Wednesday, February 25, 2015

A Saúde na UTI


Pedro J. Bondaczuk


O Brasil é um país de contrastes, mas em nenhum setor este é maior do que no do atendimento de saúde oferecido à sua população. Temos o melhor e o pior convivendo lado a lado. O excelente, é óbvio, está reservado à minoria que pode pagar (e bem) pelos serviços prestados.

O atrasado, o medieval, o perigoso, o irresponsável fica para a imensa maioria, para os "excluídos", para os deserdados, para os (usando uma expressão que deu título a um livro célebre de Fedor Dostoiewsky) "humilhados e ofendidos" que são cerca de 120 milhões de brasileiros.

Depois dos meios de comunicação haverem ressaltado, em manchetes e em editoriais, aberrações tais como as mortes causadas por contaminação em tratamentos de hemodiálise (em duas clínicas de Caruaru) e óbitos de idosos em instituições geriátricas (notadamente a Clínica Santa Genoveva do Rio), entre tantas outras, o noticiário se concentra, agora, no "genocídio" de bebês em berçários de maternidades. Das que atendem a população carente, é óbvio.

Entre julho e quinta-feira passada, foram reportados 130 casos de recém-nascidos que morreram em circunstâncias no mínimo estranhas, para não dizer suspeitas. Muitos foram vítimas de infecção hospitalar. Ou seja, da negligência dos "(ir)responsáveis" pelo seu nascimento com saúde. Outros são frutos da crise social que parece se eternizar no País.

Não é a nossa medicina, todavia, que merece reparos. Temos os melhores entre os melhores. Exemplo? O novo gênio médico mundial, pouco conhecido no Brasil (afinal não é cantor nem jogador de futebol), mas com sólida reputação no Primeiro Mundo, a ponto de ser bastante cotado para ganhar o Prêmio Nobel no ano que vem ou nos próximos (com amplos méritos).

Trata-se do cirurgião de Curitiba, Randas Vilela Batista, que teria sido, inclusive, consultado pela equipe que recentemente operou o presidente russo, Bóris Yeltsin. E é um médico brasileiro!

Um novo método cirúrgico que desenvolveu, chamado vulgarmente de "nhaco", vem salvando vidas e evitando despesas e sofrimentos inúteis. A técnica é considerada, pelo seu arrojo, a maior revolução da medicina nos últimos 30 anos. Evita transplantes e pontes de safena e consiste no corte de grande parte do ventrículo de um coração doente. A recuperação do paciente é rápida e absoluta.

Pois bem, o mesmo país que conta com esse gênio, forma, em faculdades absolutamente sem condições, meras "fábricas de diplomas", profissionais que cometem erros primários. A mesma medicina que causa espanto ao mundo pelas soluções inovadoras que encontra, lamenta tantas perdas de vida que poderiam ser salvas com um mínimo de responsabilidade. Todo o sistema de saúde brasileiro precisa ser repensado. O ser humano, pelo menos nesse aspecto fundamental, tem o direito (consagrado na Carta das Nações Unidas) de ser considerado apenas "pelo que é"‚ e não "pelo que tem".

(Artigo publicado na página 3, Opinião, do Correio Popular, em 22 de novembro de 1994)



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