Best-seller
do verão
Pedro J. Bondaczuk
O best-seller deste verão, o livro mais procurado
pelos brasileiros nos últimos dias, não é, como se poderia pensar, sobre
literatura (romance, conto, novela, poesia ou crítica). Nem versa sobre
administração, marketing ou economia, que estão na moda, atualmente. Não se
trata de obra científica, filosófica nem de biografia, memórias ou ciência
política.
O autor mais procurado não é Humberto Eco, nem Jean
Baudrillard, nem Toni Morrison, a ganhadora do Prêmio Nobel de Literatura do
ano passado. É Roberto Magalhães! O deputado, claro! O best-seller deste verão
é o relatório final da recém-encerrada Comissão Parlamentar de Inquérito, que
apurou a manipulação do Orçamento da União.
Já existem 15 mil pedidos da obra à gráfica do
Senado e estima-se que essas encomendas devam aumentar muito, já que o
documento foi aprovado somente na sexta-feira passada. O número de volumes
encomendado, ressalte-se, é cinco vezes maior do que a tiragem regular de
livros no Brasil. Está aí um recado claro, claríssimo, da sociedade para o
Congresso.
A opinião pública não está disposta a permitir que
as apurações da CPI caiam num vazio e tudo termine, como ocorreu em inúmeras
vezes, em “pizza”. Os olhos de todo o País estão voltados para os homens
incumbidos de dar um fecho prático às apurações de fraudes, falsidade
ideológica, enriquecimento ilícito, falsificações e toda a sorte de crimes
contra a economia popular cometida por essa máfia, que não soube desempenhar
com honestidade a procuração recebida do eleitorado.
Esses homens que mancharam a reputação do Parlamento
e se apossaram, indevidamente, do que não lhes pertencia, não podem sair
impunes. As provas do roubo estão nas mãos dos congressistas, que se não
cassarem os mandatos dos prevaricadores e não encaminharem os respectivos
processos à Justiça, estarão se acumpliciando a eles.
A imprensa do mundo todo acompanha o caso com
atenção. A rede norte-americana CNN, por exemplo, fez matéria a respeito, bem
como vários canais de televisão europeus. Se o caso terminar em “pizza”, como
se teme, a mancha vai marcar para sempre toda esta geração de políticos. O
Congresso está com a faca e o queijo nas mãos para se redimir ou cair no
ridículo.
(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio
Popular, em 28 de janeiro de 1994)
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