Austeridade para combater inflação
Pedro J. Bondaczuk
O presidente peruano, Alan
Garcia Perez, está às voltas, em seu país, com problemas semelhantes aos
vividos pelo Brasil, Argentina, Bolívia e outras Repúblicas latino-americanas,
algumas das quais conseguiram saná-lo e outras convivendo plenamente com ele:
uma inflação centenária.
Todos
os seus projetos econômicos, visando a manietar esse monstro, que estrangula as
economias desorganizadas, furaram. E como ocorreu com os argentinos e os
brasileiros, em passado ainda recente (o mais novo pacote do presidente Raul
Alfonsin ainda está em vigor), atribuiu toda a questão a misteriosos
“especuladores”.
É
fato que a especulação existe em países onde os governos não dão exemplos de
austeridade na condução da coisa pública. Mas dolorosas experiências recentes
provaram que a chave para a solução do problema não está no intervencionismo
estatal.
Em
Estados onde as autoridades do governo não inspiram confiança, ou se faz
“vistas grossas” a determinadas práticas especulativas (que ademais têm efeito
muito pequeno sobre as taxas inflacionárias) ou se corre o risco da paralisação
quase completa das atividades produtivas, por falta de investimentos.
A
segunda opção, como se sabe, é suicida, um desastre para países com taxas de
crescimento populacional explosivas. A necessidade de gerar empregos cresce de
ano para ano e para que o detentor do capital invista, é indispensável que haja
atrativos para ele. Caso contrário, esse investidor potencial sempre terá
melhores formas para resguardar seu dinheiro, e com menos dor de cabeça.
Por
outro lado, nenhum dos países com taxas inflacionárias explosivas tem atacado,
com a devida seriedade, o ponto principal da questão. Seus governos gastam
muito mais do que arrecadam e, o que é pior, de modo equivocado. Em geral os
investimentos estatais são feitos em obras dispensáveis e que não proporcionam
nenhum retorno.
Se
ainda fossem na área social, esses gastos seriam, pelo menos, válidos.
Proporcionariam saúde, educação e habitação para seus cidadãos, formando
pessoas sadias, instruídas e integradas, capazes de produzir mais e expandir a
riqueza nacional.
No
entanto, basta olhar os indicadores sociais, divulgados por órgãos
especializados da Organização das Nações Unidas para concluir que não é aí que
o dinheiro que o governo confisca da sociedade – e o que empresta, pagando
juros cada vez mais tentadores – vai parar.
Atitudes
atrabiliárias, como as tomadas nos últimos dias por Alan Garcia, só trazem mais
complicações para o país. Dividem a sociedade. Jogam uma classe contra a outra,
numa disputa prejudicial para todas. Inibem os vitais investimentos,
perpetuando a recessão, a dependência do capital externo e agravando o
desemprego. E, sobretudo, consolidam e expandem a miséria, que ninguém, em sã
consciência, deseja que seja socializada.
(Artigo publicado na página 10,
Internacional, do Correio Popular, em 8 de janeiro de 1988).
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