Retórica dos caudilhos
Pedro J. Bondaczuk
O Paraguai prepara-se para
encenar, hoje, mais uma farsa eleitoral, que se repete, monotonamente, já por
oito ocasiões consecutivas, perfazendo um espaço de tempo de 34 anos. Promove
uma “eleição” presidencial, que todos sabem de antemão quem irá ganhar e até
por qual margem de votos.
Um
pleito em que apenas um dos “candidatos” tem direito à propaganda e que as
vozes dissonantes, os poucos que tem coragem de vir a público para denunciar a
encenação, acabam sendo presos, sem essa ou mais aquela.
O
general Alfredo Stroessner deu um autêntico show de retórica na quinta-feira,
no comício de encerramento da “campanha”, desnecessária, por sinal, já que
todos sabem quem vai ganhar, com ela ou sem ela. Aliás, todos os candidatos são
peritos nessa arte de não dizer nada com palavras grandiloqüentes.
No
Paraguai, pelo que ficou implícito no discurso presidencial, não concordar com
o governo é um dos mais hediondos crimes que se conhecem. Quem não reza pela
“cartilha” do sistema, é um “malvado e sanguinário servente do comunismo
internacional”. Ou então, não passa de “bandoleiro que atropela a calma dos
lares”.
É
esse o nível da campanha, onde o principal líder opositor, Domingos Laino,
acabou indo parar na prisão (pela enésima vez) por ter dito apenas o óbvio do
regime. Este é o governo “da paz”, slogan de Stroessner, denunciado por todas
as entidades defensoras dos direitos humanos do mundo inteiro, por causa do
encarceramento arbitrário e cruel de todos os que ousam querer um Estado
democrático e moderno. Uma sociedade em que os “sócios” possam também opinar, e
não somente “pagar a conta”, como vem acontecendo há quase três décadas e meia.
Ou
será que a totalidade das pessoas está errada e apenas os detentores do poder é
que têm razão?! Há democracia e “democracia”, a segunda entre aspas, por não
passar de caricato arremedo desse sistema de vida que pode ser cheio de
defeitos; que pode não promover a felicidade geral; que às vezes é exercido
através de gritantes distorções, mas que ainda é a melhor forma de convivência
entre pessoas civilizadas.
Lincoln
costumava dizer algo mais ou menos assim: “Poucos podem enganar muitos por
muito tempo; muitos podem enganar poucos por pouco tempo, mas é impossível que
todos enganem todos por todo o tempo”. Há verdade maior do que esta?
(Artigo publicado na página 14,
Internacional, do Correio Popular, em 14 de fevereiro de 1988).
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