Pacto
social básico
Pedro J. Bondaczuk
O novo governo que possivelmente vai emergir, nesta
semana, em decorrência do provável afastamento do presidente Fernando Collor,
após a autorização da Câmara dos Deputados para que o Senado instaure o
processo de impeachment, tida e havida como certa, além da responsabilidade de
restauração da ética na política, terá outra tarefa urgente e de extrema
relevância.
O País precisa ser recolocado, ainda este ano, na
trilha do desenvolvimento, com justiça social, se não quiser perder outra
década, como o fez com a de 1980. Providências inadiáveis para restaurar o
emprego, incentivar investimentos, recompor salários, sem realimentar a
inflação, precisam ser tomadas.
Como isto seria feito é problema para técnicos e
economistas. A retomada do desenvolvimento, porém, é tarefa absolutamente
inadiável neste momento.
É mister, sobretudo, que se restabeleça o pacto
social básico, implícito na própria definição de sociedade. Não é mais
concebível que apenas uma irrisória minoria lucre desmesuradamente com o
esforço coletivo de milhões de cidadãos que têm, por paga, a marginalização, a
inacessibilidade à educação, à saúde, ao lazer e à própria dignidade enquanto
homens. Um país não é um mero aglomerado de pessoas, agindo cada qual segundo
seus próprios interesses, sem que nada as comprometa umas com as outras.
O professor e economista da Fundação Getúlio Vargas,
Antonio Maria da Silveira, num artigo que publicou na "Folha de S.
Paulo" de 10 de dezembro de 1991, definiu com clareza os riscos do
descumprimento desse acordo tácito que é a base de qualquer comunidade humana.
Assinalou: "Existe um pacto social básico, cujo
descumprimento é fator degenerativo de qualquer sociedade. A relação de troca,
onde o cidadão contribui em trabalho e a sociedade retribui em salário, envolve
duas necessidades existenciais básicas. A necessidade de sentir-se útil à
sociedade, de dar uma contribuição social, por modesta que seja, e a
necessidade de uma renda que satisfaça um padrão de vida mínimo, algo
socialmente visto como aceitável, por modesto que seja".
Não existe nada de mais perverso do que um indivíduo
desejar arrancar com seu talento e esforço o sustento para a família e não ter
onde, por lhe faltar ocupação. Desemprego, num país jovem como o Brasil, onde
quase tudo está por fazer, é um suicídio nacional.
Recessão prolongada, purgativa ou não, didática ou
seja a que pretexto for, numa sociedade que precisa gerar, no mínimo, 2,5
milhões de colocações profissionais anuais, é o absurdo dos absurdos. Algo está
muito, muitíssimo errado no modelo econômico que aí está posto.
Nem é preciso recorrer a nenhuma estatística para
fundamentar o que salta à vista do mais leigo dos leigos em economia. Onde
ficaram os ideais nacionais, tão apregoados durante a fase do "milagre
econômico"? O que foi feito do "país do futuro", a cuja
população está sendo suprimido o presente e que pouca coisa parece ter
aprendido com o passado?
Quem souber que responda a estas questões e a outra,
formulada por Antonio Maria da Silveira, no mencionado artigo: "Até quando
pode um cidadão suportar a pobreza sem degenerar na mendicância ou na
criminalidade?"
(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio
Popular, em 27 de setembro de 1992).
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
No comments:
Post a Comment