Casa dividida não prospera
Pedro
J. Bondaczuk
O fato do presidente eleito da Argentina, Carlos Saul
Menem, assumir o poder com cinco meses de antecedência, em relação ao prazo
previsto pela Constituição, aumenta um pouco mais a sua responsabilidade. Faz
dele, mais do que nunca, um autêntico “salvador da pátria”, imagem por sinal
criada pelos próprios eleitores em 14 de maio passado, quando da sua escolha,
logicamente (caso contrário a maioria teria votado noutro candidato) em relação
aos demais.
Seria até acaciano afirmar que o
futuro mandatário vai ter pela frente uma soma de problemas capaz de apavorar
até o mais fleugmático dos políticos. Estes vão desde uma hiperinflação, que
ameaça emplacar uma taxa mensal de três dígitos no corrente mês, da ordem de
108% a 110%, à irresoluta crise militar.
Por essa razão, Menem deve estar
muito bem respaldado, pelo menos em seu próprio partido, o Justicialista, que é
como o peronismo é conhecido. Todavia, não é isso o que está ocorrendo, com a
grande divisão causada pelo presidente eleito, ao escolher gente de fora para a
composição do seu ministério. A divisão ficou mais nítida do que nunca, quando
líderes sindicais vieram a público para tecer severas críticas a essa decisão.
Dizer que existe algum partido
político coeso, a salvo de divisionismos, em qualquer parte do mundo, é ignorar
a própria natureza humana. Dissenções e divergências entre copartidários são
muito mais comuns do que se pensa ou se admite. Afinal, duas cabeças jamais
irão pensar de forma exatamente igual acerca de qualquer tema, por mais
consensual que ele possa parecer.
Às vezes, as diferenças residem
somente em minúcias, em detalhes irrisórios, mas elas sempre existiram e vão
existir. Até mesmo em partidos que se dizem monolíticos, como os comunistas,
por exemplo. O homem é competitivo por excelência e nessa competição, cada qual
procura, mesmo que negue, se sobressair.
Aliás, acerca desse tema, o
ex-diretor da RCA Victor norte-americana, David Sernoff, disse certa vez uma
frase lapidar. Afirmou: “A competição revela os melhores produtos e o que há de
pior nos homens”. Sutil, verdadeira e irônica, não é verdade?
Mas há um ditado popular que diz
que “uma casa dividida não prospera”. Com o divisionismo vindo à tona no
peronismo (que por sinal é uma frente, como o nosso PMDB, onde tendências
muitas vezes antagônicas convivem, embora se hostilizem e vivam trocando
farpas), se pode prever, portanto, dias muito difíceis para Menem.
Inclusive não está descartada a
hipótese dea ocorrência de greves gerais, que tanto perturbaram o governo de
Raul Alfonsin. Afinal, o maior adversário do presidente eleito, dentro do
peronismo é, nem mais e nem menos, o todopoderoso presidente da Confederação
Geral do Trabalho, Saul Ubaldini...
(Artigo publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 28
de junho de 1989)
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