Nazi-fascismo ressurge
Pedro J. Bondaczuk
A região da Normandia, na França, começa a receber
chefes de governo e de Estado dos países mais prósperos e livres da atualidade
para celebrar os 50 anos, que transcorrem nesta segunda-feira (6 de junho de
1994), de um dos momentos decisivos do presente século, conhecido como
"Dia D".
Foi o início da invasão aliada na Europa, para
expulsar e finalmente derrotar os exércitos nazistas de Adolf Hitler. Milhares
de homens deixaram suas vidas nas praias inóspitas do Canal da Mancha por um
ideal de liberdade.
Passado meio século, os mesmos fatores que
permitiram o surgimento desse terrível pesadelo estão perigosamente presentes.
Os neofascistas obtiveram êxito nas eleições de março passado, na Itália, e
conquistaram cinco ministérios no governo do primeiro-ministro Sílvio
Berlusconi, que causou arrepios de preocupação, durante a semana, com seus
elogios a Benito Mussolini.
Na Alemanha, apesar do grau de esclarecimento da
presente geração, os nazistas conquistam crescentemente adeptos.
Ultranacionalistas manifestam-se no Japão e tudo fazem para manter na memória
dos japoneses o passado militarista do país, que redundou num terrível desastre
para milhões de pessoas.
As mesmas odiosas idéias de preconceito e segregação
racial ressurgem e se espalham por toda a parte, num brutal desrespeito pelos
milhares de soldados que deram suas vidas para garantir a liberdade dos seus
semelhantes, há 50 anos.
Bósnia, Rússia, Geórgia, Criméia, Somália, Ruanda.
As lutas étnicas se sucedem, mostrando que o sofrimento não é tão didático
quanto se pensa e que milhões de seres humanos pouco ou nada aprenderam com os
acontecimentos dramáticos, terríveis, apavorantes e sangrentos deste século.
A apregoada "Nova Era", preconizada pelo
ex-presidente norte-americano George Bush, em dezembro de 1989, tão logo firmou
um histórico acordo com seu colega soviético, Mikhail Gorbachev, ao largo da
ilha de Malta, no Mediterrâneo, pondo fim à Guerra Fria, ainda não passa de
mero desejo.
Ao contrário do que possa parecer, os riscos de
destruição da humanidade aumentaram, e não diminuíram, de lá para cá. Países
novos, com povos despreparados, emergiram, repletos de vociferantes
pseudolíderes, a rosnar um nacionalismo arcaico e xenófobo e a exigir ação preventiva
agora, para não ter que lamentar depois.
(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio
Popular, em 5 de junho de 1994).
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