Combate à inflação
Pedro J. Bondaczuk
O combate à inflação
deveria ser a prioridade número um do governo e da sociedade para este ano de
1988. Isto porque seus efeitos costumam ser perversos em especial sobre o mais
desprotegido, o mais humilde dos cidadãos, que se vê forçado a apertar cada vez
mais o cinto, mesmo que este já esteja no seu limite.
Atualmente,
a taxa parece ter se acomodado no patamar dos 15% que, como sabe qualquer dona
de casa brasileira, não é dos mais cômodos. As expectativas do próprio governo,
que costumam, em geral, ser bastante otimistas, são de um índice bastante
elevado para o ano, ainda que não os 365,9% de 1987.
Na
semana passada, o ministro da Fazenda, Mailson da Nóbrega, admitiu que sua
pasta trabalha com uma “possibilidade” inflacionária em torno de 236% nos
próximos doze meses.
A
principal ação da inflação é sobre o pode de compra do assalariado, o que faz
com que as vendas caiam, as encomendas à indústria se restrinjam a um mínimo
indispensável e que, por conseqüência, se produza o desemprego em massa.
O
pior é que isto tudo se reflete diretamente na saúde da população, que precisa
comer cada vez menos, porque o dinheiro não é suficiente sequer para tanto.
Ontem, o presidente do Sindicato do Comércio Atacadista de Gêneros Alimentícios
do Estado de São Paulo, Algirdas Balsevicius, fez algumas revelações no mínimo
inquietadoras ao “Jornal da Feira”, uma publicação oficial do Ministério da
Agricultura.
Disse
que somente nos primeiros 15 dias do corrente mês, as vendas de comida no
atacado caíram 25%, comparadas com o mesmo período de 1987 (que já não era dos
melhores). “Os produtos agrícolas tiveram reajustes da inflação nos últimos
seis meses e a população está crescendo. Ainda assim o povo brasileiro está
comendo menos do que no ano passado”, observou o entrevistado.
Como
se percebe, a situação é grave. Ainda mais quando se sabe que em 1987 o País
colheu a maior safra da sua história. Para Balsevicius (e para mais 147 milhões
de pessoas por este Brasil afora) é preciso que o governo reformule,
imediatamente, os seus planos no que diz respeito à questão tributária dos
produtos alimentícios e à política salarial.
Em
seu modo de entender, “as altas taxas de juros também constituem problema para
o empresário ou produtor”. É indispensável, pois, que o poder central refreie o
seu apetite de gastos, para conter o déficit público, um dos grandes vilões
responsáveis pelo recrudescimento da inflação.
Há
pessoas que se contentariam com taxas mensais constantes de 15%, diante das expectativas
de índices muito maiores que se propalam no mercado. Essas cifras, no entanto,
se vierem a se concretizar, vão significar uma verdadeira calamidade,
produzindo um acumulado inflacionário de 435,34% ao cabo de 12 meses.
O
leigo, às vezes, acha que para se ter a taxa anual basta somar as que se
registram mês a mês. Mas não é assim que funciona o processo. O acumulado de
janeiro e fevereiro, por exemplo, se as inflações respectivas forem de 15% será
de 32,25% e não de 30%.
Ou
seja: 15% de 15%, que é igual a 2,25% e 15% mais 15% mais 2,25%, que daria o
total citado. Já o cálculo para março seria 15% de 32,25%, ou 4,83% e 15% mais
32,25% mais 4,93%, redundando em 52,19%.
Parece
complicado, não é mesmo? Mas esse é o mecanismo da acumulação inflacionária. É
indispensável que o ciclo seja rompido em algum ponto, para que convivamos com
taxas pelo menos “civilizadas”. Caso contrário, todos nós ainda “morreremos” de
saudade de 1987.
(Artigo
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 20 de janeiro de 1988).
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