Não podia afundar
Pedro
J. Bondaczuk
O Titanic foi projetado
e construído para transportar, com rapidez e segurança, 3.500 pessoas, entre
passageiros e tripulantes. Era, na época em que foi construído, o que havia de
mais moderno e sofisticado no ramo da construção naval. E, claro, também de
mais luxuoso. Era, simplesmente, suntuoso e deslumbrante,
Até a década de 60 do
século XX, nenhum outro navio superou-o em dimensões e em capacidade. Ainda
hoje, são raras as embarcações de transporte de passageiros que o superam. Era
um verdadeiro portento. Refletia o orgulho da Grã-Bretanha, na ocasião um
poderoso império onde, literalmente, “o sol jamais se punha”.
O Titanic media 268
metros de comprimento, 28 metros de largura e tinha altura equivalente a um
edifício de dez andares. Sua construção, ao preço da época, teve um custo de
1,5 milhão de libras esterlinas (pouco mais de US$ 8 milhões na ocasião) à
empresa proprietária dessa “cidade flutuante”, a White Star Fleet Line, da
Grã-Bretanha. Foi construído pela Harland & Wolff, nos estaleiros de
Belfast, na atual Irlanda do Norte (na oportunidade, as duas Irlandas ainda
eram unificadas num só território pertencente ao Império Britânico).
O motor, que
movimentava essa imensa estrutura naval tinha a potência de 50 mil HP e a
velocidade média do transatlântico, espantosa para aqueles tempos (e
respeitável ainda hoje), principalmente levando em conta o tamanho do navio,
era de 23 nós. O Titanic dispunha de seis salas de caldeiras, para a geração de
vapor, destinado a movimentar suas gigantescas hélices. Tudo nessa maravilha da
engenharia náutica era grandioso, soberbo e exagerado. O número total de
caldeiras de que dispunha era trinta. Muita coisa, não é mesmo?
Qualquer engenheiro
naval diria, sem pestanejar, que o transatlântico era à prova de naufrágio. E,
tecnicamente, era mesmo. Afinal, até então, nenhum grande navio tivera um
sistema de 16 compartimentos estanques. Todos eles poderiam ficar completamente
inundados que nem assim a embarcação iria a pique. Algo, porém, deu errado.
Afinal, o Titanic naufragou e com uma facilidade e velocidade espantosas e
inexplicáveis.
Até hoje, os técnicos e
engenheiros navais não entendem como isso pôde acontecer. E, principalmente,
como o capitão E. J. Smith, experiente homem do mar, se deixou levar pelo
excesso de confiança e não adotou medidas mínimas, corriqueiras e convencionais
de segurança. Afinal, cabia-lhe a tarefa e a responsabilidade de zelar pela
vida e pelo conforto de mais de três mil pessoas, além de um patrimônio de tamanho
valor financeiro.
Os relatórios da
tragédia, divulgados em 30 de julho de 1912, foram nebulosos e ambíguos,
principalmente em relação a determinados detalhes que se sabe serem essenciais.
O documento, de 74 páginas, da Comissão de Inquérito encarregada de investigar
a trágica ocorrência, concluiu, apenas: “Depois de investigarmos cuidadosamente
as circunstâncias do naufrágio acima mencionado (o do Titanic), chegamos à
conclusão, pelas razões enumeradas no anexo, que a perda do referido navio
deveu-se à colisão com um iceberg, causada pela excessiva velocidade em que o
navio navegava”.
Muito bem, a
determinação da causa foi conclusiva. Todavia, nem seria necessária uma
Comissão tão custosa e cercada de tanta pompa e circunstância para chegar a
essa conclusão tão óbvia, diria que acaciana. Os sobreviventes poderiam atestar
isso e com muito maior credibilidade, pois estavam lá, a bordo da cidade
flutuante que se mostrou mais frágil do que um barquinho qualquer.
O que o relatório
deixou de mencionar foi o criminoso descuido da empresa proprietária do
Titanic. Como explicar o motivo de um navio, com capacidade para 3.500
passageiros e tripulantes, zarpar do porto, para uma travessia transoceânica,
com botes salva-vidas para somente 950 pessoas? Caso o regulamento mais
elementar de segurança marítima fosse seguido, como deveria, em vez dos 700
sobreviventes resgatados pelo navio “Carpathia”, que chegaram a Nova York às 9
horas da quarta-feira, 18 de abril de 1912, poderiam ter sido salvas, no
mínimo, 1.400 ou, quem sabe, até duas mil. O Titanic era um navio que não podia
afundar. Mas... afundou!
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