Friday, February 22, 2013


Uma teoria da conspiração

Pedro J. Bondaczuk

O naufrágio do Titanic permaneceu praticamente esquecido por um punhado de anos, mas nunca por completo. Volta e meia era lançado algum livro a respeito, de ficção ou não (e há tantos que se torna inviável sua simples menção, tamanha é a quantidade). Filmes há pelo menos dez. Conheço uns três seriados de televisão sobre o caso. Além disso, foram publicadas, periodicamente, reportagens em jornais e revistas (como uma, de Seleções do Reader Digest’s, de 1956, que considero das mais esclarecedoras) ora repetindo detalhes divulgados anteriormente, por outros meios de comunicação, ora trazendo novas informações a respeito. Pode-se dizer, pois, que o assunto nunca saiu completamente de pauta. Foi, e continua sendo, tema recorrente.

Ademais, não faltaram matérias bizarras a propósito, tipo “teorias da conspiração”. A mais difundida (e popular) delas é a que tenta nos fazer crer que o transatlântico que afundou nas águas gélidas do Atlântico Norte, próximo à costa canadense, em 14 de abril de 1912, causando a morte de 1523 pessoas, entre passageiros e tripulantes, não foi o Titanic, mas seu “irmão gêmeo”, o Olympic, também pertencente à companhia de navegação White Star Line.

O principal defensor dessa versão (mas não o único) é o escritor britânico Robin Gardiner, autor dos livros “The Titanic Conspiracy: Cover-ups and Mysteries of the World·s Most Famous Sea Disaster” (“A Conspiração Titanic: Acobertamentos e Mistérios do Mais Famoso Desastre Marítimo do Mundo”) e “Titanic: The Ship that Never Sank” (“Titanic: o Navio que Nunca Afundou”), ambos sem versão em português.

Entendo que se trate de mera fantasia (embora não tenha como provar), mas os argumentos que esse sujeito apresenta são verossímeis. Poderia ter acontecido o que ele escreveu? Sim, poderia. Mas, aconteceu de fato? Aí já são outros quinhentos. Para que o leitor entenda a tese de Robin Gardiner, transcrevo dois parágrafos da excelente matéria de Rodrigo Cintra, publicada em 10 de abril de 2012 no blog Portal Marítimo (http://portalmaritimo.com), sob o título: “Teorias da Conspiração dizem que naufrágio do Titanic foi uma jogada de seguros”:

“A White Star Line teria trocado os nomes dos seus transatlânticos para destruir, intencionalmente, o Olympic, que havia sofrido sérios danos depois de colidir com o cruzador HMS Hawke, em setembro de 1911. Como o Olympic não estava no seguro, a empresa teria armado um plano diabólico: trocar as identificações dos dois navios, enviar o Olympic travestido na estréia do Titanic, afundá-lo em local seguro, resgatar passageiros e tripulantes e receber a indenização contratada para o Titanic. Daí por diante, o verdadeiro Titanic seguiria carreira como Olympic. Genial, não? Mas, como se sabe, deu tudo errado”.

E Rodrigo Cintra arremata assim seu detalhado texto: “Os adeptos da teoria apontam diversas evidências de que o naufrágio foi premeditado. A primeira é que o milionário J. P. Morgan, um dos sócios da White Star Line, desistiu de embarcar no Titanic às vésperas da viagem. Na época, ele justificou o cancelamento como superstição em relação a viagens inaugurais. Morgan também teria suspendido o envio de obras de arte nos porões do Titanic. Por que o dono do navio “praticamente ·inafundável” – como era anunciado – perderia a viagem histórica do então maior transatlântico do mundo? A tese conspiratória diz que Morgan e seu sócio J. Bruce Ismay foram os autores do plano. O motivo? Grana, é claro. A White Star Line enfrentava dificuldades financeiras por causa da concorrência da Cunard Line, cujos navios Lusitania e Mauretania dominavam as linhas marítimas desde 1907. Em caso de acidente com o Titanic, a seguradora pagaria 750 mil libras, valor que cobriria as perdas com a colisão do Olympic e ainda deixaria a empresa com um navio novinho em folha para ligar a Europa aos Estados Unidos”.

Prestem atenção: esta teoria da conspiração não é de autoria de Rodrigo Cintra. É de Robin Gardiner. O autor desse excelente artigo limita-se a citá-la, bem como e à respectiva fonte, ou seja, os dois livros do escritor britânico. Claro que pouquíssimos levaram a “denúncia” a sério, a despeito da verossimilhança da sua narrativa com o que aconteceu. O fato de eu trazer isso à baila não significa, quero deixar isso muito claro, que eu acredite nessa bizarra versão do naufrágio. Todavia, como prometi ao leitor André de Oliveira abordar aspectos, se não novos, pelo menos não tão batidos, a propósito do fim do Titanic (e justo em sua viagem inaugural) achei oportuno escrever a respeito, para que o leitor saiba que até isso já foi dito (e escrito) sobre a centenária tragédia no mar.

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