Friday, August 23, 2013

As surpresas da memória

Pedro J. Bondaczuk

A maneira como funciona nossa memória é um tema que sempre me fascinou. Não me canso de escrever a respeito. Ela surpreende-me, a todo instante, ora positivamente (na maioria das vezes), ora negativamente (o que me ocorre, felizmente, em poucas ocasiões). Não sei se isso acontece com todas as pessoas (presumo que sim, posto que não possa jurar), mas notei que tenho uma espécie de alarme, de dispositivo de aviso, de uma espécie de “campaínha” que me traz à lembrança determinadas coisas no momento oportuno delas serem lembradas. Acaba de ocorrer comigo um episódio desse tipo. Explico desde o início, para que o leitor entenda.

Estava eu, ontem à noite, ouvindo algumas das minhas músicas prediletas no Youtube, quando me veio, como um lampejo, assim do nada, um “aviso” de que neste mês de maio de 2013 se comemora o bicentenário de nascimento de um dos meus compositores prediletos, o alemão Richard Wagner. O que me intriga é que eu não estava pensando em efemérides, em personalidades, em nada disso. E muito menos nesse genial e polêmico músico. As músicas que ouvia sequer eram clássicas. Eram seleções de jazz, entremeadas por uma ou outra composição de Cole Porter.

No primeiro momento, duvidei do aviso, que veio tão de repente, tão subitamente, como um raio, à memória. Eu havia lido, e muito, a propósito desse compositor, mas há já bom tempo. Não estava pensando nele, reitero, e a rigor não pensava em ninguém em especial. Quanto a centenários, o que vem me prendendo a atenção há já um bom par de dias é o de nascimento de Jamelão, ou melhor, de José Bispo Clementino dos Santos, que é seu verdadeiro nome, que ocorre no domingo da semana que vem, dia 12, (data que marca, também, o Dia das Mães), e a propósito de quem pretendo escrever. Mas Wagner?! Não, não estava, em absoluto, pensando nele.

Fui conferir, para saber se a memória estava funcionando, de fato, ou se aquele lampejo não passava de alarme falso, de uma espécie de trote envolvendo o compositor alemão. Acessei o Google, digitei na barra de pesquisas Richard Wagner e logo apareceu uma enorme quantidade de links em que esse nome era mencionado. Optei, como sempre faço quando quero informações em que confie, pela enciclopédia eletrônica Wikipédia e.... bingo!!! De fato, neste mês de maio, do ano da graça de 2013, mais especificamente no dia 22, completam-se duzentos anos do nascimento de um dos gênios da “música eterna”, por sinal, um dos meus prediletos, ocorrido na cidade de Leipzig.

De quebra, informei-me que neste mesmo ano, mas em fevereiro passado, especificamente no dia 13 desse mês, completaram-se 120 anos da morte de Wagner, ocorrida em Veneza. Fiz, rapidamente, as contas e concluí que esse gênio musical viveu quase oitenta anos completos. Quase. Faltaram pouco mais de três meses para que completasse essa idade que, para a época, podia ser considerada (e era) avançada, mas que para os padrões de hoje não chega a ser nenhuma raridade.

Ainda perplexo com essa “façanha” da memória (ou seria da intuição? Ou de ambas?), resolvi, mais uma vez, colocá-la à prova. Alguma coisa me dizia que eu dispunha de farto material referente a Wagner. Lembrei-me que, em junho de 1986, publiquei extenso ensaio a seu respeito no jornal “Correio Popular” de Campinas. Recorri, pois, ao meu bloco de anotações, aquele a que me referi muitas vezes neste espaço, em que registro as coisas que mais me chamaram a atenção na leitura de biografias de personalidades das mais diversas áreas. E, como desconfiava, encontrei mais de duzentas páginas de referências ao compositor alemão, anotadas na letrinha miúda e espremida que caracteriza minha escrita.

Antes que me questionem e que me chamem de “exibido”, adianto-me em esclarecer que não me considero mais inteligente, organizado ou observador do que qualquer pessoa. Todos – uns mais e outros menos – têm esse mesmo tipo de habilidade e até maiores. Há memórias assombrosas por aí! Ocorre que nem todos (diria a imensa maioria), atentam para ela ou sequer desconfiam que seja tão poderosa. Mas a habilidade existe. Preste atenção à capacidade e acuidade da sua memória e você ficará agradavelmente surpreso ao descobrir o quanto ela pode lhe ser útil, se, claro, você lhe der ouvidos e confiar nela.

Trouxe esse assunto, tão particular, à baila, neste espaço, á guisa de reflexão, com dupla finalidade. A primeira, e principal, é a de meditar, de forma compartilhada, sobre o quanto nos desconhecemos, sobre o que se passa conosco, em nosso próprio corpo, em nossa própria mente. Nem sempre (alguns nunca) valorizamos o poder da memória (a nossa, claro) e só temos a perder com isso. O segundo pretexto de ter feito este relato é óbvio e, certamente, você já o percebeu. É o de justamente registrar o bicentenário de nascimento de Richard Wagner e de sugerir, ou de explicitar, ou de prometer que esse ilustre personagem da arte musical será foco da minha atenção nos próximos dias. Creio que se trate de boa maneira de fazer suspense sobre determinado assunto, não é mesmo?


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