Tuesday, February 10, 2015

Ficcionista prolífico e brilhante

Pedro J. Bondaczuk

O escritor norte-americano (naturalizado norueguês) Richard Burton Matheson é incluído (com justiça) no seleto ranking dos dez ou doze principais autores de ficção científica. Sua obra literária é das mais extensas. E, a exemplo de alguns outros criadores de histórias do gênero, obteve renome, e consagrou-se junto ao público, com o auxílio do cinema e da televisão. Por que? Óbvio! Porque foi brilhante (e profícuo) roteirista. Dezenas de seus livros e de seus contos esparsos foram transformados em filmes, apesar de nem todos de grande sucesso ou mesmo conhecidos do grande público. Algumas características na obra e na vida de Richard Matheson chamam-me, particularmente, a atenção. Antes de explicar quais, cabe, aqui, uma explicação que já dei muitas vezes, mas que não custa reiterar.

Estes textos que partilho, diariamente, com vocês, neste espaço, são meros “comentários” pessoais, que não seguem regra alguma, a não ser a da observação exclusivamente minha. Não são sinopses, quando trato de livros, e nem críticas literárias, quando abordo, também, seus autores e respectivos estilos, embora possam conter (e ás vezes contenham) elementos de ambos. Também não são biografias, apesar de a todo o momento eu recorrer a aspectos biográficos dos personagens que enfoco. Não sei, portanto, que classificação lhes dar. E é preciso, ou indispensável, classificar? Entendo que não! Na minha cabeça, classifico-os, todavia, como crônicas.

Alguns, contudo, que se dizem meus leitores (e que não tenho a mínima certeza que de fato sejam) confundem estes meus textos – insisto, sem nenhum compromisso a não ser com a exatidão das informações que transmito – ora como sendo críticas literárias, ora como biografias e ora como sinopses de livros e cobram-me objetividade. Reitero: estão equivocados. Essas considerações diárias não passam de meros comentários (e só isso), alguns do quais são reproduções escritas dos que faço oralmente, em conversas com meu círculo de amigos. Daí sua descontração que muitos gostam e, outros tantos, abominam. Paciência! É como diz surrado clichê: “é impossível agradar, simultaneamente, a gregos e troianos”. Nunca tive essa pretensão.

Mas, voltando a Richard Matheson, que é o que importa, uma das primeiras coisas que me chamam a atenção em sua biografia é o fato de, embora nascido nos Estados Unidos (em 20 de fevereiro de 1926, na cidade de Allendale) e ter morrido nesse país (em 23 de junho de 2013, em Los Angeles, na Califórnia), ter assumido a cidadania norueguesa. Suponho (mas não tenho certeza) que foi uma homenagem aos seus pais, provenientes da Noruega.  Outro aspecto que me chama a atenção refere-se especificamente à sua morte. Ela não foi noticiada, praticamente, por nenhum órgão de comunicação de grande penetração junto ao público nem mesmo dos Estados Unidos. Mas foi registrada em rede social, no caso, no Facebook, com esta nota postada por sua filha, Ali Marie Matheson, conforme informa a enciclopédia eletrônica Wikipédia. Ela escreveu, em 24 de junho, esta mensagem privada: "O meu amado pai morreu ontem [domingo] em casa, rodeado de pessoas e coisas que amava. Era divertido, brilhante, carinhoso, generoso, criativo e o pai mais maravilhoso do mundo".

Richard Matheson deve, mesmo, ter sido um sujeito admirável. Entre outras coisas, inspirou três dos seus quatro filhos a se tornarem escritores, e de ficção científica. São eles: Chris, Richard Christian e Ali. Poucos pais têm essa felicidade e essa capacidade de mobilização, apenas pelo exemplo. Conheci esse homem de letras não propriamente através de livros (aliás, há poucos deles em português e menos ainda os publicados no Brasil), mas por uma série de televisão. Refiro-me a “Além da imaginação”, programa pelo qual eu era vidrado e que ele participou, escrevendo diversos episódios. Outra curiosidade a propósito desse escritor é que a estréia de Steven Spielberg em TV se deu dirigindo um filme baseado em um conto dele, no caso, “Duel”, inspirado em um episódio real em que o autor e um amigo trombaram com um grande caminhão.

Apesar de ter escrito dezenas de histórias de ficção científica (inclusive roteiros de cinema e de TV), entre os quais um dos episódios da série “Star Trek” (“Jornada nas estrelas”), no caso “O inimigo interior”, não se limitou a esse gênero. Compôs enredos de fantasia, de terror (adaptou vários contos de Edgar Alan Poe, tanto para o cinema, quanto para a televisão) e até um romance autobiográfico, no caso “The Beardless Warriors”, publicado em 1950. Não sei por qual carga d’água ficou conhecido como um dos precursores dos zumbis, por causa do seu célebre livro “Eu sou a lenda”. A esse propósito, lembro que partilhei com vocês, há uns três ou quatro anos, um ensaio que escrevi sobre o tema. Mas não relativo a absurdos “mortos vivos” (estes não existem, nunca existiram e jamais existirão, port razões óbvias), mas a casos de catalepsia provocados por determinadas drogas, vários dos quais ocorridos no Haiti.


Embora não tenha escrito só ficção científica – em boa parte de sua carreira dedicou-se a escrever, inclusive, enredos de faroeste, aliás muito bons – é neste gênero que Richard Matheson se consagrou e que será, provavelmente, sempre lembrado, fazendo jus, portanto, de figurar no ranking mais nobre da modalidade, ao lado de H. G. Wells, Isaac Asimov, Arthur C. Clarcke e outros grandes expoentes desse tipo de histórias. Talvez a vantagem que levou sobre os citados foi o fato de dedicar espaço (não raro até trinta páginas) para meticulosa análise da personalidade dos personagens que criou e de, mesmo enfocando temas não raro aterrorizantes, conseguir escrever com humor, mesmo que muitas vezes tendendo para a ironia.

Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk

No comments: