Recorde
nada louvável
O Sri Lanka bateu, no corrente ano, todos os recordes de terrorismo no
mundo. Em apenas dois atentados, ocorridos em dois terminais de ônibus
diferentes de Colombo, quase 300 pessoas foram mortas, estraçalhadas por
traiçoeiros artefatos, sem que tivessem alguma coisa a ver com as controvérsias
que agitam essa violenta ilha (outrora muito procurada por turistas por causa
das suas belas praias) e sem que pudessem se defender.
Até julho, esses ataques eram cometidos, via de regra, pela minoria étnica tamil, que sustentava uma guerra civil de quatro anos, em busca da criação de um país independente, a República do Eelam, no Leste do antigo Ceilão.
Nesse mês, o primeiro-ministro indiano, Rajiv Gandhi, firmou um acordo com o presidente cingalês, Junius Jayewardene, determinando um cessar-fogo. É verdade que a Índia comprou uma enorme encrenca ao tentar pacificar seu turbulento vizinho. Foi necessário que suas tropas entrassem em confronto direto com os separatistas, contrariando sua vontade e conquistasse o reduto deles, para que os rebeldes aceitassem depor as armas, numa trégua que ainda continua frágil, atada por um simples fio de cabelo.
Mas se o tratado descontentou os tamis, principalmente os radicais do grupo Tigres para a Libertação do Eelam, não deixou a maioria cingalesa nem um pouco mais satisfeita. Pelo contrário. A prova disso foi a agressão que o primeiro-ministro indiano sofreu em Colombo, de um marinheiro da guarda formada em sua homenagem.
A partir de então, foram os radicais da maioria étnica que passaram a cometer atentados e assassinatos políticos, um atrás do outro, visando romper o acordo de julho. Para eles só há um jeito de se livrar da minoria, que consideram indesejável: expulsando-a para a Índia, de onde os tamis são originários.
Com isso, o Sri Lanka substitui o Líbano nas estatísticas de terrorismo. Esse país, ao lado da Espanha, pontilhou as manchetes referentes a atentados com carro-bomba ao longo de todo 1987. Mas acabou superando, com folga, as estripulias dos irrequietos bascos nas províncias espanholas do Norte.
A onda de viol6encia no Sri Lanka culminou, ontem, com o assassinato, frio, brutal, covarde e meticuloso, uma obra de profissionais do crime, do chefe do partido governista, Hasha Abeywardene. Mas o alvo da Frente Popular de Libertação, um grupo da maioria cingalesa radical, não era bem esse político. Era o próprio presidente Junius Jayewardene, que neste ano já escapou de morrer, por explosão de bomba, por muito pouco.
Ao que tudo indica, o Sri Lanka deverá continuar liderando as deprimentes estatísticas de atentados também em 1988, deslocando o eixo do terrorismo internacional da Europa e do Oriente Médio para a Ásia.
(Artigo publicado na página 10,
Internacional, do Correio Popular, em 24 de dezembro de 1987).
Até julho, esses ataques eram cometidos, via de regra, pela minoria étnica tamil, que sustentava uma guerra civil de quatro anos, em busca da criação de um país independente, a República do Eelam, no Leste do antigo Ceilão.
Nesse mês, o primeiro-ministro indiano, Rajiv Gandhi, firmou um acordo com o presidente cingalês, Junius Jayewardene, determinando um cessar-fogo. É verdade que a Índia comprou uma enorme encrenca ao tentar pacificar seu turbulento vizinho. Foi necessário que suas tropas entrassem em confronto direto com os separatistas, contrariando sua vontade e conquistasse o reduto deles, para que os rebeldes aceitassem depor as armas, numa trégua que ainda continua frágil, atada por um simples fio de cabelo.
Mas se o tratado descontentou os tamis, principalmente os radicais do grupo Tigres para a Libertação do Eelam, não deixou a maioria cingalesa nem um pouco mais satisfeita. Pelo contrário. A prova disso foi a agressão que o primeiro-ministro indiano sofreu em Colombo, de um marinheiro da guarda formada em sua homenagem.
A partir de então, foram os radicais da maioria étnica que passaram a cometer atentados e assassinatos políticos, um atrás do outro, visando romper o acordo de julho. Para eles só há um jeito de se livrar da minoria, que consideram indesejável: expulsando-a para a Índia, de onde os tamis são originários.
Com isso, o Sri Lanka substitui o Líbano nas estatísticas de terrorismo. Esse país, ao lado da Espanha, pontilhou as manchetes referentes a atentados com carro-bomba ao longo de todo 1987. Mas acabou superando, com folga, as estripulias dos irrequietos bascos nas províncias espanholas do Norte.
A onda de viol6encia no Sri Lanka culminou, ontem, com o assassinato, frio, brutal, covarde e meticuloso, uma obra de profissionais do crime, do chefe do partido governista, Hasha Abeywardene. Mas o alvo da Frente Popular de Libertação, um grupo da maioria cingalesa radical, não era bem esse político. Era o próprio presidente Junius Jayewardene, que neste ano já escapou de morrer, por explosão de bomba, por muito pouco.
Ao que tudo indica, o Sri Lanka deverá continuar liderando as deprimentes estatísticas de atentados também em 1988, deslocando o eixo do terrorismo internacional da Europa e do Oriente Médio para a Ásia.
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