Caminho da moderação
Pedro J. Bondaczuk
A União Soviética
contemporânea, da época que poderíamos denominar como sendo a do pós-comunismo,
tem tantas correntes de pensamento quantas são as nacionalidades que compõem a
Federação. Ou seja, virtualmente, mais de uma centena. Todas elas constituem
potenciais embriões de partidos, à espera, apenas, da legalização do
multipartidarismo no país.
Essas facções vão desde os
monarquistas, que pregam a volta dos czares, a fanáticos religiosos, de todos
os matizes e graus de fanatismo. Parece, portanto, que depois de uma letargia
de sete décadas, o urso está despertando de sua hibernação e voltando a pensar,
embora de maneira inquestionavelmente caótica.
Das múltiplas vertentes
ideológicas que se apresentam, quatro merecem destaque. A primeira é a dos
conservadores comunistas de linha-dura, que têm em Joseph Stalin ainda
o seu paradigma. Embora essa corrente tenha inegável força, está,
evidentemente, na contramão da história.
A segunda e a terceira
correntes são constituídas por reformistas, mas em graus variáveis no que se
refere à abrangência e profundidade das reformas. O grupo liderado pelo
presidente russo, Boris Yeltsin, quer mudanças radicais, profundas, imediatas,
sem se importar com as conseqüências. Isto, porém, se nos afigura impossível,
pelo menos nas atuais circunstâncias e conduziria a União Soviética à
desagregação, senão ao caos de uma guerra civil indescritível.
Já a corrente encabeçada
por Mikhail Gorbachev (que, aliás, foi o grande detonador das mudanças na URSS
e que, por isso mesmo, arca com os ônus de um Estado ineficiente e de dimensões
inéditas em todos os tempos), evidentemente, sabe que é preciso mudar. Tanto é
que os dois grandes projetos reformistas, quer econômicos, quer políticos e
sociais, são de sua autoria: a perestroika e a glasnost.
Mas o presidente soviético
defende que tudo se faça gradualmente, passo a passo, já que pessoas,
evidentemente, não são números estatísticos e serão elas que irão arcar com as
conseqüências das reformas. Os soviéticos que ainda o combatem não se deram
conta do humanismo com que seu líder máximo vem agindo.
Finalmente, no extremo
oposto dos conservadores estão os radicais. Estes defendem o fim, puro e
simples, do comunismo. Querem que o gigante euro-asiático volte a ter a mesma
conformação geográfica e política de antes de 1917. Só que se esquecem de dizer
à população como as coisas eram, de fato, então.
Omitem a informação de que,
enquanto uma reduzidíssima elite esbanjava comida, em festas intermináveis,
reunindo todo o jet-set internacional, milhões e milhões de cidadãos vegetavam
na mais abjeta miséria. Milhares morriam de fome e, quando sequer pensavam em
protestar, eram reprimidos e massacrados pela truculenta polícia czarista.
A história registra isso.
Basta consultar esses registros. Nenhum soviético de bom-senso aceita isso de
novo. De todos os caminhos propostos para a União Soviética, o Ocidente apóia o
escolhido por Gorbachev. Nem é preciso ser nenhum perito em política para se
enxergar que a alternativa apontada por ele é a única prudente, senão possível.
O resto? Bem, o resto não passa de mero aventureirismo de quem apenas busca
projeção pessoal e notoriedade.
(Artigo
publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 20 de junho de 1990).
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