Reunificação mais próxima
Pedro J. Bondaczuk
As duas Alemanhas deram outro passo decisivo no rumo
da reunificação, após a vitória dos conservadores nas eleições alemãs orientais
do final de semana. Afinal, a coalizão vencedora defendeu, durante toda a campanha,
a união imediata dos dois países, vencidos, logicamente, os obstáculos que o
processo ainda tem pela frente. O maior é o referente a que aliança militar o
novo Estado irá pertencer. Ao Pacto de Varsóvia parece algo já decidido que
não. Restam as teses da adesão à Organização do Tratado do Atlântico Norte
(Otan) e da neutralização. A primeira é vigorosamente defendida pelo Ocidente,
e por razões óbvias. Mas há países do Leste europeu de acordo com ela, como a
Hungria, a Polônia e a Checoslováquia. A segunda goza da preferência do
presidente soviético, Mikhail Gorbachev. Tal questão, doravante, vai
centralizar todos os debates em torno da reunificação.
Esse tema é o que envolve as relações externas do
Estado unificado. As internas, as eleições de anteontem virtualmente
resolveram. O pleito foi mais do que um plebiscito sobre a questão. O
eleitorado alemão oriental, ao dar uma vitória razoável à Aliança Pela
Alemanha, definiu não só que o processo deva ocorrer, mas também o seu prazo.
Ou seja, "imediato". É claro que isto não deverá se dar da noite para
o dia. O chanceler alemão ocidental Helmut Kohl, o principal defensor dessa
tese desde o princípio, prevê que o país unificado não surgirá antes de
dezembro próximo.
Dividir uma comunidade, como se observa, é um
procedimento até que não muito difícil. Desfazer tal divisão é que são elas. O
Vietnã, por exemplo, para ser reunificado, passou pelos horrores de uma das
guerras mais selvagens deste século, pródigo em conflitos sangrentos. As
Coréias, por outro lado, embora ensaiem timidamente um processo de restauração
da unidade nacional, divergem em praticamente tudo. Nem se esboçou qualquer
espécie de entendimento entre elas. Os dois lados permanecem virtualmente em
guerra, pelo menos a de propaganda. Embora se trate de um mesmo povo, com
língua, costumes e tradições comuns, as posições ideológicas situam-se em
extremos opostos.
No caso alemão, os obstáculos ainda existentes não
significam praticamente nada, diante dos avanços que já se verificaram. E em tempo
surpreendentemente curto, de menos de um ano. Em julho do ano passado, por
exemplo, quem, em sã consciência, poderia prever que se pudesse ao menos falar
com seriedade, sem despertar um balançar de cabeça de incredulidade, quando não
um riso de zombaria, em reunificação?
(Artigo publicado na página 15, Internacional, do
Correio Popular, em 20 de março de 1990)
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
No comments:
Post a Comment