Tuesday, August 13, 2013

Um país que já conhece o desemprego


Pedro J. Bondaczuk

O prolongamento da severa recessão que se abate sobre a economia japonesa tem reflexos diretos sobre os índices de desemprego no país. As grandes fábricas de automóveis, os distribuidores de energia elétrica e os grupos siderúrgicos estão acelerando as demissões. E, pelo visto, as perspectivas para o primeiro semestre de 1994 não são das mais animadoras. Noventa e seis por cento das empresas japonesas não esperam uma reativação econômica pelo menos até julho do ano que vem.

As exportações de veículos do país, que sempre foram o grande trunfo para manter a estabilidade de sua economia, despencaram 11,7% na primeira metade de 1993, de acordo com as únicas estatísticas disponíveis a respeito. Trata-se, como ressaltam os economistas, da maior queda registrada no setor desde a Segunda Guerra Mundial. A taxa de desemprego, que mal chegava a 1% no início do ano, já é de 2,6% da força trabalhista local, de 65 milhões de pessoas.

A palavra que mais se ouve no Japão nestes últimos tempos é “corte de pessoal”. Cinqüenta e sete por cento das empresas já fizeram demissões e 5% têm planos para reduzir seus quadros de empregados. Esse clima de instabilidade reflete-se diretamente nos chamados “dekasseguis”. Por exemplo, em 29 de outubro passado, a sede de uma importante fábrica de automóveis na cidade de Hamamatsu apareceu forrada de cartazes com um recado direto para os 2 mil brasileiros que trabalham na região: “Vão embora. Voltem para casa”, diziam os avisos, nas entrelinhas, embora não dessa forma direta, mas no estilo polido, característico dos orientais.

Até outubro, por exemplo, a gigante do setor de aço, Nippon Steel, havia demitido 7 mil empregados e com perspectivas de ampliar ainda mais os cortes. A Hitachi demitiu 2 mil funcionários e a Honda, pelo menos por enquanto, optou pela “reclassificação” do seu quadro funcional, embora com planos de efetuar grandes dispensas caso a recessão não se reverta.

Como se vê, trata-se de uma situação muito diferente daquela de um passado não muito distante, quando os “dekasseguis” eram aliciados nas grandes cidades brasileiras, com propostas mirabolantes e irrecusáveis. 

(Artigo publicado na página 5 do caderno de “Cidades” do Correio Popular, para ilustrar matéria especial sobre os dekasseguis da região de Campinas que estavam sendo demitidos no Japão, em 12 de dezembro de 1993)


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