As surpresas da memória
Pedro
J. Bondaczuk
A maneira como funciona
nossa memória é um tema que sempre me fascinou. Não me canso de escrever a
respeito. Ela surpreende-me, a todo instante, ora positivamente (na maioria das
vezes), ora negativamente (o que me ocorre, felizmente, em poucas ocasiões).
Não sei se isso acontece com todas as pessoas (presumo que sim, posto que não
possa jurar), mas notei que tenho uma espécie de alarme, de dispositivo de
aviso, de uma espécie de “campaínha” que me traz à lembrança determinadas
coisas no momento oportuno delas serem lembradas. Acaba de ocorrer comigo um
episódio desse tipo. Explico desde o início, para que o leitor entenda.
Estava eu, ontem à
noite, ouvindo algumas das minhas músicas prediletas no Youtube, quando me
veio, como um lampejo, assim do nada, um “aviso” de que neste mês de maio de
2013 se comemora o bicentenário de nascimento de um dos meus compositores
prediletos, o alemão Richard Wagner. O que me intriga é que eu não estava
pensando em efemérides, em personalidades, em nada disso. E muito menos nesse
genial e polêmico músico. As músicas que ouvia sequer eram clássicas. Eram
seleções de jazz, entremeadas por uma ou outra composição de Cole Porter.
No primeiro momento,
duvidei do aviso, que veio tão de repente, tão subitamente, como um raio, à
memória. Eu havia lido, e muito, a propósito desse compositor, mas há já bom
tempo. Não estava pensando nele, reitero, e a rigor não pensava em ninguém em
especial. Quanto a centenários, o que vem me prendendo a atenção há já um bom
par de dias é o de nascimento de Jamelão, ou melhor, de José Bispo Clementino
dos Santos, que é seu verdadeiro nome, que ocorre no domingo da semana que vem,
dia 12, (data que marca, também, o Dia das Mães), e a propósito de quem pretendo
escrever. Mas Wagner?! Não, não estava, em absoluto, pensando nele.
Fui conferir, para
saber se a memória estava funcionando, de fato, ou se aquele lampejo não
passava de alarme falso, de uma espécie de trote envolvendo o compositor
alemão. Acessei o Google, digitei na barra de pesquisas Richard Wagner e logo
apareceu uma enorme quantidade de links em que esse nome era mencionado. Optei,
como sempre faço quando quero informações em que confie, pela enciclopédia
eletrônica Wikipédia e.... bingo!!! De fato, neste mês de maio, do ano da graça
de 2013, mais especificamente no dia 22, completam-se duzentos anos do
nascimento de um dos gênios da “música eterna”, por sinal, um dos meus
prediletos, ocorrido na cidade de Leipzig.
De quebra, informei-me
que neste mesmo ano, mas em fevereiro passado, especificamente no dia 13 desse
mês, completaram-se 120 anos da morte de Wagner, ocorrida em Veneza. Fiz,
rapidamente, as contas e concluí que esse gênio musical viveu quase oitenta
anos completos. Quase. Faltaram pouco mais de três meses para que completasse
essa idade que, para a época, podia ser considerada (e era) avançada, mas que
para os padrões de hoje não chega a ser nenhuma raridade.
Ainda perplexo com essa
“façanha” da memória (ou seria da intuição? Ou de ambas?), resolvi, mais uma
vez, colocá-la à prova. Alguma coisa me dizia que eu dispunha de farto material
referente a Wagner. Lembrei-me que, em junho de 1986, publiquei extenso ensaio
a seu respeito no jornal “Correio Popular” de Campinas. Recorri, pois, ao meu
bloco de anotações, aquele a que me referi muitas vezes neste espaço, em que
registro as coisas que mais me chamaram a atenção na leitura de biografias de
personalidades das mais diversas áreas. E, como desconfiava, encontrei mais de
duzentas páginas de referências ao compositor alemão, anotadas na letrinha
miúda e espremida que caracteriza minha escrita.
Antes que me questionem
e que me chamem de “exibido”, adianto-me em esclarecer que não me considero
mais inteligente, organizado ou observador do que qualquer pessoa. Todos – uns
mais e outros menos – têm esse mesmo tipo de habilidade e até maiores. Há
memórias assombrosas por aí! Ocorre que nem todos (diria a imensa maioria),
atentam para ela ou sequer desconfiam que seja tão poderosa. Mas a habilidade
existe. Preste atenção à capacidade e acuidade da sua memória e você ficará
agradavelmente surpreso ao descobrir o quanto ela pode lhe ser útil, se, claro,
você lhe der ouvidos e confiar nela.
Trouxe esse assunto,
tão particular, à baila, neste espaço, á guisa de reflexão, com dupla
finalidade. A primeira, e principal, é a de meditar, de forma compartilhada,
sobre o quanto nos desconhecemos, sobre o que se passa conosco, em nosso
próprio corpo, em nossa própria mente. Nem sempre (alguns nunca) valorizamos o
poder da memória (a nossa, claro) e só temos a perder com isso. O segundo
pretexto de ter feito este relato é óbvio e, certamente, você já o percebeu. É
o de justamente registrar o bicentenário de nascimento de Richard Wagner e de
sugerir, ou de explicitar, ou de prometer que esse ilustre personagem da arte
musical será foco da minha atenção nos próximos dias. Creio que se trate de boa
maneira de fazer suspense sobre determinado assunto, não é mesmo?
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