Tarefa de reconstrução
Pedro J. Bondaczuk
Os
peruanos, enfrentando senão a pior, pelo menos uma das mais perversas crises da
sua história, vão às urnas, amanhã, para eleger o sucessor do presidente Alan
Garcia Perez, que frustrou as esperanças da população após haver chegado, há
cinco anos, triunfalmente ao poder, desafiando céus e terras. Finda a sua
gestão, no entanto, deixa como legado a seu sucessor o agravamento dos
problemas que herdou de Fernando Belaunde Terry. A inflação está em disparada,
atingindo 2.069% em 12 meses. A violência política está muito pior do que em
1985, fazendo com que o número de mortos, principalmente em conseqüência da
ação das guerrilhas "Sendero Luminoso" e "Tupac Amaru"
ascenda a 18 mil, como se o Peru vivesse uma guerra civil. Tudo isso se reflete
num estado de incrível miserabilidade de sua população, que está assustada,
desanimada e revoltada, logicamente.
Os
dez milhões de eleitores, que a princípio pareciam que iriam consagrar o
escritor Mário Vargas Llosa com uma votação massacrante, decidindo o pleito já
no primeiro turno, se mostraram agora mais relutantes, quando o momento da
decisão se aproxima. Nas últimas horas verificou-se o crescimento assustador do
candidato independente Alberto Fujimori, filho de imigrantes japoneses e que
concorre pelo "Câmbio 90", que atropelou, na reta de chegada, o até
então segundo colocado nas pesquisas, Luís Alva Castro, com possibilidade de
chegar a um segundo turno.
Os
peruanos teriam ficado assustados com um pronunciamento feito pelo romancista,
que postula à Presidência por uma frente partidária de centro-direita, em que
este apoiou o plano econômico posto em prática no Brasil pelo presidente
Fernando Collor de Mello. Procedente ou não tal versão, o fato é que depois
desse apoio, Llosa perdeu oito pontos percentuais nas intenções de voto. Aliás,
não somente no Peru, mas em qualquer lugar, ninguém vence uma eleição por
antecedência.
A
situação no país é tão crítica, que foi implantado o "estado de
emergência" em Lima e em oito províncias por causa da ameaça guerrilheira.
Há soldados e tanques por toda a parte e o clima é de tensão e de medo. Oxalá o
sucessor daquele que for eleito amanhã, (seja o favorito Vargas Llosa, seja a
"zebra" do pleito, Fujimori, seja Castro ou o esquerdista Alfonso
Barrantes) possa entregar a presidência com uma situação bem diferente. Com os
peruanos recuperando as esperanças, melhorando progressivamente sua renda e com
os problemas internos e externos, senão totalmente equacionados, pelo menos bem
encaminhados. E principalmente com a sociedade pacificada, extirpando de vez a
violência, que nunca foi (e em lugar algum) o instrumento para mudar para
melhor qualquer comunidade humana.
(Artigo
publicado na página 11, Internacional, do Correio Popular, em 7 de abril de
1990)
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