Sunday, February 22, 2015

Tarefa de reconstrução


Pedro J. Bondaczuk


Os peruanos, enfrentando senão a pior, pelo menos uma das mais perversas crises da sua história, vão às urnas, amanhã, para eleger o sucessor do presidente Alan Garcia Perez, que frustrou as esperanças da população após haver chegado, há cinco anos, triunfalmente ao poder, desafiando céus e terras. Finda a sua gestão, no entanto, deixa como legado a seu sucessor o agravamento dos problemas que herdou de Fernando Belaunde Terry. A inflação está em disparada, atingindo 2.069% em 12 meses. A violência política está muito pior do que em 1985, fazendo com que o número de mortos, principalmente em conseqüência da ação das guerrilhas "Sendero Luminoso" e "Tupac Amaru" ascenda a 18 mil, como se o Peru vivesse uma guerra civil. Tudo isso se reflete num estado de incrível miserabilidade de sua população, que está assustada, desanimada e revoltada, logicamente.

Os dez milhões de eleitores, que a princípio pareciam que iriam consagrar o escritor Mário Vargas Llosa com uma votação massacrante, decidindo o pleito já no primeiro turno, se mostraram agora mais relutantes, quando o momento da decisão se aproxima. Nas últimas horas verificou-se o crescimento assustador do candidato independente Alberto Fujimori, filho de imigrantes japoneses e que concorre pelo "Câmbio 90", que atropelou, na reta de chegada, o até então segundo colocado nas pesquisas, Luís Alva Castro, com possibilidade de chegar a um segundo turno.

Os peruanos teriam ficado assustados com um pronunciamento feito pelo romancista, que postula à Presidência por uma frente partidária de centro-direita, em que este apoiou o plano econômico posto em prática no Brasil pelo presidente Fernando Collor de Mello. Procedente ou não tal versão, o fato é que depois desse apoio, Llosa perdeu oito pontos percentuais nas intenções de voto. Aliás, não somente no Peru, mas em qualquer lugar, ninguém vence uma eleição por antecedência.

A situação no país é tão crítica, que foi implantado o "estado de emergência" em Lima e em oito províncias por causa da ameaça guerrilheira. Há soldados e tanques por toda a parte e o clima é de tensão e de medo. Oxalá o sucessor daquele que for eleito amanhã, (seja o favorito Vargas Llosa, seja a "zebra" do pleito, Fujimori, seja Castro ou o esquerdista Alfonso Barrantes) possa entregar a presidência com uma situação bem diferente. Com os peruanos recuperando as esperanças, melhorando progressivamente sua renda e com os problemas internos e externos, senão totalmente equacionados, pelo menos bem encaminhados. E principalmente com a sociedade pacificada, extirpando de vez a violência, que nunca foi (e em lugar algum) o instrumento para mudar para melhor qualquer comunidade humana.


(Artigo publicado na página 11, Internacional, do Correio Popular, em 7 de abril de 1990)

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