A Saúde na UTI
Pedro J. Bondaczuk
O
Brasil é um país de contrastes, mas em nenhum setor este é maior do que no do
atendimento de saúde oferecido à sua população. Temos o melhor e o pior
convivendo lado a lado. O excelente, é óbvio, está reservado à minoria que pode
pagar (e bem) pelos serviços prestados.
O
atrasado, o medieval, o perigoso, o irresponsável fica para a imensa maioria,
para os "excluídos", para os deserdados, para os (usando uma
expressão que deu título a um livro célebre de Fedor Dostoiewsky)
"humilhados e ofendidos" que são cerca de 120 milhões de brasileiros.
Depois
dos meios de comunicação haverem ressaltado, em manchetes e em editoriais,
aberrações tais como as mortes causadas por contaminação em tratamentos de
hemodiálise (em duas clínicas de Caruaru) e óbitos de idosos em instituições
geriátricas (notadamente a Clínica Santa Genoveva do Rio), entre tantas outras,
o noticiário se concentra, agora, no "genocídio" de bebês em
berçários de maternidades. Das que atendem a população carente, é óbvio.
Entre
julho e quinta-feira passada, foram reportados 130 casos de recém-nascidos que
morreram em circunstâncias no mínimo estranhas, para não dizer suspeitas.
Muitos foram vítimas de infecção hospitalar. Ou seja, da negligência dos
"(ir)responsáveis" pelo seu nascimento com saúde. Outros são frutos
da crise social que parece se eternizar no País.
Não
é a nossa medicina, todavia, que merece reparos. Temos os melhores entre os
melhores. Exemplo? O novo gênio médico mundial, pouco conhecido no Brasil
(afinal não é cantor nem jogador de futebol), mas com sólida reputação no
Primeiro Mundo, a ponto de ser bastante cotado para ganhar o Prêmio Nobel no
ano que vem ou nos próximos (com amplos méritos).
Trata-se
do cirurgião de Curitiba, Randas Vilela Batista, que teria sido, inclusive,
consultado pela equipe que recentemente operou o presidente russo, Bóris
Yeltsin. E é um médico brasileiro!
Um
novo método cirúrgico que desenvolveu, chamado vulgarmente de
"nhaco", vem salvando vidas e evitando despesas e sofrimentos
inúteis. A técnica é considerada, pelo seu arrojo, a maior revolução da
medicina nos últimos 30 anos. Evita transplantes e pontes de safena e consiste
no corte de grande parte do ventrículo de um coração doente. A recuperação do
paciente é rápida e absoluta.
Pois
bem, o mesmo país que conta com esse gênio, forma, em faculdades absolutamente
sem condições, meras "fábricas de diplomas", profissionais que
cometem erros primários. A mesma medicina que causa espanto ao mundo pelas
soluções inovadoras que encontra, lamenta tantas perdas de vida que poderiam
ser salvas com um mínimo de responsabilidade. Todo o sistema de saúde
brasileiro precisa ser repensado. O ser humano, pelo menos nesse aspecto
fundamental, tem o direito (consagrado na Carta das Nações Unidas) de ser
considerado apenas "pelo que é"‚ e não "pelo que tem".
(Artigo
publicado na página 3, Opinião, do Correio Popular, em 22 de novembro de 1994)
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