Friday, February 27, 2015

Assim se descobriram os vírus

Pedro J. Bondaczuk

Os vírus, causadores de inúmeras doenças, algumas das quais ainda incuráveis, a despeito de todo o avanço da ciência biológica, ainda são, em muitos aspectos, um enorme mistério para a ciência. Sua detecção, a bem da verdade, é relativamente recente. Até meados do século XIX, era crença generalizada que as doenças eram “todas” de caráter autogênico. Ou seja, que o desarranjo do organismo se devia a suas deficiências próprias, hereditárias ou adquiridas em decorrê4ncia de maus hábitos. Para alguns, era causado por fatalidades inexplicáveis. E outros tantos (talvez a maioria) o atribuíam a eventual “castigo” de divindades caprichosas e vingativas.

Pensar dessa forma era normal. Contudo, geravam diagnósticos naturalmente equivocados que, por conseqüência, resultavam em tratamentos inadequados. As curas, raras, quando aconteciam, eram mais conseqüências do acaso do que mérito dos terapeutas. Era uma medicina um tanto empírica, que tratava dos efeitos, quando o lógico seria atacar as causas, pelo menos em relação à maior parte das moléstias. Não por acaso, a expectativa de vida média, até meados do século XIX, mal chegava aos 45 anos (hoje, no chamado Primeiro Mundo, chega a praticamente o dobro, ou seja, a 90 anos em muitos casos).

Foi quando Louis Pasteur deflagrou uma profunda e decisiva “revolução” no campo da biologia e, sobretudo, da Medicina. Propôs a teoria microbiana das doenças, afirmando que todas elas eram causadas e transmitidas por algum tipo de “vida diminuta”, que se multiplicava no organismo doente, se transmitia a outro, sadio, e o contaminava. Em muitos círculos, sua tese foi recebida com ceticismo, quando não com sarcasmo. Foi, por algum tempo, tida e havida como sumamente fantasiosa. Não tardou, porém, que fossem identificadas as bactérias, inclusive visualizadas em microscópios. Como contra fatos não há argumentos, aos poucos o que não passava de mera teoria, ousada para alguns e fantasiosa para outros, não tardou a se impor como realidade.

Todavia, ao pesquisar a raiva, algo intrigou, sobremaneira, Pasteur. O persistente cientista constatou que, embora a doença fosse contagiosa, transmitida pela mordida de um animal doente em outro sadio, o micro-organismo que a causava não podia ser observado. Estaria errado, pelo menos nesse caso? Ou seria alguma exceção para contrariar a regra? Ele pesquisou, pesquisou, pesquisou e nada de visualizar o agente patogênico nos mais sofisticados microscópios da época. Por fim, Pasteur concluiu que o tal agente infeccioso estava presente, sim, sem dúvida, na origem da raiva, mas era tão pequeno que não podia ser observado. E, mais uma vez... o cientista estava certo.

Experiências levadas a efeito pelo microbiólogo holandês, Martinus Beijerinck, em 1898, convenceram-no que de fato existia o tal agente patogênico, tão minúsculo que sequer podia ser visualizado nos microscópios, que causava um sem número de doenças. Denominou esse causador de infecções de “contagium vivum fluidum” (“fluido vivo contagioso”). Estavam descobertos os vírus, posto que, ainda, sem serem visualizados. Beijerinck observou características sumamente peculiares nesses agentes infecciosos. Uma delas é que eles apenas se reproduziam em células que se dividiam. Ou seja, sua reprodução era exclusivamente parasitária. Batizou-os de “vírus”, palavra latina que significa “veneno” ou “toxina”.

Finalmente, já em pleno século XX, um deles pôde ser microfotografado. Foi em 1939, com o advento dos potentíssimos microscópios eletrônicos (equipamento inventado em 1931, pelos engenheiros Ernst Ruska e Max Knoll). Estava, pois, mais do que comprovada a teoria de Pasteur a propósito dos agentes patogênicos, tão ridicularizada quando ele a apresentou pela primeira vez. O primeiro vírus visualizado, e fotografado, foi o do mosaico do tabaco. Em 1901, Walter Reed pôde comprovar que esses perigosos e peculiares seres, tão pequenos a ponto de não poderem, até então, serem vistos por ninguém, também causavam doenças em humanos. Havia “suspeitas” a propósito, porém sem comprovação material. O primeiro vírus a afetar pessoas que Reed identificou foi o que batizou de “Flavivírus”, causador da febre amarela.


A partir de então, a microbiologia deu um salto notável. Foram, por exemplo, criadas vacinas, para fortalecer as defesas do organismo e habilitá-lo a combater, por si só, esses “invasores”, com plena eficácia, impedindo que esse agente patogênico o adoecesse e levasse, quase sempre, à morte. Hoje já se conhece muito a esse propósito, embora muita coisa permaneça envolta sob um véu de mistério. Por exemplo, não se tem certeza se os vírus são seres vivos ou se uma espécie híbrida, um meio termo entre vida e matéria inanimada. Desconhece-se, além disso, sua origem. Acredita-se que eles sejam “extraterrestres”, ou seja, que tenham vindo parar na Terra em algum dos tantos meteoritos ou cometas que frequentemente têm atingido o Planeta desde priscas eras. Enfim, está aí um tema fascinante, que atrai a curiosidade de qualquer escritor, mesmo que se trate (e geralmente é) leigo em matéria científica. Que tal nos debruçarmos sobre ele?

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