Reféns do narcotráfico
Pedro J. Bondaczuk
A violência no Rio de
Janeiro, em virtude da atuação do crime organizado nos principais morros da
cidade, atinge proporções absolutamente intoleráveis. A situação carioca já se
caracteriza como estado de guerra civil. Exagero? Claro que não!
Qualquer
pessoa que se dispuser a pôr sua vida em risco pode ir lá e conferir. O
narcotráfico fez ali o que o Cartel de Medellin havia feito na Colômbia, em
fins da década passada e início desta. Não há um único dia em que os meios de
comunicação, em especial a televisão – que conta com o recurso
irresistivelmente convincente da imagem – não mostrem confrontos armados entre
bandidos e a polícia.
A
população, especialmente as pessoas que vivem em prédios vizinhos dos morros,
se sente abandonada. Está exposta, a cada momento, dia e noite, dentro do
próprio lar, às balas perdidas dos tiroteios constantes, que têm feito um
número de vítimas comparável ao produzido por franco-atiradores em Sarajevo.
Os
cidadãos estão servindo de alvo, como aqueles patos existentes em parques
infantis para treinar pontaria. Só que se trata de seres humanos. De pessoas
honestas, que pagam seus impostos e portanto têm direito à segurança. Imagens
de cadáveres expostos na rua, ou retirados de porta-malas de automóveis,
tornaram-se rotineiras nos canais de televisão. Repórteres escalados para
cobrir batidas policiais, nos redutos dos traficantes, correm riscos maiores do
que correspondentes de guerra. Faz sentido?
Atribuir
a violência, desatada pelos narcotraficantes, só à situação social do País é
simplista demais. Raia à burrice! Quem faz isso não está na linha de fogo e
portanto, pode se dar o luxo de ser pedante ou irresponsável. Afinal, “pimenta
nos olhos dos outros...”
E
os políticos, o que fazem? Tentam negar as evidências. Atribuem o noticiário
sobre a criminalidade na segunda maior cidade brasileira a “campanhas” contra
eles, se auto atribuindo importância maior do que na verdade têm. Com isso,
propositalmente ou não, só fazem o jogo do crime organizado.
No
Rio de Janeiro, o Estado perdeu as condições de impor as leis. Delegacias são
freqüentemente atacadas. Algumas chegaram a montar barricadas, ou a se
transformar em bunkers, para se livrar de ataques. Os criminosos provam que o
poder de fato está em suas mãos.
Daí
ser preciso deixar de lado essas baboseiras típicas de políticos sem
iniciativa, ou seja, da formação das tais “comissões” para “estudar” problemas,
e agir com energia, bom senso e decisão. E fazer isso já!
Cerca
de 1,5 milhão de cariocas – o equivalente à população total de metrópoles de
porte médio européias, ou à metade dos habitantes da região de Campinas – são
reféns das organizações criminosas. São obrigados, até, a enfrentar a própria
polícia, pois se não o fizerem, acabam mortos.
Os
maus exemplos costumam frutificar. Caso o crime organizado seja o vencedor
dessa guerra no Rio, sabe-se lá qual será o seu próximo passo. Uma lei natural
– como a da oferta e da procura – é a que diz que “o poder não admite vácuos”.
Na ex-capital federal, na outrora Cidade Maravilhosa, os narcotraficantes estão
ocupando o vazio deixado pela perda de autoridade dos seus administradores.
(Artigo
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 26 de outubro de 1994).
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