Monday, February 23, 2015

Best-seller do verão


Pedro J. Bondaczuk


O best-seller deste verão, o livro mais procurado pelos brasileiros nos últimos dias, não é, como se poderia pensar, sobre literatura (romance, conto, novela, poesia ou crítica). Nem versa sobre administração, marketing ou economia, que estão na moda, atualmente. Não se trata de obra científica, filosófica nem de biografia, memórias ou ciência política.

O autor mais procurado não é Humberto Eco, nem Jean Baudrillard, nem Toni Morrison, a ganhadora do Prêmio Nobel de Literatura do ano passado. É Roberto Magalhães! O deputado, claro! O best-seller deste verão é o relatório final da recém-encerrada Comissão Parlamentar de Inquérito, que apurou a manipulação do Orçamento da União.

Já existem 15 mil pedidos da obra à gráfica do Senado e estima-se que essas encomendas devam aumentar muito, já que o documento foi aprovado somente na sexta-feira passada. O número de volumes encomendado, ressalte-se, é cinco vezes maior do que a tiragem regular de livros no Brasil. Está aí um recado claro, claríssimo, da sociedade para o Congresso.

A opinião pública não está disposta a permitir que as apurações da CPI caiam num vazio e tudo termine, como ocorreu em inúmeras vezes, em “pizza”. Os olhos de todo o País estão voltados para os homens incumbidos de dar um fecho prático às apurações de fraudes, falsidade ideológica, enriquecimento ilícito, falsificações e toda a sorte de crimes contra a economia popular cometida por essa máfia, que não soube desempenhar com honestidade a procuração recebida do eleitorado.

Esses homens que mancharam a reputação do Parlamento e se apossaram, indevidamente, do que não lhes pertencia, não podem sair impunes. As provas do roubo estão nas mãos dos congressistas, que se não cassarem os mandatos dos prevaricadores e não encaminharem os respectivos processos à Justiça, estarão se acumpliciando a eles.

A imprensa do mundo todo acompanha o caso com atenção. A rede norte-americana CNN, por exemplo, fez matéria a respeito, bem como vários canais de televisão europeus. Se o caso terminar em “pizza”, como se teme, a mancha vai marcar para sempre toda esta geração de políticos. O Congresso está com a faca e o queijo nas mãos para se redimir ou cair no ridículo.       

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 28 de janeiro de 1994)


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