Nacionalismo
ameaça segurança
Pedro J. Bondaczuk
As
Repúblicas da Eslovênia e da Croácia mantêm-se irredutíveis em sua posição de
declaração de independência do restante da Iugoslávia, ameaçando acabar de vez
com a instável federação e de desestabilizar uma área tradicionalmente tensa da
Europa.
Dificilmente
os dois Estados separatistas irão encontrar respaldo externo para essa ação,
não muito refletida e que pouca, ou nenhuma vantagem irá trazer para seus
respectivos povos. A Comunidade Européia realizou, ontem, uma reunião em
Luxemburgo na busca de uma solução de última hora para o impasse.
O
secretário de Estado norte-americano, James Baker, em sua passagem por
Belgrado, na sexta-feira, alertou eslovenos e croatas para os riscos do
separatismo. Deixou claro, sobretudo, que os Estados Unidos não irão reconhecer
a independência e certamente seus aliados vão acompanhar a superpotência nessa
decisão.
Que
a Iugoslávia requer uma reforma política, econômica e social para enfrentar
estes novos tempos de "perestroika" é evidente. Tais mudanças,
todavia, não devem e não podem jamais passar pela secessão. Juntas, as
Repúblicas já não têm sido suficientemente produtivas para livrar a população
da crise econômica galopante, que a vem empobrecendo, e de forma acelerada.
Separados, os Estados que integram essa federação balcânica têm tudo para se
tornar gigantescos "guetos", numa parte da Europa que
tradicionalmente, no correr dos últimos séculos, foi marcada pela violência.
Não passarão de bombas de tempo para futuras guerras.
A
Croácia acelera preparativos para declarar a independência no domingo, tendo
por pretexto principal o veto imposto pela sua rival, a Sérvia, para que o
representante croata assumisse, em maio passado, a Presidência rotativa
iugoslava, para um mandato de um ano.
A
Eslovênia, por sua vez, deseja dar esse passo imprudente até mesmo antes,
amanhã, atendendo à vontade da maioria da sua população nesse sentido, expressa
nas urnas do plebiscito realizado em dezembro de 1990. Tais desafios serão um
teste decisivo para as autoridades federais de Belgrado.
Vão
pôr à prova sua capacidade de diálogo, de negociação, de arrancar e de fazer
concessões. Mais do que isso, todavia, testarão o novo dispositivo anticrise
aprovado na semana passada, em Berlim, no Conselho de Chanceleres da
Conferência sobre Segurança e Cooperação na Europa.
Nunca
os movimentos separatistas foram considerados mais inoportunos do que agora,
num período em que, sepultada de vez a guerra fria, a humanidade busca novos
caminhos para estabelecer uma paz duradoura, que há muito tem estado ausente da
vida dos povos.
Paradoxalmente,
jamais eles estiveram em maior evidência do que em nossos dias. Na União
Soviética, por exemplo, lituanos, letões, estonianos, georgianos, armênios e
moldávios querem seguir seus próprios caminhos, indiferentes às dificuldades
que terão de enfrentar.
Na
Índia, os "sikhs" desejam a mesma coisa em relação ao Punjab. No Sri
Lanka, são os tamis que sonham construir a utópica República do Eelam, enquanto
nas Filipinas os muçulmanos lutam para erigir uma pátria somente sua no Sul do
arquipélago.
E
o separatismo continua fazendo escola, alcançando as regiões mais distantes e
envolvendo etnias as mais exóticas, no autêntico movimento de se remar contra a
maré. Ou a diplomacia prevalece e os políticos aprendem a negociar, ou a nova
era de paz no mundo, tão apregoada pelos presidentes George Bush e Mikhail
Gorbachev, continuará não passando de mera manifestação de boas intenções. E,
como diz o ditado, "de bem intencionados o inferno está cheio".
(Artigo
publicado na página 15, Internacional, do Correio Popular, em 25 de junho de
1991).
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