Sunday, February 01, 2015

A régua e o compasso


Pedro J. Bondaczuk


O País, de acordo com estudo baseado em dados extraídos da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, tem 15 milhões de crianças entre zero e 18 anos de idade, sobrevivendo na indigência. É outra cifra, entre tantas, a reforçar a necessidade, nunca questionada mas também jamais atendida, de um programa competente, honesto e equilibrado, de resgate social. A situação da grande maioria dos brasileiros chegou a um ponto insustentável, que não admite mais omissões e nem meias medidas.

Depois de perder praticamente toda uma geração --- que aguardou pacientemente, durante as últimas três décadas, o "bolo da riqueza crescer" para ganhar pelo menos um pedaço dele (e nunca ganhou) ---o Brasil corre o risco de também comprometer as futuras.

O que é melhor para o País, ter 15 milhões de técnicos, professores, cientistas, profissionais liberais e operários qualificados ou essa mesma quantidade de traficantes, ladrões, prostitutas, gigolôs e mendigos? A resposta é óbvia.

Mas para que isso ocorra, para que o potencial humano não continue a ser desperdiçado, é preciso que haja um consistente projeto nacional. O resgate da cidadania certamente não cairá do céu. É necessária uma política de desenvolvimento auto-sustentado, que não dependa exclusivamente de capitais externos (com as respectivas imposições feitas pelos que os venham a emprestar).

O governo, qualquer que seja (o atual ou o que for escolhido nas urnas em 3 de outubro próximo), precisa definir prioridades na área social e investir nelas. Fazer inversões nas atividades que absorvam mão de obra, principalmente a não qualificada. Apóie e estimule a iniciativa privada a gerar milhões de empregos.

Antes de tudo, é indispensável vencer a inflação. E tomara que a introdução do Real, hoje, seja o caminho para isso. Ninguém pode ser adversário de uma moeda forte. O governo precisará de humildade para admitir e corrigir eventuais falhas de percurso que forem detectadas.

A sociedade tem o dever de colaborar, confiar e alertar as autoridades sempre que perceber distorções. O programa de ajuste não pode ter "donos". Este é o momento --- e não por causa do Real --- de acabar com as omissões, histórias, corrupções impunes e incompetência explícita ou implícita.

É preciso projetar, a "régua e compasso", um novo Brasil. Um país justo e humano em que um pai de família não passe pelo constrangimento de não ter onde trabalhar. Em que os idosos não terminem seus dias de forma indigna. Em que não haja, como agora, 15 milhões de crianças brasileiras vegetando na indigência.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 1 de julho de 1994).


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