualidade é mais perigoso à sobrevivência da nossa espécie (temo que á de todas).

Como se vê, temos que estar atentos, atentíssimo, vigilantes, vigilantíssimos às pequenas coisas. O povo costuma dizer que “é nos pequenos frascos que estão os grandes perfumes”. Ao que alguns acrescentam, não sem certa dose de sadismo: “e também os venenos mais letais”. Não se trata de paranóia catastrofista, mas convém estarmos sempre prevenidos para as artimanhas, não só do diminuto, mas do ínfimo, do microscópico, do invisível a olho nu, como o átomo e os vírus, pois neles pode estar o germe da nossa destruição.


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