Thursday, August 01, 2013

Antídoto para a solidão

Pedro J. Bondaczuk

A expansão vertiginosa da rede mundial de computadores, a Internet, está provocando sensíveis mudanças de comportamento na sociedade, cuja profundidade e alcance ainda não podem ser mensurados. Tudo bem, não fiz nenhuma descoberta revolucionária e nem descobri a pólvora. Limitei-me a constatar um fenômeno que se verifica bem debaixo dos nossos narizes. Cada vez mais pessoas ao redor do mundo se tornam "internautas" (neologismo que já se consagrou na linguagem cotidiana em vários idiomas), em busca de informação, entretenimento, comunicação e realização de negócios.

Mais e mais usuários fazem suas compras sem sair de casa. Depositam e sacam dinheiro em bancos, fecham contratos comerciais e realizam outras operações da vida prática, usando apenas um microcomputador e um bom servidor (nem todos são confiáveis, mas... deixa pra lá!). Nota-se uma adesão crescente de jovens à Internet. Muitos já trocam, até mesmo, bailes e boates que freqüentavam pela "navegação" na rede mundial. Fogem, com isso, dos riscos da violência e do consumo de drogas.

Nem é preciso lembrar que nem tudo é um mar de rosas no mundo internético. Há uma quantidade enorme de imbecis que se utilizam de um meio intrinsecamente tão positivo e bom, para praticar delitos de toda a sorte. Cabe aos usuários se precaverem, adotando algumas medidas simples, básicas, elementares até para não caírem nas garras desses supostos “espertalhões”. Claro que não são espertos coisa nenhuma. Mais cedo ou mais tarde, acabam descobertos, localizados e punidos. Mas acham que isso nunca lhes acontecerá. Um dia acontece.

Já os usuários criam jargões apropriados, fazem pesquisas para a escola, "namoram" à distância  (às vezes separados até por continentes) e muitos têm sua iniciação sexual com o "sexo virtual". Essa parte acho estranhíssima, mas é uma realidade. Bem, há gosto para tudo, não é mesmo? Os internautas desenvolvem, portanto, novos valores e impõem novos comportamentos. Pais preocupados buscam conter excessos dos jovens (ou o que julgam ser excessivo).  Depende do que entendem como "exagerado".

Muitas pessoas têm enorme dificuldade de se relacionar com outras, de sustentar um relacionamento qualquer – que nem precisa ser afetivo, ou mesmo de amizade, mas de mero “coleguismo” – na base do olho no olho, da presença física. Antes do advento do computador pessoal, encerravam-se em “cavernas”, retraíam-se, mantinham-se aprisionadas em casulos de solidão, que sabiam ser perversos, mas dos quais não conseguiam se livrar. Várias delas, em geral bem situadas na vida, sem problemas financeiros, com nível de instrução de razoável para bom, chegavam ao extremo de cogitar em darem cabo de si próprios. Alguns iam além e se matavam. Ainda há, óbvio, quem se sinta ou aja dessa forma. Muitos, no entanto, descobriram uma forma de se relacionar sem que seja preciso se expor. Como? Pelas redes sociais.

Fico imaginando cá com meus botões: Que mecanismo emocional se desregula a tal ponto de levar o instinto de sobrevivência (o erótico) de alguns a ser sobrepujado pelo de destruição (o tânico)? Os estudiosos do assunto dizem que, em geral, os que cometem esse ato de agressão extrema contra si próprios não querem, na verdade, morrer. O que desejam é chamar a atenção para seus problemas; para sua imensa solidão; para a carência afetiva que os domina; para seu enorme desamparo emocional. Como nos tempos atuais as pessoas estão se isolando cada vez mais, se auto-encarcerando, se mantendo solitárias mesmo quando estão no meio de uma multidão, esses seres carentes e psicologicamente frágeis encontram cada vez mais dificuldades para se fazerem ouvidos. Encontravam.

Seus obstáculos de relacionamento podem ser (e em muitos casos, são) atenuados pelos contatos que fazem pelo computador. Afinal, nem é preciso ser nenhum psicólogo, psiquiatra ou psicanalista para deduzir que, na maioria das vezes, uma boa conversa (e somente isso) salvaria e provavelmente tem salvado inúmeras pessoas até de atentarem contra a própria vida. Conheço muitos casos assim.

Esse novo comportamento é bom ou ruim? Ainda é cedo para uma conclusão definitiva. Entendo, da minha parte, como positivo e irreversível. Mas... não sou dono da verdade. Ninguém é. O escritor Arthur Clarke, num ensaio publicado em 3 de setembro de 1978 no Suplemento Literário do "O Estado de São Paulo", sob o título "O futuro no mundo das comunicações", me dá razão e justifica porque é bom. Escreve: "O homem é um animal comunicativo. Exige notícias, informações, divertimentos, quase tanto quanto alimento. Na verdade, como um ser humano na ativa, pode sobreviver muito mais sem alimento – e mesmo sem água – do que sem informação, como nos mostraram experiências de privação sensorial". E, neste caso, a Internet é um perfeito "kit de primeiros socorros" em termos de comunicação. Veio para ficar, e por isso se impôs, criando novas posturas e comportamentos.

Queiram ou não, admitam ou contestem, a Internet é poderoso antídoto para a solidão. Talvez (ou provavelmente) não ideal, mas não deixa de ser bom recurso. E é positivo, claro, com ressalvas: sem exageros e com as devidas cautelas para escapar das armadilhas dos perversos, dos bandidos internéticos e dos imbecis que pululam mundo afora.


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