Sunday, February 24, 2013


Não podia afundar

Pedro J. Bondaczuk

O Titanic foi projetado e construído para transportar, com rapidez e segurança, 3.500 pessoas, entre passageiros e tripulantes. Era, na época em que foi construído, o que havia de mais moderno e sofisticado no ramo da construção naval. E, claro, também de mais luxuoso. Era, simplesmente, suntuoso e deslumbrante,

Até a década de 60 do século XX, nenhum outro navio superou-o em dimensões e em capacidade. Ainda hoje, são raras as embarcações de transporte de passageiros que o superam. Era um verdadeiro portento. Refletia o orgulho da Grã-Bretanha, na ocasião um poderoso império onde, literalmente, “o sol jamais se punha”.

O Titanic media 268 metros de comprimento, 28 metros de largura e tinha altura equivalente a um edifício de dez andares. Sua construção, ao preço da época, teve um custo de 1,5 milhão de libras esterlinas (pouco mais de US$ 8 milhões na ocasião) à empresa proprietária dessa “cidade flutuante”, a White Star Fleet Line, da Grã-Bretanha. Foi construído pela Harland & Wolff, nos estaleiros de Belfast, na atual Irlanda do Norte (na oportunidade, as duas Irlandas ainda eram unificadas num só território pertencente ao Império Britânico).

O motor, que movimentava essa imensa estrutura naval tinha a potência de 50 mil HP e a velocidade média do transatlântico, espantosa para aqueles tempos (e respeitável ainda hoje), principalmente levando em conta o tamanho do navio, era de 23 nós. O Titanic dispunha de seis salas de caldeiras, para a geração de vapor, destinado a movimentar suas gigantescas hélices. Tudo nessa maravilha da engenharia náutica era grandioso, soberbo e exagerado. O número total de caldeiras de que dispunha era trinta. Muita coisa, não é mesmo?

Qualquer engenheiro naval diria, sem pestanejar, que o transatlântico era à prova de naufrágio. E, tecnicamente, era mesmo. Afinal, até então, nenhum grande navio tivera um sistema de 16 compartimentos estanques. Todos eles poderiam ficar completamente inundados que nem assim a embarcação iria a pique. Algo, porém, deu errado. Afinal, o Titanic naufragou e com uma facilidade e velocidade espantosas e inexplicáveis.

Até hoje, os técnicos e engenheiros navais não entendem como isso pôde acontecer. E, principalmente, como o capitão E. J. Smith, experiente homem do mar, se deixou levar pelo excesso de confiança e não adotou medidas mínimas, corriqueiras e convencionais de segurança. Afinal, cabia-lhe a tarefa e a responsabilidade de zelar pela vida e pelo conforto de mais de três mil pessoas, além de um patrimônio de tamanho valor financeiro.

Os relatórios da tragédia, divulgados em 30 de julho de 1912, foram nebulosos e ambíguos, principalmente em relação a determinados detalhes que se sabe serem essenciais. O documento, de 74 páginas, da Comissão de Inquérito encarregada de investigar a trágica ocorrência, concluiu, apenas: “Depois de investigarmos cuidadosamente as circunstâncias do naufrágio acima mencionado (o do Titanic), chegamos à conclusão, pelas razões enumeradas no anexo, que a perda do referido navio deveu-se à colisão com um iceberg, causada pela excessiva velocidade em que o navio navegava”.

Muito bem, a determinação da causa foi conclusiva. Todavia, nem seria necessária uma Comissão tão custosa e cercada de tanta pompa e circunstância para chegar a essa conclusão tão óbvia, diria que acaciana. Os sobreviventes poderiam atestar isso e com muito maior credibilidade, pois estavam lá, a bordo da cidade flutuante que se mostrou mais frágil do que um barquinho qualquer.

O que o relatório deixou de mencionar foi o criminoso descuido da empresa proprietária do Titanic. Como explicar o motivo de um navio, com capacidade para 3.500 passageiros e tripulantes, zarpar do porto, para uma travessia transoceânica, com botes salva-vidas para somente 950 pessoas? Caso o regulamento mais elementar de segurança marítima fosse seguido, como deveria, em vez dos 700 sobreviventes resgatados pelo navio “Carpathia”, que chegaram a Nova York às 9 horas da quarta-feira, 18 de abril de 1912, poderiam ter sido salvas, no mínimo, 1.400 ou, quem sabe, até duas mil. O Titanic era um navio que não podia afundar. Mas... afundou!

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