Saturday, August 31, 2013

Austeridade para combater inflação

Pedro J. Bondaczuk

O presidente peruano, Alan Garcia Perez, está às voltas, em seu país, com problemas semelhantes aos vividos pelo Brasil, Argentina, Bolívia e outras Repúblicas latino-americanas, algumas das quais conseguiram saná-lo e outras convivendo plenamente com ele: uma inflação centenária.

Todos os seus projetos econômicos, visando a manietar esse monstro, que estrangula as economias desorganizadas, furaram. E como ocorreu com os argentinos e os brasileiros, em passado ainda recente (o mais novo pacote do presidente Raul Alfonsin ainda está em vigor), atribuiu toda a questão a misteriosos “especuladores”.

É fato que a especulação existe em países onde os governos não dão exemplos de austeridade na condução da coisa pública. Mas dolorosas experiências recentes provaram que a chave para a solução do problema não está no intervencionismo estatal.

Em Estados onde as autoridades do governo não inspiram confiança, ou se faz “vistas grossas” a determinadas práticas especulativas (que ademais têm efeito muito pequeno sobre as taxas inflacionárias) ou se corre o risco da paralisação quase completa das atividades produtivas, por falta de investimentos.

A segunda opção, como se sabe, é suicida, um desastre para países com taxas de crescimento populacional explosivas. A necessidade de gerar empregos cresce de ano para ano e para que o detentor do capital invista, é indispensável que haja atrativos para ele. Caso contrário, esse investidor potencial sempre terá melhores formas para resguardar seu dinheiro, e com menos dor de cabeça.

Por outro lado, nenhum dos países com taxas inflacionárias explosivas tem atacado, com a devida seriedade, o ponto principal da questão. Seus governos gastam muito mais do que arrecadam e, o que é pior, de modo equivocado. Em geral os investimentos estatais são feitos em obras dispensáveis e que não proporcionam nenhum retorno.

Se ainda fossem na área social, esses gastos seriam, pelo menos, válidos. Proporcionariam saúde, educação e habitação para seus cidadãos, formando pessoas sadias, instruídas e integradas, capazes de produzir mais e expandir a riqueza nacional.

No entanto, basta olhar os indicadores sociais, divulgados por órgãos especializados da Organização das Nações Unidas para concluir que não é aí que o dinheiro que o governo confisca da sociedade – e o que empresta, pagando juros cada vez mais tentadores – vai parar.

Atitudes atrabiliárias, como as tomadas nos últimos dias por Alan Garcia, só trazem mais complicações para o país. Dividem a sociedade. Jogam uma classe contra a outra, numa disputa prejudicial para todas. Inibem os vitais investimentos, perpetuando a recessão, a dependência do capital externo e agravando o desemprego. E, sobretudo, consolidam e expandem a miséria, que ninguém, em sã consciência, deseja que seja socializada.

(Artigo publicado na página 10, Internacional, do Correio Popular, em 8 de janeiro de 1988).


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