Thursday, August 29, 2013

Retórica dos caudilhos


Pedro J. Bondaczuk


O Paraguai prepara-se para encenar, hoje, mais uma farsa eleitoral, que se repete, monotonamente, já por oito ocasiões consecutivas, perfazendo um espaço de tempo de 34 anos. Promove uma “eleição” presidencial, que todos sabem de antemão quem irá ganhar e até por qual margem de votos.

Um pleito em que apenas um dos “candidatos” tem direito à propaganda e que as vozes dissonantes, os poucos que tem coragem de vir a público para denunciar a encenação, acabam sendo presos, sem essa ou mais aquela.

O general Alfredo Stroessner deu um autêntico show de retórica na quinta-feira, no comício de encerramento da “campanha”, desnecessária, por sinal, já que todos sabem quem vai ganhar, com ela ou sem ela. Aliás, todos os candidatos são peritos nessa arte de não dizer nada com palavras grandiloqüentes.

No Paraguai, pelo que ficou implícito no discurso presidencial, não concordar com o governo é um dos mais hediondos crimes que se conhecem. Quem não reza pela “cartilha” do sistema, é um “malvado e sanguinário servente do comunismo internacional”. Ou então, não passa de “bandoleiro que atropela a calma dos lares”.

É esse o nível da campanha, onde o principal líder opositor, Domingos Laino, acabou indo parar na prisão (pela enésima vez) por ter dito apenas o óbvio do regime. Este é o governo “da paz”, slogan de Stroessner, denunciado por todas as entidades defensoras dos direitos humanos do mundo inteiro, por causa do encarceramento arbitrário e cruel de todos os que ousam querer um Estado democrático e moderno. Uma sociedade em que os “sócios” possam também opinar, e não somente “pagar a conta”, como vem acontecendo há quase três décadas e meia.

Ou será que a totalidade das pessoas está errada e apenas os detentores do poder é que têm razão?! Há democracia e “democracia”, a segunda entre aspas, por não passar de caricato arremedo desse sistema de vida que pode ser cheio de defeitos; que pode não promover a felicidade geral; que às vezes é exercido através de gritantes distorções, mas que ainda é a melhor forma de convivência entre pessoas civilizadas.

Lincoln costumava dizer algo mais ou menos assim: “Poucos podem enganar muitos por muito tempo; muitos podem enganar poucos por pouco tempo, mas é impossível que todos enganem todos por todo o tempo”. Há verdade maior do que esta?

(Artigo publicado na página 14, Internacional, do Correio Popular, em 14 de fevereiro de 1988).


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