Friday, February 06, 2015

Reunificação mais próxima



Pedro J. Bondaczuk


As duas Alemanhas deram outro passo decisivo no rumo da reunificação, após a vitória dos conservadores nas eleições alemãs orientais do final de semana. Afinal, a coalizão vencedora defendeu, durante toda a campanha, a união imediata dos dois países, vencidos, logicamente, os obstáculos que o processo ainda tem pela frente. O maior é o referente a que aliança militar o novo Estado irá pertencer. Ao Pacto de Varsóvia parece algo já decidido que não. Restam as teses da adesão à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e da neutralização. A primeira é vigorosamente defendida pelo Ocidente, e por razões óbvias. Mas há países do Leste europeu de acordo com ela, como a Hungria, a Polônia e a Checoslováquia. A segunda goza da preferência do presidente soviético, Mikhail Gorbachev. Tal questão, doravante, vai centralizar todos os debates em torno da reunificação.

Esse tema é o que envolve as relações externas do Estado unificado. As internas, as eleições de anteontem virtualmente resolveram. O pleito foi mais do que um plebiscito sobre a questão. O eleitorado alemão oriental, ao dar uma vitória razoável à Aliança Pela Alemanha, definiu não só que o processo deva ocorrer, mas também o seu prazo. Ou seja, "imediato". É claro que isto não deverá se dar da noite para o dia. O chanceler alemão ocidental Helmut Kohl, o principal defensor dessa tese desde o princípio, prevê que o país unificado não surgirá antes de dezembro próximo.

Dividir uma comunidade, como se observa, é um procedimento até que não muito difícil. Desfazer tal divisão é que são elas. O Vietnã, por exemplo, para ser reunificado, passou pelos horrores de uma das guerras mais selvagens deste século, pródigo em conflitos sangrentos. As Coréias, por outro lado, embora ensaiem timidamente um processo de restauração da unidade nacional, divergem em praticamente tudo. Nem se esboçou qualquer espécie de entendimento entre elas. Os dois lados permanecem virtualmente em guerra, pelo menos a de propaganda. Embora se trate de um mesmo povo, com língua, costumes e tradições comuns, as posições ideológicas situam-se em extremos opostos.

No caso alemão, os obstáculos ainda existentes não significam praticamente nada, diante dos avanços que já se verificaram. E em tempo surpreendentemente curto, de menos de um ano. Em julho do ano passado, por exemplo, quem, em sã consciência, poderia prever que se pudesse ao menos falar com seriedade, sem despertar um balançar de cabeça de incredulidade, quando não um riso de zombaria, em reunificação?

(Artigo publicado na página 15, Internacional, do Correio Popular, em 20 de março de 1990)


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