Ponto e contraponto
Pedro J. Bondaczuk
A
trágica morte da princesa Diana, em um acidente de carro no Túnel das Almas, em
Paris, levanta uma questão há muito debatida e a cuja conclusão definitiva
nunca se chegou: o limite entre o público e o privado. Até onde a imprensa pode
ir para manter a população informada? As opiniões divergem e cada uma das
partes tem argumentos a favor e contra a exploração virtualmente ilimitada da
imagem e das ações das personalidades do mundo artístico, político ou esportivo.
Apesar
do laudo da polícia francesa haver comprovado que o motorista que dirigia o
Mercedes 280s --- que conduzia lady Di e seu suposto namorado, Dodi Al-Fayed
--- estava embriagado, e portanto sem condições de dirigir, muita gente atribui
o desastre à perseguição movida pelos fotógrafos "free-lance",
conhecidos como "paparazzi" (pára-raios, em italiano). Pode ser. Mas
a imprudência foi de ambos os lados: de perseguidores e perseguidos.
Muitas
figuras públicas já sofreram o assédio dessas pessoas que fazem de uma máquina
fotográfica uma espécie de arma. Mas em nenhum dos casos o desfecho foi nem de
longe tão dramático. No máximo valeu discussões, apreensões de filmes e alguns
tapas e empurrões de seguranças. Jacqueline Kennedy Onassis foi uma das mais
assediadas. O cantor norte-americano Michael Jackson tem sido outro. E a
relação de nomes é extensíssima para ser nominalmente citada.
No
caso de Diana --- disso não há como fugir --- o crime dos fotógrafos foi o de
não terem prestado socorro às vítimas, como é obrigação de qualquer cidadão que
se preze e mais: de qualquer ser humano com um mínimo de decência e
responsabilidade.
Alguns
dos "paparazzi" se assustaram e, temendo as conseqüências do desastre
(que de alguma forma contribuíram para acontecer), fugiram do local. Sete
permaneceram (seis franceses e um macedônio). Desses, houve os que aproveitaram
a cena para fazer o que se haviam proposto: fotografaram a tragédia, com todos
os seus detalhes e nuances, para satisfazer um público ávido por fofocas e por
sangue (especialmente quando isso envolve personalidades).
Quando
a "poeira baixar", não tenham dúvidas, essas fotos vão valer milhões
de dólares. Os meios de comunicação são um "espelho". Apenas refletem
a imagem da sociedade. Não fazem ficção e nem inventam nada. Limitam-se a
reproduzir, com maior ou menor ênfase, o que acontece. Se os detalhes que
mostram são escabrosos, não lhes cabe culpa. Se a imagem refletida é feia, não
será quebrando o "espelho" que ela irá melhorar.
Claro
que, como em todas as profissões, há jornalistas e jornalistas. Há os que
apenas apostam na desgraça e no negativismo e que exageram na dose, descambando
para o sensacionalismo. Mas existem os que, --- como se propôs a ser e tem
sido, desde que foi fundada, a Folha do Taquaral --- fazem "o jornalismo
que crê". Ou seja, criticam o que é criticável, mas mostram também o lado
positivo da realidade. Transformam o ato de informar em missão. E isso com um
sentido sempre construtivo.
Os
"paparazzi" limitam-se a fazer o "trabalho sujo" de um tipo
de imprensa, apelidado de "marrom". Só existem, porque há editores de
tablóides sensacionalistas que compram a peso de ouro as fotos que tiram. E
estes adquirem tais imagens porque são as que seus leitores querem ver. Prova é
a vendagem dos seus jornais nas bancas. Portanto, em vez de quebrar o
"espelho", o que se precisa fazer, e com urgência, é melhorar a
"imagem" que eles refletem: o senso ético da própria sociedade.
(Texto
escrito em 1 de setembro de 1997 e publicado como editorial na Folha do
Taquaral).
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