Antídoto para a solidão
Pedro J. Bondaczuk
A expansão
vertiginosa da rede mundial de computadores, a Internet, está provocando
sensíveis mudanças de comportamento na sociedade, cuja profundidade e alcance
ainda não podem ser mensurados. Tudo bem, não fiz nenhuma descoberta
revolucionária e nem descobri a pólvora. Limitei-me a constatar um fenômeno que
se verifica bem debaixo dos nossos narizes. Cada vez mais pessoas ao redor do
mundo se tornam "internautas" (neologismo que já se consagrou na
linguagem cotidiana em vários idiomas), em busca de informação, entretenimento,
comunicação e realização de negócios.
Mais e mais
usuários fazem suas compras sem sair de casa. Depositam e sacam dinheiro em
bancos, fecham contratos comerciais e realizam outras operações da vida
prática, usando apenas um microcomputador e um bom servidor (nem todos são
confiáveis, mas... deixa pra lá!). Nota-se uma adesão crescente de jovens à
Internet. Muitos já trocam, até mesmo, bailes e boates que freqüentavam pela
"navegação" na rede mundial. Fogem, com isso, dos riscos da violência
e do consumo de drogas.
Nem é preciso
lembrar que nem tudo é um mar de rosas no mundo internético. Há uma quantidade
enorme de imbecis que se utilizam de um meio intrinsecamente tão positivo e
bom, para praticar delitos de toda a sorte. Cabe aos usuários se precaverem,
adotando algumas medidas simples, básicas, elementares até para não caírem nas
garras desses supostos “espertalhões”. Claro que não são espertos coisa
nenhuma. Mais cedo ou mais tarde, acabam descobertos, localizados e punidos.
Mas acham que isso nunca lhes acontecerá. Um dia acontece.
Já os usuários
criam jargões apropriados, fazem pesquisas para a escola, "namoram" à
distância (às vezes separados até por
continentes) e muitos têm sua iniciação sexual com o "sexo virtual".
Essa parte acho estranhíssima, mas é uma realidade. Bem, há gosto para tudo,
não é mesmo? Os internautas desenvolvem, portanto, novos valores e impõem novos
comportamentos. Pais preocupados buscam conter excessos dos jovens (ou o que
julgam ser excessivo). Depende do que
entendem como "exagerado".
Muitas pessoas têm
enorme dificuldade de se relacionar com outras, de sustentar um relacionamento
qualquer – que nem precisa ser afetivo, ou mesmo de amizade, mas de mero “coleguismo”
– na base do olho no olho, da presença física. Antes do advento do computador
pessoal, encerravam-se em “cavernas”, retraíam-se, mantinham-se aprisionadas em
casulos de solidão, que sabiam ser perversos, mas dos quais não conseguiam se
livrar. Várias delas, em geral bem situadas na vida, sem problemas financeiros,
com nível de instrução de razoável para bom, chegavam ao extremo de cogitar em
darem cabo de si próprios. Alguns iam além e se matavam. Ainda há, óbvio, quem
se sinta ou aja dessa forma. Muitos, no entanto, descobriram uma forma de se
relacionar sem que seja preciso se expor. Como? Pelas redes sociais.
Fico
imaginando cá com meus botões: Que mecanismo emocional se desregula a tal ponto
de levar o instinto de sobrevivência (o erótico) de alguns a ser sobrepujado
pelo de destruição (o tânico)? Os estudiosos do assunto dizem que, em geral, os
que cometem esse ato de agressão extrema contra si próprios não querem, na
verdade, morrer. O que desejam é chamar a atenção para seus problemas; para sua
imensa solidão; para a carência afetiva que os domina; para seu enorme
desamparo emocional. Como nos tempos atuais as pessoas estão se isolando cada
vez mais, se auto-encarcerando, se mantendo solitárias mesmo quando estão no
meio de uma multidão, esses seres carentes e psicologicamente frágeis encontram
cada vez mais dificuldades para se fazerem ouvidos. Encontravam.
Seus
obstáculos de relacionamento podem ser (e em muitos casos, são) atenuados pelos
contatos que fazem pelo computador. Afinal, nem é preciso ser nenhum psicólogo,
psiquiatra ou psicanalista para deduzir que, na maioria das vezes, uma boa
conversa (e somente isso) salvaria e provavelmente tem salvado inúmeras pessoas
até de atentarem contra a própria vida. Conheço muitos casos assim.
Esse
novo comportamento é bom ou ruim? Ainda é cedo para uma conclusão definitiva.
Entendo, da minha parte, como positivo e irreversível. Mas... não sou dono da
verdade. Ninguém é. O escritor Arthur Clarke, num ensaio publicado em 3 de
setembro de 1978 no Suplemento Literário do "O Estado de São Paulo",
sob o título "O futuro no mundo das comunicações", me dá razão e
justifica porque é bom. Escreve: "O homem é um animal comunicativo. Exige
notícias, informações, divertimentos, quase tanto quanto alimento. Na verdade,
como um ser humano na ativa, pode sobreviver muito mais sem alimento – e mesmo
sem água – do que sem informação, como nos mostraram experiências de privação
sensorial". E, neste caso, a Internet é um perfeito "kit de primeiros
socorros" em termos de comunicação. Veio para ficar, e por isso se impôs,
criando novas posturas e comportamentos.
Queiram
ou não, admitam ou contestem, a Internet é poderoso antídoto para a solidão.
Talvez (ou provavelmente) não ideal, mas não deixa de ser bom recurso. E é
positivo, claro, com ressalvas: sem exageros e com as devidas cautelas para
escapar das armadilhas dos perversos, dos bandidos internéticos e dos imbecis
que pululam mundo afora.
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