A régua e o compasso
Pedro J. Bondaczuk
O
País, de acordo com estudo baseado em dados extraídos da Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílios do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, tem
15 milhões de crianças entre zero e 18 anos de idade, sobrevivendo na
indigência. É outra cifra, entre tantas, a reforçar a necessidade, nunca
questionada mas também jamais atendida, de um programa competente, honesto e
equilibrado, de resgate social. A situação da grande maioria dos brasileiros
chegou a um ponto insustentável, que não admite mais omissões e nem meias
medidas.
Depois
de perder praticamente toda uma geração --- que aguardou pacientemente, durante
as últimas três décadas, o "bolo da riqueza crescer" para ganhar pelo
menos um pedaço dele (e nunca ganhou) ---o Brasil corre o risco de também
comprometer as futuras.
O
que é melhor para o País, ter 15 milhões de técnicos, professores, cientistas,
profissionais liberais e operários qualificados ou essa mesma quantidade de
traficantes, ladrões, prostitutas, gigolôs e mendigos? A resposta é óbvia.
Mas
para que isso ocorra, para que o potencial humano não continue a ser
desperdiçado, é preciso que haja um consistente projeto nacional. O resgate da
cidadania certamente não cairá do céu. É necessária uma política de
desenvolvimento auto-sustentado, que não dependa exclusivamente de capitais
externos (com as respectivas imposições feitas pelos que os venham a
emprestar).
O
governo, qualquer que seja (o atual ou o que for escolhido nas urnas em 3 de
outubro próximo), precisa definir prioridades na área social e investir nelas.
Fazer inversões nas atividades que absorvam mão de obra, principalmente a não
qualificada. Apóie e estimule a iniciativa privada a gerar milhões de empregos.
Antes
de tudo, é indispensável vencer a inflação. E tomara que a introdução do Real,
hoje, seja o caminho para isso. Ninguém pode ser adversário de uma moeda forte.
O governo precisará de humildade para admitir e corrigir eventuais falhas de
percurso que forem detectadas.
A
sociedade tem o dever de colaborar, confiar e alertar as autoridades sempre que
perceber distorções. O programa de ajuste não pode ter "donos". Este
é o momento --- e não por causa do Real --- de acabar com as omissões,
histórias, corrupções impunes e incompetência explícita ou implícita.
É
preciso projetar, a "régua e compasso", um novo Brasil. Um país justo
e humano em que um pai de família não passe pelo constrangimento de não ter
onde trabalhar. Em que os idosos não terminem seus dias de forma indigna. Em
que não haja, como agora, 15 milhões de crianças brasileiras vegetando na
indigência.
(Artigo
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 1 de julho de 1994).
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