Thursday, February 12, 2015

Quem vai custear a “guerra nas estrelas”?


Pedro J. Bondaczuk


As negociações, iniciadas com tanto estardalhaço dia 12 passado, em Genebra, entre norte-americanos e soviéticos, visando à redução dos arsenais nucleares das superpotências, deverão começar a “esquentar”, de fato, a partir de amanhã.

Passado o primeiro impacto da mudança de poder no Cremlin, os russos, certamente, deixarão de lado a fase das cortesias e salamaleques e vão entrar de rijo na questão crucial das conversações: o projeto “guerra nas estrelas”. E os debates, certamente acalorados, serão agravados pela decisão belga, tomada num momento francamente inoportuno, de autorizar a instalação dos primeiros 16 mísseis Cruise norte-americanos (de um total de 48 que lhe cabe), em seu território, tarefa que, inclusive, já começou a ser executada.

Recorde-se que os negociadores soviéticos abandonaram a mesa de negociações em 1983 exatamente por causa da decisão de se começar a montar, em âmbito europeu, os balísticos de alcance médio da Otan cujos alvos são exatamente o coração da União Soviética.

Essa providência, teoricamente posta em prática para contrabalançar o poderio de fogo russo no continente, detonou uma corrida armamentista cujos resultados vão demorar muitos anos para se saber com exatidão quais foram.

Mas o eixo, em torno do qual irão girar as presentes negociações é, sem dúvida, o projeto de “guerra nas estrelas”, do presidente norte-americano Ronald Reagan. Estima-se que o mesmo irá custar a toda a humanidade (pois não serão apenas os Estados Unidos que irão financiar essa aventura), a bagatela de US$ 1 trilhão, um terço de toda a riqueza que esse povo, o mais rico do mundo, conseguiu amealhar ao longo de toda a sua história. E o pior de tudo, é que nem se sabe até que ponto a chamada “Iniciativa de Defesa Estratégica” será realmente viável.

Os orçamentos militares das superpotências ultrapassaram, somadas, a barreira dos US$ 500 bilhões, há pouco menos de cinco anos. E o que aconteceu à economia mundial nesse período? Recessão, desemprego e dificuldades de toda a sorte em praticamente todos os países da comunidade internacional. Seria mera coincidência, sem que ambos os fatos tenham relação entre si?

Caso não se ponha um termo a mais essa corrida megalomaníaca, os orçamentos militares dos Estados Unidos e da União Soviética irão crescer até a estratosfera. E todos os esforços, sacrifícios e frustrações que enfrentamos no dia a dia, com os olhos fitos num futuro melhor (que nunca chega) e num mundo ideal de justiça e fraternidade (que poucos ainda acreditam ser possível), serão canalizados para uma única e diabólica direção: para a destruição, não apenas de nossos sonhos e ideais, mas de todos os seres vivos que povoam este planeta. Vale a pena tentar?

(Artigo publicado na página 13, Internacional, do Correio Popular, em 19 de março de 1985).


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