Thursday, August 01, 2013

Ponto e contraponto


Pedro J. Bondaczuk

A trágica morte da princesa Diana, em um acidente de carro no Túnel das Almas, em Paris, levanta uma questão há muito debatida e a cuja conclusão definitiva nunca se chegou: o limite entre o público e o privado. Até onde a imprensa pode ir para manter a população informada? As opiniões divergem e cada uma das partes tem argumentos a favor e contra a exploração virtualmente ilimitada da imagem e das ações das personalidades do mundo artístico, político ou esportivo.

Apesar do laudo da polícia francesa haver comprovado que o motorista que dirigia o Mercedes 280s --- que conduzia lady Di e seu suposto namorado, Dodi Al-Fayed --- estava embriagado, e portanto sem condições de dirigir, muita gente atribui o desastre à perseguição movida pelos fotógrafos "free-lance", conhecidos como "paparazzi" (pára-raios, em italiano). Pode ser. Mas a imprudência foi de ambos os lados: de perseguidores e perseguidos.

Muitas figuras públicas já sofreram o assédio dessas pessoas que fazem de uma máquina fotográfica uma espécie de arma. Mas em nenhum dos casos o desfecho foi nem de longe tão dramático. No máximo valeu discussões, apreensões de filmes e alguns tapas e empurrões de seguranças. Jacqueline Kennedy Onassis foi uma das mais assediadas. O cantor norte-americano Michael Jackson tem sido outro. E a relação de nomes é extensíssima para ser nominalmente citada.

No caso de Diana --- disso não há como fugir --- o crime dos fotógrafos foi o de não terem prestado socorro às vítimas, como é obrigação de qualquer cidadão que se preze e mais: de qualquer ser humano com um mínimo de decência e responsabilidade.

Alguns dos "paparazzi" se assustaram e, temendo as conseqüências do desastre (que de alguma forma contribuíram para acontecer), fugiram do local. Sete permaneceram (seis franceses e um macedônio). Desses, houve os que aproveitaram a cena para fazer o que se haviam proposto: fotografaram a tragédia, com todos os seus detalhes e nuances, para satisfazer um público ávido por fofocas e por sangue (especialmente quando isso envolve personalidades).

Quando a "poeira baixar", não tenham dúvidas, essas fotos vão valer milhões de dólares. Os meios de comunicação são um "espelho". Apenas refletem a imagem da sociedade. Não fazem ficção e nem inventam nada. Limitam-se a reproduzir, com maior ou menor ênfase, o que acontece. Se os detalhes que mostram são escabrosos, não lhes cabe culpa. Se a imagem refletida é feia, não será quebrando o "espelho" que ela irá melhorar.

Claro que, como em todas as profissões, há jornalistas e jornalistas. Há os que apenas apostam na desgraça e no negativismo e que exageram na dose, descambando para o sensacionalismo. Mas existem os que, --- como se propôs a ser e tem sido, desde que foi fundada, a Folha do Taquaral --- fazem "o jornalismo que crê". Ou seja, criticam o que é criticável, mas mostram também o lado positivo da realidade. Transformam o ato de informar em missão. E isso com um sentido sempre construtivo.

Os "paparazzi" limitam-se a fazer o "trabalho sujo" de um tipo de imprensa, apelidado de "marrom". Só existem, porque há editores de tablóides sensacionalistas que compram a peso de ouro as fotos que tiram. E estes adquirem tais imagens porque são as que seus leitores querem ver. Prova é a vendagem dos seus jornais nas bancas. Portanto, em vez de quebrar o "espelho", o que se precisa fazer, e com urgência, é melhorar a "imagem" que eles refletem: o senso ético da própria sociedade.

(Texto escrito em 1 de setembro de 1997 e publicado como editorial na Folha do Taquaral).



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