Sunday, February 10, 2013

Automedicação é suicídio

Pedro J. Bondaczuk

A TV começou a veicular, no último fim de semana, uma campanha institucional que há muito já deveria ter sido feita. Trata-se de um alerta dado à população acerca dos riscos da automedicação. São incontáveis os casos de intoxicação medicamentosa em vários graus.

Algumas têm provocado, inclusive, a morte de pessoas que se julgam habilitadas a receitar remédios para si próprias. Neste caso, quem age assim, sem a competente habilitação conferida por um curso de Medicina, é um indivíduo que tem por cliente "um louco".

Se fosse tão fácil, quanto o cidadão comum às vezes imagina, diagnosticar uma determinada moléstia ou disfunção orgânica e determinar o processo de cura, todos seriam médicos. Ninguém precisaria investir dinheiro, tempo, sacrifícios e idealismo para estudar.

Já se tentou de tudo para impedir essa prática insensata e sobretudo absurda. Por maior que seja a fiscalização, aumenta, dia a dia, a estúpida mania da automedicação, que em milhares de casos significa, na verdade, a prática do suicídio, posto que não intencional.

Os medicamentos, em sua grande maioria, funcionam na base da compensação. Curam o mal para o qual são indicados, mas podem produzir desarranjos em órgãos vizinhos, principalmente se estes não estiverem completamente sadios.

Só um médico, mediante um exame rigoroso, é capaz de determinar até que ponto o organismo está em condições de suportar a reação causada por algum produto, sem maiores danos.

Os remédios mais milagrosos tendem, ironicamente, a ser os mais letais venenos caso não sejam tomados no momento certo, para o achaque indicado e na dose exata. Basta que alguém diga, casualmente, que está com "uma dor de cabeça terrível" para, invariavelmente, surgir alguém se prontificando a "receitar" um medicamento.

Há pessoas com necessidades subconscientes de chamar a atenção, em virtude de suas carências afetivas, que possuem doenças meramente imaginárias. São as enfermidades classificadas como "psicossomáticas". Ou seja, as que existem somente na cabeça do suposto doente.

Caso esse indivíduo comece a engolir pílulas atrás de pílulas, de todos os tipos, tamanhos e cores, aí sim sua situação ficará complicada. Somente um médico pode diferenciar a realidade da imaginação nesses casos.

Em tais circunstâncias, provavelmente, o mais recomendável será não ridicularizar o paciente, mas, quem sabe, lhe receitar um "placebo", ou seja, um produto inócuo, à base de farinha. Não tenham dúvidas de que o "remédio" em questão operará milagres. Mas se o doente imaginário se puser a se automedicar...

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 6 de novembro de 1990).


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