Friday, February 13, 2015

Os frutos da perseverança

Pedro J. Bondaczuk

A obstinação, no sentido de perseverança na busca de um objetivo, desde que positivo e factível, é fator primordial para o sucesso de qualquer empreendimento, não importa se individual ou se coletivo. É muito fácil (e cômodo), embora contraproducente (e não raro, desastroso) abandonar alguma tarefa, ou projeto (a produção9 de um livro, por exemplo) pelo meio, quando surgem dificuldades, às vezes sequer muito grandes, mas que exigem das pessoas maior dose de aplicação, de esforço, de talento ou apenas de persistência. O desânimo é tendência bastante comum mundo afora. Volta e meia somos acometidos por ele, mas, em vez de partirmos para a luta, nos limitamos a nos queixar, das circunstâncias ou de alguém (sempre encontramos quem nos sirva de bode-expiatório)..

Todavia, essa atitude, com ou sem razão para ser tomada, reflete comodismo. Queremos coisas fáceis e que para obtê-las, não haja obstáculos. Situações ideais, como estas, todavia, são raras. São poucas, pouquíssimas as conquistas que obtemos sem nenhum ou com pouco esforço. O desânimo, portanto, tem que ser combatido se tivermos objetivos claros, exatos, definidos e se estivermos seguros que sejam factíveis e benéficos. Esse combate implica em autodisciplina, além de visão clara da meta que se quer alcançar. Desistir de levar a cabo algum projeto que nos satisfaça e venha a nos beneficiar, quando não engrandecer, apenas por causa de um ou outro obstáculo, sem tentar sequer transpô-lo, é comportamento típico dos perdedores. Ou seja, dos que esperam que os outros atendam todos seus desejos e necessidades, de graça, sem que precisem dar nenhuma contrapartida.

Mas, e se embora persistindo, ainda assim, viermos a fracassar, não teremos feito feio? Entendo que não! Surgem, todavia, algumas questões a serem ponderadas. Uma delas: será que a tarefa a que nos propusemos a enfrentar era factível? Traçamos estratégia minimamente adequada para sua realização? Em caso afirmativo, surge nova questão: esta era a mais correta para as circunstâncias? Se todas as respostas forem positivas, não teremos do que nos envergonhar. Feio, nestes casos, não é fracassar, quando se fez o melhor. Feíssimo é sequer haver tentado. Ou não ter sido obstinado o suficiente para encarar aquele desafio. No entanto, há que se observar que a palavra obstinação é empregada, também, em sentido negativo. Ou seja, no de teimosia, de se manter no erro, embora tendo consciência dele. Há muitos e muitos que agem assim (desconfio que a maioria)  Nestes casos as conseqüências são, sempre e sempre, desastrosas. Seja persistente, sim, mas na virtude. Não seja, todavia, obstinado no erro, no vício ou na inércia.

A marca dos vencedores, dos que, ao cabo de muitos anos de vida, podem olhar para trás e se regozijar com o que fizeram, não é a força, a sabedoria ou mesmo o talento. É a persistência. É claro que a energia, o conhecimento e a aptidão são importantes, mas não são, sozinhos. Não são, isoladamente, determinantes para a vitória. Quando tivermos convicção de estarmos no caminho certo, não devemos nunca desistir, por maiores e aparentemente intransponíveis que forem os obstáculos. Devemos tentar, tentar e tentar, sempre e incansavelmente. Se Graham Bell, por exemplo, tivesse desistido, após suas primeiras e malogradas experiências científicas, não teríamos, hoje, o telefone. Outras tantas criações foram realizadas porque seus inventores tiveram a determinação de persistir.

A maioria das pessoas tem a insensatez de, ou se preocupar demais com o futuro – esse tempo vago, que ainda não aconteceu – ou com o passado –, que não pode mais ser modificado. Ficamos aflitos, por exemplo (não sem razão, convenhamos), quando estamos desempregados e somos impedidos de fazer o que mais gostamos e/ou mais sabemos. É uma situação, infelizmente, bastante comum nessa época dita de globalização econômica. Um dos efeitos mais perversos do desemprego é a queda, quando não a supressão da auto-estima. Mais prudente e prático, porém, em vez de nos entregarmos à aflição, à indolência e ao desespero, é arregaçarmos as mangas e partirmos para a luta. É persistirmos, persistirmos e persistirmos sem desânimo face percalços e obstáculos desse dia, ou do vindouro, ou de outros tantos do porvir, na busca por oportunidades. Amanhã tudo pode ser diferente, talvez com a providencial ajuda do acaso.

Uma das lições mais sublimes e sábias a propósito dos méritos da perseverança é a “Parábola do Semeador”, de Jesus Cristo. O agricultor, dessa exemplar alegoria, tinha vários motivos para desanimar. Todavia... perseverou. Por exemplo, lançou, primeiro, sua semente por entre pedras. Mesmo tendo germinado, a planta embrionária não tinha como fixar raízes, dada a rigidez do solo. Não havia humus. Inexistia a umidade. Faltavam, portanto, o alimento e a água. Dessa forma, ou os pássaros devoraram o que foi semeado, ou o sol crestou a semente, a inutilizando. Todavia, perseverou. Não se deu por vencido face o primeiro resultado negativo.

A segunda semente foi lançada por ele sobre a areia, em meio a urzes. Germinou, fixou raízes, mas estas não tinham firmeza. Um simples vento arrancou a planta em formação, matando-a ou as ervas daninhas sufocaram-na. Dessa vez tinha muito mais motivos para desistir. Era o segundo fracasso. As coisas estavam sendo sumamente desfavoráveis para o semeador. Todavia... não desanimou. Tentou de novo. E a terceira semente, afinal, caiu em terra fértil. Germinou, radicou-se, desenvolveu-se, cresceu e frutificou. Assim são as mensagens espalhadas pelos idealistas. Têm que ser múltiplas e semeadas incansavelmente. Mesmo assim há riscos de nenhuma delas vingar. Compete ao semeador tentar, tentar e tentar indefinidamente, enquanto viver. Persistir na persistência.

A constância e a perseverança são fatores indispensáveis não só para o sucesso, mas, sobretudo, para a felicidade. Para alcançarmos nossos objetivos, não são necessários passos de gigante. Devemos, isto sim, subir degrau por degrau, todos os dias, seja para se obter estabilidade financeira, seja para conseguir o que nos torna felizes (objeto, realização ou pessoa). Vivamos um dia por vez. O que não podemos é desanimar, vacilar e, principalmente, desistir. Charles Baudelaire escreveu, em seus “Diários Íntimos”: “Um pouco de trabalho, repetido trezentas e sessenta e cinco vezes, dá trezentas e sessenta e cinco vezes um pouco de dinheiro. Isto é uma soma enorme. Ao mesmo tempo, a glória está feita. Do mesmo modo, uma porção de pequenos gozos compõe a felicidade”. Não nos privemos das pequenas satisfações cotidianas, a pretexto de nos empenharmos para as grandes. Usufruamos uma a uma porquanto, somadas, elas se tornarão maiúsculas. Sejamos como o perseverante semeador da parábola de Cristo, que persistiu, persistiu e persistiu, até obter sucesso.


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