Basta
ler nas entrelinhas
Pedro J. Bondaczuk
O
líder soviético, Mikhail Gorbachev, passará por sua "prova de fogo"
internacional, de fato, em dezembro próximo, quando no dia 7 desse mês
desembarcar em Washington para uma histórica visita aos Estados Unidos. Não que
suas reuniões com o presidente norte-americano, Ronald Reagan, em 19 e 20 de
novembro de 1985, em Genebra, e em 10 e 11 de outubro de 1986, em Reykjavik,
não tenham mostrado a sua capacidade de estadista.
Mas,
pela primeira vez, ele vai estar, frente a frente, com o seu maior antagonista,
fora de território neutro. Estará na própria casa do oponente, sob as câmeras
das televisões do mundo todo e sob o foco da imprensa mundial. Tudo o que fizer
ou disser, será, certamente, relatado. Portanto, não pode cometer nenhuma
"gafe", se não quiser ver ruir por terra a imagem que construiu
cuidadosamente em menos de três anos de permanência no Cremlin.
Gorbachev
tem tudo para se projetar de vez como um dos mais destacados estadistas deste
fim de século. Na próxima semana, o regime que dirige completa 70 anos.
Espera-se que o líder soviético comece, na oportunidade, a sua
"mise-en-scene", libertando uma série de dissidentes e possivelmente
o piloto alemão Mathias Rust.
Isto
vai contar pontos, quando debater a questão dos direitos humanos com Reagan.
Pode ser, até, que decida algo ainda mais surpreendente, envolvendo o
Afeganistão, ou o Camboja (este ocupado por tropas vietnamitas) ou ambos os
países. Seria uma vulnerabilidade a menos para a reunião de cúpula. Uma coisa é
certa: alguma medida de impacto será, certamente, anunciada para preparar
terreno para o momento maior, que pode ser o da consagração ou o da decepção.
Em
nosso comentário de ontem, ousamos afirmar que o encontro de Washington, que
nessa altura ainda estava em risco de não vir a ser realizado, aconteceria com
toda a certeza. E justificamos a razão: os dois dirigentes das superpotências
precisam fortalecer suas imagens em nível internacional (por motivos
diferentes, é óbvio) para fazer frente às oposições internas. E não deu outra.
Mal
a carta de Gorbachev a Reagan foi entregue, ontem, na Casa Branca, pelo
chanceler Eduard Shevardnadze, lá estava o que todos esperavam: a tão aguardada
data para o histórico encontro. Os líderes mundiais são muito mais previsíveis
do que se pensa. Basta, apenas, que se saiba "ler nas entrelinhas"
das suas declarações.
(Artigo
publicado na página 10, Internacional, do Correio Popular, em 31 de outubro de
1987)
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