Grandeza superada
recentemente
Pedro
J. Bondaczuk
O Titanic foi o maior
navio, em termos de quantidade de pessoas transportadas com conforto e
segurança (e, nesse quesito, obviamente pecou) de todo o século XX. Em texto
anterior, informei que foi superado, nesse aspecto, nos anos 60. Enganei-me.
Não foi. Fazendo meticulosa pesquisa, em várias fontes, cheguei à conclusão
que, uma embarcação, com maior capacidade de transporte de passageiros e
tripulantes em todo o mundo só entrou em operação em 2006. Portanto, o Titanic
só foi superado em “gigantismo” neste século XXI.
Essa façanha coube, há
seis anos, ao Freedom of Seas, da empresa Royal Caribean, gigantesca estrutura
de 341 metros de comprimento, que pode transportar (pois ainda continua
operacional e navegando Caribe afora, em periódicos cruzeiros) 3.634 pessoas,
entre passageiros e tripulantes. A capacidade doTitanic (a oficialmente aceita)
era de 3.500. Claro que números redondos enganam. A cifra real tanto poderia
ser, digamos, de 3.537 quanto de 3.496 ou outra quantidade qualquer. O número
preciso nunca se soube com exatidão e não se saberá, óbvio. Convencionou-se
estabelecer a capacidade de 3.500 e é, pois, a que aceito.
Atualmente, o Freedom
of Seas já perdeu a primazia de embarcação com maior capacidade de transporte
de passageiros e tripulantes do mundo. Esse recorde cabe, hoje, a dois
“albatrozes” de aço dos mares, o “Allure of the Seas”, da Royal Caribean,
capacidade para 5.400 passageiros, 360 metros de comprimento, lançado em 2010 e
o “Oasis of the Seas”, com a mesmíssima capacidade e tamanho e da mesma
companhia, que entrou em operação um ano antes, em 2009.
A título de
curiosidade, transcrevo abaixo o atual “ranking” dos atuais gigantes dos
oceanos:
1º)
Allure of the Seas, da Royal Caribean, capacidade para 5.400 passageiros, 360
metros de comprimento, lançado em 2010 e o Oasis of the Seas, com a mesmíssima
capacidade e tamanho, da mesma companhia, lançado em 2009.
2º)
MSC Fantasia, da MSC Cruzeiros, capacidade para 4.363 passageiros, 333 metros
de comprimento, lançado em 2008 e o MSC Divina, com a mesmíssima capacidade e
tamanho, da mesma companhia, lançado em 2012.
3º)
Norwegian Epic, da Norwegian Cruises, capacidade para 4.200 passageiros, 329
metros de comprimento, lançado em 2010.
4º)
MSC Splendida, da MSC Cruzeiros, capacidade para 3.952 passageiros, 333 metros
de comprimento, lançado em 2009.
5º)
Costa Pacífica, da Costa Cruzeiros, capacidade 3.780 passageiros, 290 metros de
comprimento, lançado em 2009, Costa Concórdia (lançado em 2006) e Costa Serena,
com a mesmíssima capacidade e tamanho dos dois navios citados, da mesma
companhia, lançado em 2007.
6º)
Carnival Magic, da Carnival, capacidade 3.690 passageiros, 306 metros de
comprimento, lançado em 2011.
7º)
Carnival Dream, da Carnival, capacidade 3.646 passageiros, 306 metros de
comprimento, lançado em 2009.
8º)
Freedom of Seas, Liberty of Seas e Independence of Seas, os três da Royal
Caribean, os três com capacidade de 3.634 passageiros cada um, os três com 341
metros de comprimento cada um, lançados, respectivamente, em 2006, 2007 e 2008.
Como se vê, foram
necessários quase cem anos para que o gigantismo do Titanic viesse a ser
superado. Os navios atuais são, óbvio, muito mais seguros do que o
transatlântico que, segundo seu comandante, o falastrão E. J. Smith, “nem Deus
poderia afundar”, mas que afundou e logo em sua viagem inaugural. Contam com
recursos que, em 1912, nenhum engenheiro naval sequer sonhava que um dia
estariam disponíveis aos armadores, sobretudo no que diz respeito às
comunicações, navegabilidade e dirigibilidade, com as maravilhas proporcionadas
pela informática. Em termos de luxo e de conforto, porém, o Titanic não ficava
nada a dever aos moderníssimos gigantes do mar de hoje.
Pelo menos
teoricamente, as grandes embarcações da atualidade são muito mais seguras do
que a histórica nau inglesa. Todavia, seus proprietários, capitães e pilotos,
não se atrevem a repetir a arrogância de E. J. Smith e afirmar que “nem Deus
pode afundar” seus transatlânticos. Não existe, nunca existiu e provavelmente
jamais existirá barco algum (ainda mais desses gigantescos) que seja
rigorosamente impossível de naufragar. Oportunamente, abordarei as razões para
afirmar isso com tamanha certeza.
Quanto à afirmação do
capitão E. J. Smith, sobreviventes da tragédia de abril de 1912 relatam o
seguinte. Quando noventa metros de casco do Titanic foram rasgados pela base do
iceberg, como uma faca aquecida corta uma barra de manteiga, destruindo toda a
proa do navio abaixo da linha da água, pouca gente, no seu interior, sequer se
apercebeu do fato. No salão de festas, a noite seguia animada. Uma orquestra,
seletíssima, executava os maiores sucessos da época. Alguns casais, em
elegantíssimos trajes de gala, dançavam, outros conversavam e outros, ainda,
jogavam cartas ou limitavam-se a apreciar o movimento.
Faltavam poucos dias,
dois ou três, para o Titanic atracar no porto de Nova York, destino final da
histórica viagem. A travessia estava sendo tão rápida e agradável que não
houvera, ainda, tempo para tédio. Havia atrações para todos os gostos e
temperamentos e a satisfação dos passageiros era evidente, estampada em seus
rostos.
O barulho da colisão
foi tão abafado, que nem deu para ninguém se assustar. Um ou outro perguntou
aos tripulantes o que havia acontecido para, em seguida, retomar o que estava
fazendo: dançando, namorando, bebendo, conversando, jogando cartas ou
simplesmente observando. Alguém, mais curioso (ou medroso?) resolveu conferir o
motivo daquele estranho ruído. Diversos dos passageiros, quando comunicados do
choque do Titanic com a enorme, sólida e ameaçadora montanha de gelo, não se
perturbaram. Afinal, todos sabiam (ou julgavam saber) que o navio era
insubmergível.
Testemunhas contam que
uma senhora, um pouco mais assustada, se dirigiu ao capitão perguntando da
possibilidade da embarcação afundar. E dizem ter ouvido, nitidamente, Smith
afirmar, em tom tranqüilizador: “Tenha calma, está tudo bem. Saiba, minha
senhora, que nem Deus pode afundar este navio”. Muitos passageiros, ignorando o
perigo que corriam, foram para amurada, para tocar, com as mãos, o iceberg, bem
ao alcance delas. Encararam como um “acontecimento”, como outra atração da
viagem. Risos e brincadeiras da maioria mostravam, aos que ainda estavam
temerosos, que tudo estava bem. Era isso, pelo menos, o que os passageiros
pensavam. O que eles ignoravam é que a água entrava, de forma incontrolável,
pelo enorme rasgo no casco. O resto... bem, vocês, leitores, e o mundo, estão
fartos de saber.
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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