Pedro J. Bondaczuk
A “Alianza Popular Revolucionária Americana” do Peru, conhecida pela sigla APRA, criada em 1929 por Haya de la Torre, desde a sua fundação sempre se constituiu no partido mais popular desse país. Organização partidária mis antiga, das que estão em atividade na América Latina (e provavelmente a melhor organizada), ainda assim, nunca elegeu um presidente da República, fato atribuído à ojeriza que os militares peruanos têm por ela.
E não é para menos. Criada, inicialmente, como movimento guerrilheiro (quando esse tipo de luta não era sequer conhecido, nem mesmo nos países que o popularizaram mais tarde, como o Vietnã e a China), a APRA protagonizou, em 1932, um episódio sangrento na cidade de Trujillo.
Na oportunidade, atreveu-se, até, em partir para a luta armada e combater o Exército. Nos diversos combates que protagonizou, vários oficiais acabaram sendo mortos. Para culminar, formou um Conselho de Guerra, que comandou o fuzilamento de 3 mil pessoas que apoiavam o governo de Oscar Benavides, que a organização lutava para depor.
A partir de então, jamais os militares perdoaram os apristas. E estes, por sua vez, nunca conseguiram alcançar o objetivo de todo partido político, ou seja, a ascensão ao poder. Isso valeu, também, ao seu criador e líder máximo, Haya de la Torre, doze anos na clandestinidade e mais cinco que permaneceu asilado em uma embaixada, em Lima.
Entretanto, nas eleições de amanhã, no Peru, que vão apontar o sucessor de Fernando Belaunde Terry na Presidência da República, a APRA tem a sua primeira e real chance de conseguir, pelo voto, aquilo que há 53 anos não obteve pelas armas: o poder.
Seu candidato, Alan Garcia Perez, com uma plataforma estranhamente conservadora (mais até do que a do governista Javier Orlandini, indicado pelo atual presidente e por seu partido, Ação Popular), desponta, em todas as pesquisas de opinião, como o franco favorito para se eleger, tendo, apenas, uma discreta concorrência do marxista prefeito de Lima, Alfonso Barrantes.
Em outras palavras, o Peru, com certeza, terá um governo de esquerda, seja quem for o vencedor. A menos, é claro, que os militares recorram ao velho e surrado expediente do golpe de Estado e embarquem em outra aventura, como a que terminou, desastrosamente, em 1980.
A soma de problemas que o próximo governo peruano terá que enfrentar será qualquer coisa de endoidar o mais sereno dos mortais. Estranha-se, até, como tanta gente possa querer um cargo desse porte que, pela responsabilidade, e pelas dificuldades que envolve atualmente, não é, convenhamos, dos mais tentadores.
Desde a fome, o desemprego, a dívida externa e a péssima distribuição de renda, às ações cada vez mais virulentas dos guerrilheiros do Sendero Luminoso e do Tupac Amaru, as questões se avolumam, requerem urgente solução, pois a sociedade peruana vive, hoje, instantes de angústia e até de ceticismo. E pensar que nove políticos ainda se dispõem a resolver essas graves distorções, com programas que vão desde o marxismo, puro e simples, a uma espécie de fascismo revigorado! É ter muita coragem!
De qualquer forma, o cargo, que um dia já foi do libertador José de San Martin, herói da independência Argentina, que participou da luta pela emancipação de diversos países sul-americanos e que presidiu o Peru em 1821 e do maior líder que as Américas já produziram, Simon Bolívar, que presidiu essa República andina em 1825, será ocupado, a partir de julho, pelo aprista Alan Garcia.
Trata-se de um advogado e sociólogo, com passagens pela Sorbonne, de 35 anos de idade, de quase dois metros de altura, 92 quilos de peso, preferido pelo eleitorado feminino pelo seu jeitão de galã e que, nos tempos de estudante, integrou o grupo Búfalo, temido pela polícia pelos estragos que causava durante os vários tumultos estudantis que promoveu.
Tomara, para o bem dos peruanos, que a sua disposição para encontrar soluções seja proporcional ao seu porte físico avantajado. Os problemas do Peru assim o exigem. Só mesmo um super-homem para comandar um país com tantas angústias, incertezas e contradições.
(Artigo publicado na página 10, Internacional, do Correio Popular, em 13 de abril de 1985).
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