A importância das
pequenas coisas
Pedro
J. Bondaczuk
As pequenas coisas,
volta e meia, tendem a ser as mais importantes, embora nem sempre venhamos a
nos dar conta dessa importância. E não somente as diminutas. Também (ou
p0rincipalmente), as microscópicas, as invisíveis a olho nu ou mesmo com o uso
de aparelhos óticos que não sejam ultra-potentes. Entram, aí, não só objetos ou
seres vivos, mas também acontecimentos e ações (nossas e alheias). Muitas vezes
fazemos algo aparentemente trivial, de forma mecânica, automática, casual, sem
atentar para conseqüências, por julgarmos que não haverá nenhuma. E... de
repente, esse ato supostamente inocente e comezinho altera nossa vida para
sempre, para melhor ou para pior. Vou mais longe. Afirmo que as pequenas
coisas, as ínfimas, as microscópicas e as invisíveis a olho nu podem se tornar
não só importantes, mas decisivas. Algumas têm potencial, até, de nos destruir.
E, mais do que isso, podem extinguir toda uma espécie, no caso a nossa, a
humana. Exagero? Não!
Estão, neste caso, dois
agentes tão minúsculos que, até não faz muito, tinham a existência até mesmo
ignorada: o átomo e os vírus. O primeiro, âmago da matéria, era até intuído por
sábios da Grécia Antiga. Mas se limitava ao terreno da especulação, das
teorias, da mera abstração de filósofos que raciocinavam para muito além das
aparências. Todavia, o homem do século XX conheceu, horrorizado, seu poder de
destruição. Os sobreviventes de Hiroshima e de Nagasaki que o digam. E o
potencial catastrófico do átomo não está nem mesmo na sua integralidade, mas em
algo consideravelmente menor: em seu núcleo (daí a energia gerada ser
denominada de “nuclear”), muitíssimo menos visível por suas dimensões
absurdamente pequenas. Esse potencial, tão imenso a ponto de gerar calor mais
intenso do que o de alguns pares de sóis do tamanho do nosso, se faz concreto
de duas formas: fissão e fusão. No primeiro caso, o núcleo é dividido (grosso
modo), liberando energia. No segundo, é aumentado mediante acréscimo de nova
partícula, com resultado mais ou menos parecido.
No caso dos vírus,
guardadas as devidas proporções, há, também, monstruoso potencial destrutivo da
vida (e não somente a humana). Ao contrário do átomo, até o final do século XIX
os mais doutos e geniais cientistas sequer desconfiavam de sua existência,
embora eles viessem agindo, causando doenças mortais, suponho, desde o
surgimento do homem. Nem me refiro a outras espécies vivas. Para que o leitor
tenha uma idéia, basta recordar que uma bactéria (e olhem que estas são,
proporcionalmente, muito maiores que os vírus), a “yersinia pestis”, aniquilou
pelo menos o mesmo tanto de pessoas, na Europa, que a Segunda Guerra Mundial.
Deixou 75 milhões de mortos! Proporcionalmente, porém, a catástrofe teve
dimensões de hecatombe. Eliminou três quartos da população européia de então!!!
Um quarto a mais que matasse, e o homem simplesmente desapareceria do
continente europeu. E olhem que as bactérias são não só muito maiores do que os
vírus, como potencialmente menos letais.
Inúmeras delas são até
inofensivas ao ser humano. Há muitas que
nos são benéficas e indispensáveis para o bom funcionamento do nosso organismo.
Já os vírus... Não se pode confiar neles. A pandemia que mencionei foi a da
chamada peste negra, que varreu a Europa, no início do século XIV. Só não
eliminou o homem, não apenas do continente europeu, mas da face da Terra, por
puríssimo acaso. Não havia, na época, Medicina que merecesse esse nome. O que
havia era um misto de curandeirismo com certo empirismo, que às vezes até
funcionava, mas que na maioria dos casos era inútil e vão. As mortes, que
ocorriam em nove de cada dez doentes, eram atribuídas não às doenças, hoje
facilmente tratáveis e de rápida cura, mas a castigos divinos. Ademais, não
havia a mínima noção de higiene e da sua necessidade. Vai daí...
A “yersinia pestis” era
transmitida ao homem através de pulgas (Xenopsylla Cheopis) que se alimentavam
do sangue de ratos pretos (Ratus Ratus) antes de os trocarem pelas pessoas ao
seu redor. E esses roedores nunca faltaram (e não faltam ainda hoje), dada a
rapidez de sua reprodução. Mesmo nos tempos atuais, com todos os recursos
sanitários, de higiene, existentes, a população mundial desses prolíficos
animais é estimada, pela Organização Mundial de Saúde, em vinte exemplares para
cada ser humano. É só fazer as contas. Multipliquem 7,2 bilhões de habitantes
do Planeta por vinte. Os ratos são, hoje, portanto, no mínimo, 144 bilhões (se
não errei na multiplicação). E a OMS admite que esse número pode ser muitíssimo
maior. Desconfio que seja. Imaginem no século XIV, com a absoluta falta de higiene
que existia!
Hoje, a maior ameaça,
ou uma das maiores ameaças à nossa sobrevivência está em vírus, como os da
família Filoviridae (que provocam febres hemorrágicas graves) como o ebola (que
já causou pelo menos cinco mil mortes em 2014), como o Marburg (considerado
ainda pior), ou como o H5N1 (causador da gripe aviária), ou o que provoca a
Sars (Síndrome Respiratória Aguda Grave) ou os vários Hantavírus e vai por aí
afora. Já imaginaram se ocorrer uma pandemia dessas doenças, a tragédia que
será? E isso é perfeitamente possível, apesar dos recursos atuais da Medicina e
dos avanços da Virologia. Só um súbito assomo de loucura nos responsáveis pelo
uso do absurdo arsenal nuclear existente na atualidade é mais perigoso à
sobrevivência da nossa espécie (temo que á de todas).
Como se vê, temos que
estar atentos, atentíssimo, vigilantes, vigilantíssimos às pequenas coisas. O
povo costuma dizer que “é nos pequenos frascos que estão os grandes perfumes”.
Ao que alguns acrescentam, não sem certa dose de sadismo: “e também os venenos
mais letais”. Não se trata de paranóia catastrofista, mas convém estarmos
sempre prevenidos para as artimanhas, não só do diminuto, mas do ínfimo, do
microscópico, do invisível a olho nu, como o átomo e os vírus, pois neles pode
estar o germe da nossa destruição.
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