Um
país que já conhece o desemprego
Pedro J. Bondaczuk
O prolongamento da severa recessão que se abate
sobre a economia japonesa tem reflexos diretos sobre os índices de desemprego
no país. As grandes fábricas de automóveis, os distribuidores de energia
elétrica e os grupos siderúrgicos estão acelerando as demissões. E, pelo visto,
as perspectivas para o primeiro semestre de 1994 não são das mais animadoras.
Noventa e seis por cento das empresas japonesas não esperam uma reativação
econômica pelo menos até julho do ano que vem.
As exportações de veículos do país, que sempre foram
o grande trunfo para manter a estabilidade de sua economia, despencaram 11,7%
na primeira metade de 1993, de acordo com as únicas estatísticas disponíveis a
respeito. Trata-se, como ressaltam os economistas, da maior queda registrada no
setor desde a Segunda Guerra Mundial. A taxa de desemprego, que mal chegava a
1% no início do ano, já é de 2,6% da força trabalhista local, de 65 milhões de
pessoas.
A palavra que mais se ouve no Japão nestes últimos
tempos é “corte de pessoal”. Cinqüenta e sete por cento das empresas já fizeram
demissões e 5% têm planos para reduzir seus quadros de empregados. Esse clima
de instabilidade reflete-se diretamente nos chamados “dekasseguis”. Por exemplo,
em 29 de outubro passado, a sede de uma importante fábrica de automóveis na
cidade de Hamamatsu apareceu forrada de cartazes com um recado direto para os 2
mil brasileiros que trabalham na região: “Vão embora. Voltem para casa”, diziam
os avisos, nas entrelinhas, embora não dessa forma direta, mas no estilo
polido, característico dos orientais.
Até outubro, por exemplo, a gigante do setor de aço,
Nippon Steel, havia demitido 7 mil empregados e com perspectivas de ampliar
ainda mais os cortes. A Hitachi demitiu 2 mil funcionários e a Honda, pelo
menos por enquanto, optou pela “reclassificação” do seu quadro funcional,
embora com planos de efetuar grandes dispensas caso a recessão não se reverta.
Como se vê, trata-se de uma situação muito diferente
daquela de um passado não muito distante, quando os “dekasseguis” eram
aliciados nas grandes cidades brasileiras, com propostas mirabolantes e
irrecusáveis.
(Artigo publicado na página 5 do caderno de
“Cidades” do Correio Popular, para ilustrar matéria especial sobre os
dekasseguis da região de Campinas que estavam sendo demitidos no Japão, em 12
de dezembro de 1993)
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