Monday, February 25, 2013


Grandeza superada recentemente

Pedro J. Bondaczuk

O Titanic foi o maior navio, em termos de quantidade de pessoas transportadas com conforto e segurança (e, nesse quesito, obviamente pecou) de todo o século XX. Em texto anterior, informei que foi superado, nesse aspecto, nos anos 60. Enganei-me. Não foi. Fazendo meticulosa pesquisa, em várias fontes, cheguei à conclusão que, uma embarcação, com maior capacidade de transporte de passageiros e tripulantes em todo o mundo só entrou em operação em 2006. Portanto, o Titanic só foi superado em “gigantismo” neste século XXI.

Essa façanha coube, há seis anos, ao Freedom of Seas, da empresa Royal Caribean, gigantesca estrutura de 341 metros de comprimento, que pode transportar (pois ainda continua operacional e navegando Caribe afora, em periódicos cruzeiros) 3.634 pessoas, entre passageiros e tripulantes. A capacidade doTitanic (a oficialmente aceita) era de 3.500. Claro que números redondos enganam. A cifra real tanto poderia ser, digamos, de 3.537 quanto de 3.496 ou outra quantidade qualquer. O número preciso nunca se soube com exatidão e não se saberá, óbvio. Convencionou-se estabelecer a capacidade de 3.500 e é, pois, a que aceito.

Atualmente, o Freedom of Seas já perdeu a primazia de embarcação com maior capacidade de transporte de passageiros e tripulantes do mundo. Esse recorde cabe, hoje, a dois “albatrozes” de aço dos mares, o “Allure of the Seas”, da Royal Caribean, capacidade para 5.400 passageiros, 360 metros de comprimento, lançado em 2010 e o “Oasis of the Seas”, com a mesmíssima capacidade e tamanho e da mesma companhia, que entrou em operação um ano antes, em 2009.
A título de curiosidade, transcrevo abaixo o atual “ranking” dos atuais gigantes dos oceanos:

1º) Allure of the Seas, da Royal Caribean, capacidade para 5.400 passageiros, 360 metros de comprimento, lançado em 2010 e o Oasis of the Seas, com a mesmíssima capacidade e tamanho, da mesma companhia, lançado em 2009.
2º) MSC Fantasia, da MSC Cruzeiros, capacidade para 4.363 passageiros, 333 metros de comprimento, lançado em 2008 e o MSC Divina, com a mesmíssima capacidade e tamanho, da mesma companhia, lançado em 2012.
3º) Norwegian Epic, da Norwegian Cruises, capacidade para 4.200 passageiros, 329 metros de comprimento, lançado em 2010.
4º) MSC Splendida, da MSC Cruzeiros, capacidade para 3.952 passageiros, 333 metros de comprimento, lançado em 2009.
5º) Costa Pacífica, da Costa Cruzeiros, capacidade 3.780 passageiros, 290 metros de comprimento, lançado em 2009, Costa Concórdia (lançado em 2006) e Costa Serena, com a mesmíssima capacidade e tamanho dos dois navios citados, da mesma companhia, lançado em 2007.
6º) Carnival Magic, da Carnival, capacidade 3.690 passageiros, 306 metros de comprimento, lançado em 2011.
7º) Carnival Dream, da Carnival, capacidade 3.646 passageiros, 306 metros de comprimento, lançado em 2009.
8º) Freedom of Seas, Liberty of Seas e Independence of Seas, os três da Royal Caribean, os três com capacidade de 3.634 passageiros cada um, os três com 341 metros de comprimento cada um, lançados, respectivamente, em 2006, 2007 e 2008.

Como se vê, foram necessários quase cem anos para que o gigantismo do Titanic viesse a ser superado. Os navios atuais são, óbvio, muito mais seguros do que o transatlântico que, segundo seu comandante, o falastrão E. J. Smith, “nem Deus poderia afundar”, mas que afundou e logo em sua viagem inaugural. Contam com recursos que, em 1912, nenhum engenheiro naval sequer sonhava que um dia estariam disponíveis aos armadores, sobretudo no que diz respeito às comunicações, navegabilidade e dirigibilidade, com as maravilhas proporcionadas pela informática. Em termos de luxo e de conforto, porém, o Titanic não ficava nada a dever aos moderníssimos gigantes do mar de hoje.

Pelo menos teoricamente, as grandes embarcações da atualidade são muito mais seguras do que a histórica nau inglesa. Todavia, seus proprietários, capitães e pilotos, não se atrevem a repetir a arrogância de E. J. Smith e afirmar que “nem Deus pode afundar” seus transatlânticos. Não existe, nunca existiu e provavelmente jamais existirá barco algum (ainda mais desses gigantescos) que seja rigorosamente impossível de naufragar. Oportunamente, abordarei as razões para afirmar isso com tamanha certeza.

Quanto à afirmação do capitão E. J. Smith, sobreviventes da tragédia de abril de 1912 relatam o seguinte. Quando noventa metros de casco do Titanic foram rasgados pela base do iceberg, como uma faca aquecida corta uma barra de manteiga, destruindo toda a proa do navio abaixo da linha da água, pouca gente, no seu interior, sequer se apercebeu do fato. No salão de festas, a noite seguia animada. Uma orquestra, seletíssima, executava os maiores sucessos da época. Alguns casais, em elegantíssimos trajes de gala, dançavam, outros conversavam e outros, ainda, jogavam cartas ou limitavam-se a apreciar o movimento.

Faltavam poucos dias, dois ou três, para o Titanic atracar no porto de Nova York, destino final da histórica viagem. A travessia estava sendo tão rápida e agradável que não houvera, ainda, tempo para tédio. Havia atrações para todos os gostos e temperamentos e a satisfação dos passageiros era evidente, estampada em seus rostos.

O barulho da colisão foi tão abafado, que nem deu para ninguém se assustar. Um ou outro perguntou aos tripulantes o que havia acontecido para, em seguida, retomar o que estava fazendo: dançando, namorando, bebendo, conversando, jogando cartas ou simplesmente observando. Alguém, mais curioso (ou medroso?) resolveu conferir o motivo daquele estranho ruído. Diversos dos passageiros, quando comunicados do choque do Titanic com a enorme, sólida e ameaçadora montanha de gelo, não se perturbaram. Afinal, todos sabiam (ou julgavam saber) que o navio era insubmergível.

Testemunhas contam que uma senhora, um pouco mais assustada, se dirigiu ao capitão perguntando da possibilidade da embarcação afundar. E dizem ter ouvido, nitidamente, Smith afirmar, em tom tranqüilizador: “Tenha calma, está tudo bem. Saiba, minha senhora, que nem Deus pode afundar este navio”. Muitos passageiros, ignorando o perigo que corriam, foram para amurada, para tocar, com as mãos, o iceberg, bem ao alcance delas. Encararam como um “acontecimento”, como outra atração da viagem. Risos e brincadeiras da maioria mostravam, aos que ainda estavam temerosos, que tudo estava bem. Era isso, pelo menos, o que os passageiros pensavam. O que eles ignoravam é que a água entrava, de forma incontrolável, pelo enorme rasgo no casco. O resto... bem, vocês, leitores, e o mundo, estão fartos de saber.

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