Wednesday, August 14, 2013

Características do bom escritor

Pedro J. Bondaczuk

A Literatura impõe a quem se propõe a fazer dela meio de vida uma série de condições, a que raros estão dispostos a se submeter. O talento é importante, mas não essencial. Ou, pelo menos, se tomado de forma isolada, não basta sequer para a produção de um único bom livro, aquele que conquiste a crítica e, sobretudo, os leitores, que são, em última análise, os verdadeiros árbitros aos que o escritor precisa agradar, ou melhor, convencer. Imaginem, então, legar à posteridade uma vasta obra literária, sólida, consistente e à prova de reparos!!! Há exceções, óbvio, como em praticamente tudo na vida. Mas trata-se de raridade.

Mas é possível essa façanha? Respondo: sim! Conheço alguns escritores que, mesmo sem serem talentosos para a atividade, conseguem, com muito esforço, dedicação, pesquisa, autodisciplina e treino, produzir livros surpreendentes, desses de fazer inveja aos que esbanjam talento, mas não são persistentes e nem aplicados. Contudo esses casos são raríssimos. O simples fato de existirem, todavia, constitui-se em prova de que só o que é chamado eufemisticamente de “vocação” não basta para a elaboração de uma obra, já não digo excepcional (no sentido de altíssima qualidade), mas pelo menos aceitável ou com grande potencial de venda.

Consultei, por e-mail, um punhado de escritores, meus amigos – a maioria com dois ou mais livros de grande sucesso publicados e esgotados – sobre o que, na opinião deles, é essencial para alguém se impor e se projetar na atividade literária, não importa em que gênero, e marcar espaço no instável e sempre complicado campo da Literatura. Houve quase unanimidade nas respostas. E eles sequer mantiveram qualquer espécie de contato entre si. As “receitas” só não foram unânimes, porque uns dois, alegando falta de tempo, se recusaram a responder à consulta.

Na opinião desses meus amigos, todos veteranos na atividade, a primeira característica (das que citaram) foi a do talento, observando, no entanto, que não se tratava da exigência fundamental. O que consideraram indispensável foi, pela ordem: nível de leitura superior à média, gosto e paciência para a pesquisa, aguçado senso de observação, inflexível autodisciplina, absoluto domínio das regras do idioma, vasta e eclética cultura, excelente nível de informação,  desenvolvimento e consolidação de um estilo próprio, sinceridade e, sobretudo, “experiência”, a que prevalece “sempre”, no entender deles, sobre as demais virtudes. “E esta, como se sabe (ou pelo menos se presume)”, afirmaram, “só se adquire com vivência, com o tempo, com maturidade, ou seja, com o passar dos anos”.

Concordo com “quase” todas essas colocações. Discordo, apenas, da última. Mais especificamente, não estou de acordo com o tal do “sempre”. Entendo que ele, ao lado do seu antônimo, o “nunca”, se trata de presunçosa generalização. Ademais, meus amigos escritores deixaram implícito que a experiência apenas se adquire em idade, se não provecta, pelo menos além dos 35 anos, quando a pessoa se considera (e é considerada) madura, no consenso geral. Também discordo. Há quem “amadureça” no início da adolescência e há os que jamais obtêm esse amadurecimento, mesmo aos oitenta, noventa ou até cem anos se viverem até lá.

Quanto à experiência, há jovens que, dada suas circunstâncias de vida, têm-na de sobejo com catorze, quinze ou dezoito anos. Como há, também, anciões de realidades tão pobres e de cotidianos tão pacatos que a têm escassamente ou não contam com nenhuma. Como se vê, é mesmo perigoso recorrer às generalizações. Não por acaso, o jornalista Nelson Rodrigues, com aquela sua característica verve, com sua maneira pitoresca e original de se expressar, constatou que toda generalização é burra (mesmo tendo, também, generalizado, ao se utilizar da expressão “toda”).

Eu lhe pergunto, assim, na bucha, caríssimo leitor: Você acreditaria se eu lhe dissesse que conheço uma menina que, aos 14 anos de idade (catorze mesmo, não houve erro de digitação!!!) escreveu um romance – na verdade uma trilogia, concentrada em um só volume por razões econômicas (já que sua publicação foi bancada do próprio bolso) – com 782 páginas, que é um primor de estilo, de fluência, de técnica e de correção?! Certamente que não. Deverá estar achando que me empolguei além da conta com o livro dela, por alguma razão subjetiva.

A obra, no entanto, é tão boa, que um único texto, como este, é insuficiente para destacar suas qualidades e comprovar que os motivos da minha apreciação não se prendem a nenhum exagero. Por isso, proponho-me a analisá-lo nos próximos três ou quatro dias e demonstrar que os escritores meus amigos estavam todos errados ao afirmarem que a experiência se obtém, “sempre” (e é essa palavrinha que pega) com o muito viver.         

Por hoje (até para fazer suspense) antecipo, apenas, o nome dessa precocíssima Escritora (com “E” maiúsculo mesmo, pois ela o merece): Caroline Veiga Celeste Rocha. E para quem eventualmente quiser se antecipar aos meus comentários e conhecer o livro que tanto me impressionou, deixo o endereço eletrônico da autora, para contatos e para encomendar seu impressionante romance:
carolrocha-vampiro@hotmail.com (após o Carol Rocha e antes do vampiro, há o sinal underline que não tenho no teclado do meu computador).


Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk

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