Assim se descobriram os
vírus
Pedro
J. Bondaczuk
Os vírus, causadores de
inúmeras doenças, algumas das quais ainda incuráveis, a despeito de todo o
avanço da ciência biológica, ainda são, em muitos aspectos, um enorme mistério
para a ciência. Sua detecção, a bem da verdade, é relativamente recente. Até meados
do século XIX, era crença generalizada que as doenças eram “todas” de caráter
autogênico. Ou seja, que o desarranjo do organismo se devia a suas deficiências
próprias, hereditárias ou adquiridas em decorrê4ncia de maus hábitos. Para
alguns, era causado por fatalidades inexplicáveis. E outros tantos (talvez a
maioria) o atribuíam a eventual “castigo” de divindades caprichosas e
vingativas.
Pensar dessa forma era
normal. Contudo, geravam diagnósticos naturalmente equivocados que, por
conseqüência, resultavam em tratamentos inadequados. As curas, raras, quando
aconteciam, eram mais conseqüências do acaso do que mérito dos terapeutas. Era
uma medicina um tanto empírica, que tratava dos efeitos, quando o lógico seria
atacar as causas, pelo menos em relação à maior parte das moléstias. Não por
acaso, a expectativa de vida média, até meados do século XIX, mal chegava aos
45 anos (hoje, no chamado Primeiro Mundo, chega a praticamente o dobro, ou
seja, a 90 anos em muitos casos).
Foi quando Louis
Pasteur deflagrou uma profunda e decisiva “revolução” no campo da biologia e,
sobretudo, da Medicina. Propôs a teoria microbiana das doenças, afirmando que
todas elas eram causadas e transmitidas por algum tipo de “vida diminuta”, que
se multiplicava no organismo doente, se transmitia a outro, sadio, e o
contaminava. Em muitos círculos, sua tese foi recebida com ceticismo, quando
não com sarcasmo. Foi, por algum tempo, tida e havida como sumamente
fantasiosa. Não tardou, porém, que fossem identificadas as bactérias, inclusive
visualizadas em microscópios. Como contra fatos não há argumentos, aos poucos o
que não passava de mera teoria, ousada para alguns e fantasiosa para outros,
não tardou a se impor como realidade.
Todavia, ao pesquisar a
raiva, algo intrigou, sobremaneira, Pasteur. O persistente cientista constatou
que, embora a doença fosse contagiosa, transmitida pela mordida de um animal
doente em outro sadio, o micro-organismo que a causava não podia ser observado.
Estaria errado, pelo menos nesse caso? Ou seria alguma exceção para contrariar
a regra? Ele pesquisou, pesquisou, pesquisou e nada de visualizar o agente
patogênico nos mais sofisticados microscópios da época. Por fim, Pasteur
concluiu que o tal agente infeccioso estava presente, sim, sem dúvida, na origem
da raiva, mas era tão pequeno que não podia ser observado. E, mais uma vez... o
cientista estava certo.
Experiências levadas a
efeito pelo microbiólogo holandês, Martinus Beijerinck, em 1898, convenceram-no
que de fato existia o tal agente patogênico, tão minúsculo que sequer podia ser
visualizado nos microscópios, que causava um sem número de doenças. Denominou
esse causador de infecções de “contagium vivum fluidum” (“fluido vivo
contagioso”). Estavam descobertos os vírus, posto que, ainda, sem serem visualizados.
Beijerinck observou características sumamente peculiares nesses agentes
infecciosos. Uma delas é que eles apenas se reproduziam em células que se
dividiam. Ou seja, sua reprodução era exclusivamente parasitária. Batizou-os de
“vírus”, palavra latina que significa “veneno” ou “toxina”.
Finalmente, já em pleno
século XX, um deles pôde ser microfotografado. Foi em 1939, com o advento dos
potentíssimos microscópios eletrônicos (equipamento inventado em 1931, pelos
engenheiros Ernst Ruska e Max Knoll). Estava, pois, mais do que comprovada a
teoria de Pasteur a propósito dos agentes patogênicos, tão ridicularizada
quando ele a apresentou pela primeira vez. O primeiro vírus visualizado, e
fotografado, foi o do mosaico do tabaco. Em 1901, Walter Reed pôde comprovar
que esses perigosos e peculiares seres, tão pequenos a ponto de não poderem,
até então, serem vistos por ninguém, também causavam doenças em humanos. Havia
“suspeitas” a propósito, porém sem comprovação material. O primeiro vírus a
afetar pessoas que Reed identificou foi o que batizou de “Flavivírus”, causador
da febre amarela.
A partir de então, a
microbiologia deu um salto notável. Foram, por exemplo, criadas vacinas, para
fortalecer as defesas do organismo e habilitá-lo a combater, por si só, esses
“invasores”, com plena eficácia, impedindo que esse agente patogênico o
adoecesse e levasse, quase sempre, à morte. Hoje já se conhece muito a esse
propósito, embora muita coisa permaneça envolta sob um véu de mistério. Por
exemplo, não se tem certeza se os vírus são seres vivos ou se uma espécie
híbrida, um meio termo entre vida e matéria inanimada. Desconhece-se, além
disso, sua origem. Acredita-se que eles sejam “extraterrestres”, ou seja, que
tenham vindo parar na Terra em algum dos tantos meteoritos ou cometas que
frequentemente têm atingido o Planeta desde priscas eras. Enfim, está aí um
tema fascinante, que atrai a curiosidade de qualquer escritor, mesmo que se
trate (e geralmente é) leigo em matéria científica. Que tal nos debruçarmos sobre
ele?
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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