Riqueza
e educação
Pedro J. Bondaczuk
O economista norte-americano Lester Thurow, uma
espécie de guru do presidente Bill Clinton, disse, em conferência que fez em São Paulo , dia 1º de
dezembro de 1993, no 2º Fórum Internacional da Pequena Empresa, promovido pelo
Sebrae, que o Brasil só tem um caminho para sair da crise e promover o
desenvolvimento: educação. De nada valerá ao País contar com fartos recursos
naturais, com abundância de capitais e com vontade política. Esses fatores
ajudam, mas não são os fundamentais.
O que conta de verdade é o homem. Principalmente
quando o mundo ingressa numa era em que “o fazer em si” não é o mais
importante, mas sim o “como” produzir bens e serviços. Ou seja, num período em
que a informação se torna a grande riqueza.
Thurow, autor, entre outras obras, do polêmico livro
“Correntes perigosas: o estado da economia”, já havia feito idêntica observação
dias antes, ao falar para uma platéia de empresários em Porto Alegre ,
oportunidade em que acentuou que dos países em vias de desenvolvimento, o único
que, no seu entender, tem condições de se tornar rico é a China.
Dois dias depois, o economista, oriundo da Instituto
de Tecnologia de Massachusetts, advertiu, em São Paulo : “Sem que a
população esteja preparada, devidamente educada, vai ser muito difícil o Brasil
se tornar competitivo em tempo hábil”. Provavelmente, o visitante evitou de ser
mais incisivo, até por uma questão de cortesia. Afinal, a “profissão” do
brasileiro é a esperança.
Na verdade, sem educação, não vai ser somente
difícil o País ocupar um espaço nobre no mundo: será absolutamente impossível.
A principal riqueza de uma nação é o seu povo. Preparado, ele tem condições de
superar qualquer obstáculo e, desde que atue dentro de regras gerais e iguais
para todos e com um sentido solidário, em busca de um objetivo nacional maior,
não há obstáculo que impeça o seu desenvolvimento.
Estão aí os casos do Japão, da Alemanha e da Itália,
as três potências que compuseram o chamado “Eixo”, na Segunda Guerra Mundial,
que saíram do conflito arrasados e humilhados. E qual é o seu estágio hoje?! É
escusado mostrar qual é, já que sua força econômica está aí para todos verem.
O grande capital que pesou na balança para que
japoneses, alemães e italianos reconstruíssem seus respectivos países foi o
homem. Cada cidadão tornou-se uma “máquina” altamente produtiva, gerando
idéias, lançando empreendimentos, ousando extrair riquezas virtualmente do
nada.
E o Brasil? A situação brasileira foi retratada, em
29 de novembro de 1993, pelo próprio ministro da Educação, Murilo Hingel, que
afirmou: “O Brasil é um dos grandes países que menos investem em educação no
mundo”. E sequer estamos falando em qualidade de ensino, que entre nós é
sofrível para medíocre. Referimo-nos, apenas, a investimentos.
Em 1980, por exemplo, o País investiu no setor 4,3%
do seu Produto Interno Bruto, o que já era irrisório. Neste ano, esse
percentual caiu para 3,8%. O próprio ministro acentuou que essa massa de
recursos é, proporcionalmente, “muito menor” do que as inversões da Argentina e
do México.
Seria escusado reiterar essa necessidade, de tão
óbvia que ela é. Políticos admitem isso em toda e qualquer campanha eleitoral.
Todavia, entra governo, sai governo, e cada vez mais a educação se vê
abandonada, comprometendo o nosso futuro.
Evidente ou não, a constatação de Hingel deve servir
de lembrete àqueles que sonham ainda em construir um Brasil grande (que são
cada vez menos): “A verdadeira libertação econômica de uma nação começa com o
ensino básico de toda a população”.
(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio
Popular, em 6 de dezembro de 1993)
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