Automedicação
é suicídio
Pedro J. Bondaczuk
A
TV começou a veicular, no último fim de semana, uma campanha institucional que
há muito já deveria ter sido feita. Trata-se de um alerta dado à população
acerca dos riscos da automedicação. São incontáveis os casos de intoxicação
medicamentosa em vários graus.
Algumas
têm provocado, inclusive, a morte de pessoas que se julgam habilitadas a
receitar remédios para si próprias. Neste caso, quem age assim, sem a
competente habilitação conferida por um curso de Medicina, é um indivíduo que
tem por cliente "um louco".
Se
fosse tão fácil, quanto o cidadão comum às vezes imagina, diagnosticar uma
determinada moléstia ou disfunção orgânica e determinar o processo de cura,
todos seriam médicos. Ninguém precisaria investir dinheiro, tempo, sacrifícios
e idealismo para estudar.
Já
se tentou de tudo para impedir essa prática insensata e sobretudo absurda. Por
maior que seja a fiscalização, aumenta, dia a dia, a estúpida mania da
automedicação, que em milhares de casos significa, na verdade, a prática do
suicídio, posto que não intencional.
Os
medicamentos, em sua grande maioria, funcionam na base da compensação. Curam o
mal para o qual são indicados, mas podem produzir desarranjos em órgãos
vizinhos, principalmente se estes não estiverem completamente sadios.
Só
um médico, mediante um exame rigoroso, é capaz de determinar até que ponto o
organismo está em condições de suportar a reação causada por algum produto, sem
maiores danos.
Os
remédios mais milagrosos tendem, ironicamente, a ser os mais letais venenos
caso não sejam tomados no momento certo, para o achaque indicado e na dose
exata. Basta que alguém diga, casualmente, que está com "uma dor de cabeça
terrível" para, invariavelmente, surgir alguém se prontificando a
"receitar" um medicamento.
Há
pessoas com necessidades subconscientes de chamar a atenção, em virtude de suas
carências afetivas, que possuem doenças meramente imaginárias. São as
enfermidades classificadas como "psicossomáticas". Ou seja, as que
existem somente na cabeça do suposto doente.
Caso
esse indivíduo comece a engolir pílulas atrás de pílulas, de todos os tipos,
tamanhos e cores, aí sim sua situação ficará complicada. Somente um médico pode
diferenciar a realidade da imaginação nesses casos.
Em
tais circunstâncias, provavelmente, o mais recomendável será não ridicularizar
o paciente, mas, quem sabe, lhe receitar um "placebo", ou seja, um
produto inócuo, à base de farinha. Não tenham dúvidas de que o
"remédio" em questão operará milagres. Mas se o doente imaginário se
puser a se automedicar...
(Artigo publicado na página 2, Opinião,
do Correio Popular, em 6 de novembro de 1990).
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