Preservado no fundo do
mar
Pedro
J. Bondaczuk
O naufrágio do Titanic
– assunto que por muito tempo já estava esquecido – voltou, subitamente, à
baila, em 2 de setembro de 1985, tornando a ganhar manchetes mundo afora, como
se o desastre que o afundou houvesse ocorrido na véspera. Isso 73 anos, na
ocasião, em que a tragédia marítima, tão abordada periodicamente, havia
acontecido. O que levou a imprensa a “requentar” o assunto? É que, naquela
oportunidade, os restos do navio – daquele que seu comandante, de sobrenome
Smith, havia dito, com arrogância, que “nem Deus conseguiria afundar” – foram,
finalmente, localizados no fundo do mar.
A façanha coube a uma
equipe franco-norte-americana, de 47 homens, chefiada pelo eminente
oceanógrafo, Dr. Robert Ballard, com o providencial recurso de um
mini-submarino robô, não tripulado, e munido de potentes câmeras. Os dois
grandes pedaços do transatlântico (que antes de afundar partira-se ao meio)
jaziam, praticamente intactos, no fundo do Atlântico Norte, numa região
distante 900 quilômetros de Saint Jean, na área de Terra Nova, território do
Canadá, a uma profundidade de cerca de quatro mil metros (quatro quilômetros de
fundura!).
O que surpreendeu o
grupo foi o fato da gigantesca embarcação (ou seus dois enormes “pedaços”),
estar praticamente intacta, como se fosse conservada em um museu. E, reitero,
quando foi localizada pelo mini-submarino estava há já 73 anos no fundo do
oceano. Com a descoberta, voltou à baila, com força redobrada, a questão sobre
a verdadeira causa desse espetacular naufrágio. Havia (como ainda há) dúvidas
sobre se a colisão com o iceberg seria suficiente para pôr a pique, e com a
velocidade que isso ocorreu, a embarcação mais moderna e supostamente
resistente – pelo menos era o que seus armadores, os que a construíram,
propalavam – construída até então. Afinal, como todos diziam, o Titanic era um
transatlântico “impossível de afundar”. Como se viu, porém, não era.
Na oportunidade da
localização exata dos destroços, a exemplo do que tantos jornais e revistas
mundo afora fizeram, também escrevi longa matéria, de uma página inteira (e sem
anúncios) a propósito, publicada na edição de 8 de setembro de 1985 do jornal
Correio Popular de Campinas em que, na ocasião, eu era editor do noticiário
Internacional. Claro que não se tratou de reportagem, já que não presenciei
pessoalmente o fato e nem entrevistei sobreviventes, não podendo, portanto,
“reportar” o que não vi. Tratava-se mais de relato histórico, requentado com
informações novas, enviadas pelas agências de notícias internacionais – nosso
jornal trabalhava com três delas na ocasião: a United Press International, a
Reuters e a Agência France Press.
De acordo com
depoimentos do cientista canadense, Joe Macinnis, na época, que rumou para a
área do naufrágio, assim que foi anunciada a localização dos restos do
transatlântico, as fotografias feitas do gigantesco navio revelaram que sua
proa, bem como a torre de comando, estavam (e ainda estão) em perfeito estado.
Essa informação foi corroborada, tempos depois, por outras fontes e,
principalmente por imagens de vídeo. Assisti, se não me falha a memória entre
2009 e 2010, dois meticulosos documentários sobre a localização dos destroços
do Titanic – um do Discovery Chanel e outro do National Geografic Chanel – e
pude constatar, pelas imagens exibidas, a exatidão dessas informações.
Quem vê os dois enormes
pedaços do transatlântico – toda a estrutura está encaixada, de pé, no leito
oceânico – no seu imenso túmulo aquático, mal pode crer na enorme tragédia que
se abateu sobre os 1.290 passageiros e 903 tripulantes que, no dia 10 de abril
de 1912 – quatro dias antes do naufrágio – haviam partido, em clima de festa e
euforia, com ampla cobertura da imprensa, do porto inglês de Southampton, rumo
a Nova York, com o objetivo de, logo em sua viagem inaugural, quebrar o recorde
de menor tempo gasto na travessia marítima do Atlântico em uma embarcação de
luxo. E põe luxo nisso!
Durante décadas,
discutiu-se sobre o número exato de mortos no desastre com o Titanic. As
informações iniciais (como destaquei recentemente e que se comprovaram ser
monumental “barriga” de inúmeros jornais) davam conta de que não havia mortos.
Só me admira como houve quem acreditasse nisso. Mas... ingênuos e inocentes
úteis é que não faltam, nunca faltaram e infelizmente jamais faltarão.
As cifras iniciais,
depois que a imprensa caiu na real, foram de 1.493 pessoas mortas. Os números
foram sendo corrigidos com o tempo. Primeiro cresceram para 1.502, depois para
1.513 para se fixar no número hoje aceito pela maioria (que acredito ser o
exato) de 1.523. Mas certeza, certeza mesmo, ninguém tem e creio que jamais
terá, principalmente passados mais de cem anos do afundamento do Titanic.
Fatos mostram que o
desastre poderia ser evitado, não houvesse tanta badalação e publicidade em
torno da viagem inaugural do transatlântico. Um acidente ocorrido antes dele
zarpar, ainda na Inglaterra, deveria ter adiado a partida e levar os
responsáveis a determinar uma inspeção geral e meticulosa na embarcação. A
arrogância dos seus proprietários impediu, porém, essa prudente providência.
Explico.
O Titanic deixou
Queenstown, na Irlanda, onde foi construído, cinco dias antes da data prevista
para o início da viagem inaugural, ou seja, em 5 de abril de 1912, uma
sexta-feira (está aí um bom subsídio para os supersticiosos!). Zarpou, rumo a
Southampton, com altas personalidades do “jet set” internacional a bordo.
Quando tudo estava pronto para o início da travessia marítima, houve uma
espécie de aviso de que o navio “impossível de afundar”, não era tão seguro
como se propalava. A caldeira número seis do Titanic explodiu.
O capitão, contudo, não
deu maior importância ao incidente. Não se preocupou em averiguar o motivo da
explosão. Afinal, argumentou, as 29 caldeiras restantes eram mais do que
suficientes para que o transatlântico chegasse com segurança a Nova York, e em
tempo recorde, como todos esperavam.
Ao sair da barra do
porto de Southampton, ocorreu outro incidente. Dessa vez, a gigantesca
embarcação quase colidiu com outro navio. É que suas hélices eram grandes
demais e o giro delas causou enorme redemoinho nas águas da saída do porto.
Essa turbulência rompeu as amarras do outro barco, que ficou à deriva e apenas
não se chocou com essa verdadeira “cidade flutuante” porque os respectivos
pilotos mostraram muita perícia e sangue frio e evitaram o pior. Esses
incidentes seriam uma espécie de aviso sobre o que viria na sequência? Não sei!
Até pode ser. Enfim...
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
No comments:
Post a Comment