Os
frutos da perseverança
Pedro J. Bondaczuk
A obstinação, no sentido de
perseverança na busca de um objetivo, desde que positivo e factível, é fator
primordial para o sucesso de qualquer empreendimento, não importa se individual
ou se coletivo. É muito fácil (e cômodo), embora contraproducente (e não raro,
desastroso) abandonar alguma tarefa, ou projeto (a produção9 de um livro, por
exemplo) pelo meio, quando surgem dificuldades, às vezes sequer muito grandes,
mas que exigem das pessoas maior dose de aplicação, de esforço, de talento ou
apenas de persistência. O desânimo é tendência bastante comum mundo afora.
Volta e meia somos acometidos por ele, mas, em vez de partirmos para a luta,
nos limitamos a nos queixar, das circunstâncias ou de alguém (sempre
encontramos quem nos sirva de bode-expiatório)..
Todavia, essa atitude, com ou sem
razão para ser tomada, reflete comodismo. Queremos coisas fáceis e que para
obtê-las, não haja obstáculos. Situações ideais, como estas, todavia, são
raras. São poucas, pouquíssimas as conquistas que obtemos sem nenhum ou com
pouco esforço. O desânimo, portanto, tem que ser combatido se tivermos
objetivos claros, exatos, definidos e se estivermos seguros que sejam factíveis
e benéficos. Esse combate implica em autodisciplina, além de visão clara da
meta que se quer alcançar. Desistir de levar a cabo algum projeto que nos
satisfaça e venha a nos beneficiar, quando não engrandecer, apenas por causa de
um ou outro obstáculo, sem tentar sequer transpô-lo, é comportamento típico dos
perdedores. Ou seja, dos que esperam que os outros atendam todos seus desejos e
necessidades, de graça, sem que precisem dar nenhuma contrapartida.
Mas, e se embora persistindo,
ainda assim, viermos a fracassar, não teremos feito feio? Entendo que não!
Surgem, todavia, algumas questões a serem ponderadas. Uma delas: será que a
tarefa a que nos propusemos a enfrentar era factível? Traçamos estratégia
minimamente adequada para sua realização? Em caso afirmativo, surge nova
questão: esta era a mais correta para as circunstâncias? Se todas as respostas
forem positivas, não teremos do que nos envergonhar. Feio, nestes casos, não é
fracassar, quando se fez o melhor. Feíssimo é sequer haver tentado. Ou não ter
sido obstinado o suficiente para encarar aquele desafio. No entanto, há que se
observar que a palavra obstinação é empregada, também, em sentido negativo. Ou
seja, no de teimosia, de se manter no erro, embora tendo consciência dele. Há
muitos e muitos que agem assim (desconfio que a maioria) Nestes casos as conseqüências são, sempre e
sempre, desastrosas. Seja persistente, sim, mas na virtude. Não seja, todavia,
obstinado no erro, no vício ou na inércia.
A marca dos vencedores, dos que,
ao cabo de muitos anos de vida, podem olhar para trás e se regozijar com o que
fizeram, não é a força, a sabedoria ou mesmo o talento. É a persistência. É
claro que a energia, o conhecimento e a aptidão são importantes, mas não são,
sozinhos. Não são, isoladamente, determinantes para a vitória. Quando tivermos
convicção de estarmos no caminho certo, não devemos nunca desistir, por maiores
e aparentemente intransponíveis que forem os obstáculos. Devemos tentar, tentar
e tentar, sempre e incansavelmente. Se Graham Bell, por exemplo, tivesse
desistido, após suas primeiras e malogradas experiências científicas, não
teríamos, hoje, o telefone. Outras tantas criações foram realizadas porque seus
inventores tiveram a determinação de persistir.
A maioria das pessoas tem a
insensatez de, ou se preocupar demais com o futuro – esse tempo vago, que ainda
não aconteceu – ou com o passado –, que não pode mais ser modificado. Ficamos
aflitos, por exemplo (não sem razão, convenhamos), quando estamos desempregados
e somos impedidos de fazer o que mais gostamos e/ou mais sabemos. É uma
situação, infelizmente, bastante comum nessa época dita de globalização
econômica. Um dos efeitos mais perversos do desemprego é a queda, quando não a
supressão da auto-estima. Mais prudente e prático, porém, em vez de nos
entregarmos à aflição, à indolência e ao desespero, é arregaçarmos as mangas e
partirmos para a luta. É persistirmos, persistirmos e persistirmos sem desânimo
face percalços e obstáculos desse dia, ou do vindouro, ou de outros tantos do
porvir, na busca por oportunidades. Amanhã tudo pode ser diferente, talvez com
a providencial ajuda do acaso.
Uma das lições mais sublimes e
sábias a propósito dos méritos da perseverança é a “Parábola do Semeador”, de
Jesus Cristo. O agricultor, dessa exemplar alegoria, tinha vários motivos para
desanimar. Todavia... perseverou. Por exemplo, lançou, primeiro, sua semente
por entre pedras. Mesmo tendo germinado, a planta embrionária não tinha como
fixar raízes, dada a rigidez do solo. Não havia humus. Inexistia a umidade.
Faltavam, portanto, o alimento e a água. Dessa forma, ou os pássaros devoraram
o que foi semeado, ou o sol crestou a semente, a inutilizando. Todavia,
perseverou. Não se deu por vencido face o primeiro resultado negativo.
A segunda semente foi lançada por
ele sobre a areia, em meio a urzes. Germinou, fixou raízes, mas estas não
tinham firmeza. Um simples vento arrancou a planta em formação, matando-a ou as
ervas daninhas sufocaram-na. Dessa vez tinha muito mais motivos para desistir.
Era o segundo fracasso. As coisas estavam sendo sumamente desfavoráveis para o
semeador. Todavia... não desanimou. Tentou de novo. E a terceira semente,
afinal, caiu em terra fértil. Germinou, radicou-se, desenvolveu-se, cresceu e
frutificou. Assim são as mensagens espalhadas pelos idealistas. Têm que ser
múltiplas e semeadas incansavelmente. Mesmo assim há riscos de nenhuma delas
vingar. Compete ao semeador tentar, tentar e tentar indefinidamente, enquanto
viver. Persistir na persistência.
A constância e a perseverança são
fatores indispensáveis não só para o sucesso, mas, sobretudo, para a
felicidade. Para alcançarmos nossos objetivos, não são necessários passos de
gigante. Devemos, isto sim, subir degrau por degrau, todos os dias, seja para
se obter estabilidade financeira, seja para conseguir o que nos torna felizes
(objeto, realização ou pessoa). Vivamos um dia por vez. O que não podemos é
desanimar, vacilar e, principalmente, desistir. Charles Baudelaire escreveu, em
seus “Diários Íntimos”: “Um pouco de trabalho, repetido trezentas e sessenta e
cinco vezes, dá trezentas e sessenta e cinco vezes um pouco de dinheiro. Isto é
uma soma enorme. Ao mesmo tempo, a glória está feita. Do mesmo modo, uma porção
de pequenos gozos compõe a felicidade”. Não nos privemos das pequenas
satisfações cotidianas, a pretexto de nos empenharmos para as grandes.
Usufruamos uma a uma porquanto, somadas, elas se tornarão maiúsculas. Sejamos
como o perseverante semeador da parábola de Cristo, que persistiu, persistiu e
persistiu, até obter sucesso.
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