Sunday, August 25, 2013

Com Sadat, eu me apresento

Pedro J. Bondaczuk

O fato mais marcante deste ano de 1977, no âmbito internacional, foi, sem dúvida, a visita do controvertido presidente egípcio, Anwar El-Sadat, a Israel. As conseqüências dessa viagem ainda estão por vir, podendo ser, como espera o presidente norte-americano Jimmy Carter, um passo decisivo para a paz no Oriente Médio. Ou, como argumenta o presidente da Síria, Hafez Assad, o estopim para a eclosão da quarta (e decisiva) guerra entre árabes e judeus.

O que se sabe de certo é que nenhuma solução é viável naquela conturbada área sem que se resolva o problema dos palestinos e, todas as conversações, visando a normalizar a situação política, só podem ter resultados concretos se acontecerem concessões aceitáveis, no sentido de se criar um Estado palestino, soberano e independente.

Há uma grande cisão no mundo árabe, com três facções ponderáveis orbitando em torno da corajosa atitude do presidente egípcio. De um lado, as nações moderadas, como a Tunísia, do presidente Habib Bourguiba, apoiando o esforço de paz do Egito e exultando, mesmo, com a possibilidade, embora remota, de êxito nessa perigosa missão. De outro, os radicais, encabeçados por Hafez Assad, pelo presidente líbio Muammar Khadafy e pelo regime socialista do Iraque, que chegam, mesmo, a tachar Sadat de "traidor da causa árabe". Finalmente, em posição neutra ou de indefinição, situam-se a Arábia Saudita, de linha política pró-ocidental; o Líbano, que em face de seus problemas internos não tomou qualquer posição a respeito e a Jordânia, do Rei Hussein, que tradicionalmente adota uma conduta de cautela face às relações com o Estado de Israel, que neste mês de novembro, completou trinta anos da sua criação.

Nos próximos números, voltaremos ao assunto, já após a aguardada "Reunião do Cairo", para a qual somente três países garantiram a participação. Ou seja, os Estados Unidos, Israel e o próprio Egito, como patrocinador, sendo aguardada, com muita expectativa, a posição que será adotada por Moscou que, por enquanto, se constitui numa grande incógnita.

O que não se pode negar é que a atitude de Sadat, intempestiva ou corajosa, ato de traição ao mundo árabe ou passo decisivo para a paz, entrará para a história do Oriente Médio como a mais ousada jogada política dos últimos tempos.

Quero, aqui, abrir um parêntese para convidá-los a, semanalmente, através da "Folha de Barão", acompanharem-me na análise dos fatos internacionais, que amanhã se transformarão em páginas da História deste nosso conturbado Planeta. Espero satisfazer a expectativa dos prezados leitores, comentando, com isenção de ânimo, não somente os fatos, mas buscando extrapolar as conseqüências que eles poderão gerar.

(Artigo publicado na página 3, da "Folha de Barão", na primeira semana de dezembro de 1977).


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