Sunday, August 11, 2013

Nacionalismo ameaça segurança

Pedro J. Bondaczuk

As Repúblicas da Eslovênia e da Croácia mantêm-se irredutíveis em sua posição de declaração de independência do restante da Iugoslávia, ameaçando acabar de vez com a instável federação e de desestabilizar uma área tradicionalmente tensa da Europa.

Dificilmente os dois Estados separatistas irão encontrar respaldo externo para essa ação, não muito refletida e que pouca, ou nenhuma vantagem irá trazer para seus respectivos povos. A Comunidade Européia realizou, ontem, uma reunião em Luxemburgo na busca de uma solução de última hora para o impasse.

O secretário de Estado norte-americano, James Baker, em sua passagem por Belgrado, na sexta-feira, alertou eslovenos e croatas para os riscos do separatismo. Deixou claro, sobretudo, que os Estados Unidos não irão reconhecer a independência e certamente seus aliados vão acompanhar a superpotência nessa decisão.

Que a Iugoslávia requer uma reforma política, econômica e social para enfrentar estes novos tempos de "perestroika" é evidente. Tais mudanças, todavia, não devem e não podem jamais passar pela secessão. Juntas, as Repúblicas já não têm sido suficientemente produtivas para livrar a população da crise econômica galopante, que a vem empobrecendo, e de forma acelerada. Separados, os Estados que integram essa federação balcânica têm tudo para se tornar gigantescos "guetos", numa parte da Europa que tradicionalmente, no correr dos últimos séculos, foi marcada pela violência. Não passarão de bombas de tempo para futuras guerras.

A Croácia acelera preparativos para declarar a independência no domingo, tendo por pretexto principal o veto imposto pela sua rival, a Sérvia, para que o representante croata assumisse, em maio passado, a Presidência rotativa iugoslava, para um mandato de um ano.

A Eslovênia, por sua vez, deseja dar esse passo imprudente até mesmo antes, amanhã, atendendo à vontade da maioria da sua população nesse sentido, expressa nas urnas do plebiscito realizado em dezembro de 1990. Tais desafios serão um teste decisivo para as autoridades federais de Belgrado.

Vão pôr à prova sua capacidade de diálogo, de negociação, de arrancar e de fazer concessões. Mais do que isso, todavia, testarão o novo dispositivo anticrise aprovado na semana passada, em Berlim, no Conselho de Chanceleres da Conferência sobre Segurança e Cooperação na Europa.

Nunca os movimentos separatistas foram considerados mais inoportunos do que agora, num período em que, sepultada de vez a guerra fria, a humanidade busca novos caminhos para estabelecer uma paz duradoura, que há muito tem estado ausente da vida dos povos.

Paradoxalmente, jamais eles estiveram em maior evidência do que em nossos dias. Na União Soviética, por exemplo, lituanos, letões, estonianos, georgianos, armênios e moldávios querem seguir seus próprios caminhos, indiferentes às dificuldades que terão de enfrentar.

Na Índia, os "sikhs" desejam a mesma coisa em relação ao Punjab. No Sri Lanka, são os tamis que sonham construir a utópica República do Eelam, enquanto nas Filipinas os muçulmanos lutam para erigir uma pátria somente sua no Sul do arquipélago.

E o separatismo continua fazendo escola, alcançando as regiões mais distantes e envolvendo etnias as mais exóticas, no autêntico movimento de se remar contra a maré. Ou a diplomacia prevalece e os políticos aprendem a negociar, ou a nova era de paz no mundo, tão apregoada pelos presidentes George Bush e Mikhail Gorbachev, continuará não passando de mera manifestação de boas intenções. E, como diz o ditado, "de bem intencionados o inferno está cheio".

(Artigo publicado na página 15, Internacional, do Correio Popular, em 25 de junho de 1991).


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