Quem vai custear a “guerra nas estrelas”?
As negociações, iniciadas com tanto estardalhaço dia 12
passado, em Genebra, entre norte-americanos e soviéticos, visando à redução dos
arsenais nucleares das superpotências, deverão começar a “esquentar”, de fato,
a partir de amanhã.
Passado o primeiro impacto da
mudança de poder no Cremlin, os russos, certamente, deixarão de lado a fase das
cortesias e salamaleques e vão entrar de rijo na questão crucial das
conversações: o projeto “guerra nas estrelas”. E os debates, certamente
acalorados, serão agravados pela decisão belga, tomada num momento francamente
inoportuno, de autorizar a instalação dos primeiros 16 mísseis Cruise
norte-americanos (de um total de 48 que lhe cabe), em seu território, tarefa
que, inclusive, já começou a ser executada.
Recorde-se que os negociadores
soviéticos abandonaram a mesa de negociações em 1983 exatamente por causa da
decisão de se começar a montar, em âmbito europeu, os balísticos de alcance
médio da Otan cujos alvos são exatamente o coração da União Soviética.
Essa providência, teoricamente
posta em prática para contrabalançar o poderio de fogo russo no continente,
detonou uma corrida armamentista cujos resultados vão demorar muitos anos para
se saber com exatidão quais foram.
Mas o eixo, em torno do qual irão
girar as presentes negociações é, sem dúvida, o projeto de “guerra nas
estrelas”, do presidente norte-americano Ronald Reagan. Estima-se que o mesmo
irá custar a toda a humanidade (pois não serão apenas os Estados Unidos que
irão financiar essa aventura), a bagatela de US$ 1 trilhão, um terço de toda a
riqueza que esse povo, o mais rico do mundo, conseguiu amealhar ao longo de
toda a sua história. E o pior de tudo, é que nem se sabe até que ponto a chamada
“Iniciativa de Defesa Estratégica” será realmente viável.
Os orçamentos militares das
superpotências ultrapassaram, somadas, a barreira dos US$ 500 bilhões, há pouco
menos de cinco anos. E o que aconteceu à economia mundial nesse período?
Recessão, desemprego e dificuldades de toda a sorte em praticamente todos os
países da comunidade internacional. Seria mera coincidência, sem que ambos os
fatos tenham relação entre si?
Caso não se ponha um termo a mais
essa corrida megalomaníaca, os orçamentos militares dos Estados Unidos e da
União Soviética irão crescer até a estratosfera. E todos os esforços,
sacrifícios e frustrações que enfrentamos no dia a dia, com os olhos fitos num
futuro melhor (que nunca chega) e num mundo ideal de justiça e fraternidade (que
poucos ainda acreditam ser possível), serão canalizados para uma única e
diabólica direção: para a destruição, não apenas de nossos sonhos e ideais, mas
de todos os seres vivos que povoam este planeta. Vale a pena tentar?
(Artigo publicado na página 13, Internacional, do Correio Popular, em 19
de março de 1985).
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