Thursday, February 28, 2013


Viemos ao mundo com algum objetivo, que temos a obrigação de descobrir qual é, e cumprir, com competência e entusiasmo. Uma coisa é certa: não viemos a passeio. Temos uma obra a realizar e quanto mais extensa, e perfeita, e útil ela for, maior será nosso valor. A vida não comporta ociosidade e omissões. Nosso valor pessoal não está, pois, na nossa origem, na família de que procedemos e na importância dos nossos ancestrais. Está em nossa conduta, na capacidade de pensar, construir, realizar e, sobretudo, servir. Muitos fracassam na vida e se tornam pesos-mortos, porque não se dão conta disso. Antônio Vieira, em um dos seus mais agudos sermões, constatou: “Nós somos o que fazemos. O que não se faz não existe. Portanto, só existimos nos dias em que fazemos. Nos dias em que não fazemos apenas duramos”. E é sumamente humilhante o fato de apenas “durarmos”, e não “existirmos” para o mundo e até para nossas famílias.

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Povo subjugado e sem voz

 Pedro J. Bondaczuk
  
O Afeganistão, até a época da invasão das tropas soviéticas, em 27 de dezembro de 1979, era um país pouco conhecido em âmbito internacional. Muitos desconheciam até mesmo a sua existência e outros tomavam conhecimento dela apenas de passagem, nos compêndios de Geografia.

Hoje o que se passa entre as suas fronteiras continua sendo praticamente um mistério no Ocidente. Mas o motivo é bastante diferente daquele que mantinha esse Estado asiático incógnito até que fosse invadido. Bem que o mundo gostaria de saber o que se passa nas suas miseráveis cidades e aldeias, perdidas em exóticos e quase inacessíveis vales.

Mas as sombras de uma cruel e perversa ditadura baixaram sobre o país e ninguém consegue atender, por mais que deseje, aos desesperados clamores de socorro do seu povo. É muito arriscado desafiar o poderio militar da União Soviética.

Centenas de milhares de soldados estrangeiros tiraram o direito dessa República muçulmana ao gozo da liberdade. E o destino dos que se opõem a essa cruel e humilhante dominação é dos mais horrendos, a julgar pelos relatos de diplomatas ocidentais, únicos canais de informação (e razoavelmente confiáveis) para se Ter alguma notícia sobre o martírio do povo afegão.

Os soviéticos, após a invasão ao Afeganistão, expulsaram todos os correspondentes internacionais desse território, para que não testemunhassem o massacre que viriam a promover. Só o fato das tropas invasoras permanecerem no país há já seis anos (e não mostram qualquer disposição de se retirarem de lá), revela o quanto era mentirosa a alegação do Cremlin para justificar o ataque a essa miserável comunidade asiática, cuja última renda per capita conhecida (a de 1978) era de irrisórios US$ 211 anuais e onde 92% da população era analfabeta. A alegação era a de que as forças russas estavam no Afeganistão a pedido dos próprios afegãos.

Sob ocupação estrangeira, é difícil e sobretudo improvável que esse quadro de miséria e de abandono de anos atrás tenha sido revertido ou pelo menos evoluído para melhor. Uma sociedade tutelada por um povo com costumes, tradições, cultura e crenças diferentes das suas, perde a identidade. Desorganiza-se na base e faz da corrupção e do deboche prática comum, uma espécie de salvaguarda para garantir pelo menos a sobrevivência física dos seus membros.

O relatório a respeito da situação dos direitos humanos no Afeganistão, que acaba de ser divulgado e que será apresentado no plenário das Nações Unidas, na próxima semana, é dos mais revoltantes e aterradores. Torturas e prisões arbitrárias, por exemplo, segundo o documento, são corriqueiras no país.

E os dados ganham mais força e maior credibilidade quando cotejados com dois outros levantamentos a respeito: um (de respeitabilíssima procedência), da Anistia Internacional, sediada em Londres e outro do Departamento de Estado dos EUA. Ambos relatórios fazem as mesmas denúncias, embora com enfoque e ênfase diferentes.

Como podem os soviéticos, depois do que fizeram (e do que estão fazendo) aos afegãos tecer críticas e recriminações aos crimes cometidos pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial (cujo 40º aniversário do seu término os russos se preparam para celebrar, com grande pompa, em maio)?

Não há dúvidas de que pouquíssimos criminosos de guerra pagaram por seus pecados em Nuremberg. Crimes tão hediondos (ou mais) seguem sendo cometidos diariamente, pelo mundo afora, sob as nossas vistas e não há sequer como evitar. É a lei do mais forte sobrepondo-se a normas e princípios que teoricamente deveriam reger as relações entre os povos.

(Artigo publicado na página 9, Internacional, do Correio Popular, em 1º de março de 1985).

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Avisos ignorados de uma tragédia anunciada

Pedro J. Bondaczuk

A viagem inaugural do Titanic – que acabou se constituindo, simultaneamente, na sua primeira, última e única – foi precedida por uma série de incidentes. Caso os responsáveis por essa “histórica” travessia (histórica, infelizmente, não pelas razões pretendidas) fossem mais prudentes e menos confiantes, ou arrogantes, em relação à invulnerabilidade do gigantesco transatlântico, é possível que este não naufragasse. É provável que navegasse por muitos e muitos anos, a exemplo do seu “gêmeo”, o Olympic, ligeiramente menor, mas com as principais características do navio sinistrado, que esteve a serviço da companhia proprietária – e por algum tempo, do governo britânico -  até 1935, escapando incólume de vários ataques durante a Primeira Guerra Mundial.

Houve, primeiro, a explosão de uma das 30 caldeiras do Titanic, o que justificava, por si só, uma revisão técnica na embarcação. Todavia, sequer se cogitou da adoção dessa prudente medida. Ao zarpar do porto de Southampton com destino a Nova York, o gigante dos mares por pouco colidiu com outro barco, colisão que só foi evitada dada a perícia dos respectivos pilotos. Caso os responsáveis pela badalada viagem inaugural fossem um tantinho supersticiosos, encarariam isso como um “aviso” e adiariam a partida por dois ou três dias ou, quem sabe, por uma semana. Não fizeram nada disso.

Se tomassem essa providência era certeza de que o naufrágio não aconteceria? Vá se saber! Pode ser que sim, pode ser que não. Mas era uma possibilidade. Os problemas a bordo, porém, não pararam por aí. Houve um incêndio em um dos porões em que estavam estocadas toneladas de carvão para alimentar as caldeiras do transatlântico. Não foi desses gigantescos e rápidos, é mister frisar. Mas não fora apagado provavelmente até o fatídico momento da colisão com o iceberg. Isso teve algo a ver com o desastre? Provavelmente não. Mas foi mais um dos tantos erros e imprudências que cercaram aquela viagem inaugural (e terminal). Havia obsessão para se estabelecer o recorde de velocidade no trajeto entre a Inglaterra e os Estados Unidos.

Houve, porém, um incidente, entre os que já mencionei, que ele, sim, pode ter sido determinante para o naufrágio. Tratou-se de uma omissão por parte de um tripulante, cujo motivo ninguém, jamais, conseguiu explicar. No início da noite do desastre, um domingo, o navio norte-americano “Californiam” passou um telegrama para o Titanic alertando sobre a existência de icebergs na rota que ele seguia. Todavia, essa mensagem jamais chegou ao conhecimento do capitão Edward Smith.

O telegrafista, Harold Bride (que sobreviveu) não comunicou a ninguém a recepção do aviso, conforme confessou tempos depois. Por que? Ele nunca conseguiu explicar de forma convincente. Aliás, sempre que o assunto vinha à baila, ele desconversava e morreu, anos depois, sem dar as devidas explicações. Caso tivesse comunicado a mensagem à ponte de comando, o comandante teria condições de alterar a rota para um trajeto seguro. Faria isso? Como saber?!

O mais provável é que Bride, como toda a tripulação, estivesse rigorosamente convicto da invulnerabilidade do transatlântico. Essa convicção era tamanha, que o Titanic zarpou de Southampton com botes salva-vidas insuficientes para todos a bordo. Não passava pela cabeça de ninguém que eles seriam necessários. Mas deveria passar, óbvio. Ademais, todos os tripulantes estavam comprometidos em estabelecer o tal recorde de travessia, custasse o que custasse. Porém, essa informação omitida, mesmo que eventualmente retardasse a viagem, era vital. Reitero: não se pode saber se, de posse dela, o comandante alteraria ou não a rota seguida. Mas teria a possibilidade de fazê-lo, sem dúvida.

Outro incidente, digno de nota, foi o fato de os dois rádios Marconi, a bordo, terem pifado ao mesmo tempo, conforme Harold Bride relatou em Nova York. Por uma dessas coincidências inexplicáveis, mas providenciais, esse relapso telegrafista e seu colega de sobrenome Phillips, conseguiram consertar o equipamento, e apenas uma hora, se tanto, antes da fatídica colisão com a montanha de gelo flutuante. Diversos navios que navegavam na área, dessa forma, puderam captar o pedido de socorro do Titanic: “Batemos num iceberg. Gravemente avariados. Precisamos de ajuda depressa”. Graças a esse SOS, por volta das quatro horas da madrugada, quando o dia estava prestes a raiar, o primeiro navio de socorro chegou à área do naufrágio para recolher os sobreviventes.

Se o rádio não fosse consertado, os apavorados náufragos, certamente, morreriam todos, principalmente de frio, naquela região tão gélida e de baixíssimo tráfego. Bride considerou um milagre ter conseguido reparar o equipamento e enviar a tal mensagem de socorro. Tudo o que os tripulantes sobreviventes disseram, todavia, sempre foi encarado com suspeição. É possível que estivessem tentando salvar a própria pele perante as autoridades e a opinião pública. Afinal, se sobreviveram, foi porque ocuparam o lugar que não lhes cabia, nos escassos botes salva-vidas, insuficientes para salvar sequer metade dos passageiros. Seu dever de honra, por mais cruel que fosse, seria o de afundar com o navio. Muitos, conforme testemunhos, deram cabo da vida antes do Titanic ir a pique. Um deles foi o capitão Edward Smith, que se matou com um tiro de pistola na têmpora. Pagou com a vida pelos seus erros e sua arrogância.

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Wednesday, February 27, 2013


O amor próprio excessivo, (que, em alguns casos, raia à auto-idolatria) é poderoso obstáculo, quase intransponível, para a felicidade. Outro, no extremo oposto, é a baixa estima, que faz as pessoas temerem os próprios sentimentos, com receio de se machucarem. Devemos gostar de nós, sem dúvida, já que este é o parâmetro para gostarmos dos que nos cercam. Cristo recomendou: “Ama o próximo como a você mesmo”. Se não nos amarmos, não conseguiremos amar ninguém. Só que esse amor próprio tem que ser na medida exata (aquela que a intuição e o bom-senso nos indiquem qual seja), nem de mais e nem de menos. Fernando Pessoa afirma a esse respeito, em um magistral texto, muito citado, mas pouco analisado: “Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos. É saber falar de si mesmo. É ter coragem para ouvir um não. É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta”. E, eu acrescentaria: é não se levar tão a sério.

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Por dentro da TV


TEIXEIRINHA ESTÁ INCONSOLÁVEL

O gauchão Teixeirinha anda inconsolável com a separação da sua parceira e esposa Mary Therezinha, com quem conviveu durante 20 anos. Ela, entretanto, anda falando "cobras e lagartos" do cantor, em seu refúgio em Miami, nos Estados Unidos. O mínimo que Mary disse de Teixeirinha é que este era um autêntico "ditador" e que ela "não agüentava mais tanta repressão". O que é isso, tchê! Agistes mesmo assim?! Barbaridade!

AVENTURA EM PARIS

Hebe Camargo, Nair Bello e Sônia Ribeiro vão viver, a partir desta sexta-feira, uma aventura fascinante. Sem os respectivos maridos a tiracolo, passarão cinco dias em Paris, longe dos problemas e chateações do quotidiano. Elas dizem que o principal objetivo é o de descansar. Descansar em Paris?! Esse é um lugar para passear bastante e visitar os incríveis pontos turísticos que a cidade oferece. Lugar para descanso é numa colônia de férias. Ah, Paris, "toujours Paris".

SE VOCÊ É CURIOSO

Olha aí uma chance de ouro para a criançada conhecer seus ídolos da TV. Se você tem até dez anos de idade, pode inscrever-se para participar do quadro "Essas Crianças Curiosas", do Programa Raul Gil, da TVS. Quem está fazendo a seleção da gurizada, a quem caberá a tarefa de fazer aos artistas convidados aquelas perguntas "chatas" e desconcertantes que só mesmo elas sabem, é a Edna Tereza, diretora daquele programa. As inscrições ainda podem ser feitas, de segunda a sexta, no horário comercial, na Rua Dona Santa Veloso, 575, Vila Guilherme, na capital paulista. Quem se habilita?

REVELAÇÃO DO ANO

Ney Latorraca está colhendo agora os frutos da semente que plantou há um ano atrás. É que o seriado "Anarquistas Graças a Deus" foi gravado em princípios de 1983 e estava previsto inicialmente para ser uma novela, em substituição a "Sol de Verão", que teve o seu final abreviado em virtude da morte de seu grande astro, Jardel Filho. Ney não está dando conta de atender a todos os telefonemas de congratulações que vem recendo, pelo calor humano que transmitiu com o personagem Ernesto Gattai. Muito bem humorado, e logicamente feliz pelo reconhecimento público do seu trabalho, ele observa: "É capaz de eu ainda ganhar o prêmio de revelação do ano". Revelação?!

MUDANÇA RADICAL

Há pessoas que quando resolvem fazer mudanças em suas vidas, o fazem para valer. Alteram praticamente tudo. É o caso de Cláudia Alencar, que teve uma participação marcante em "Padre Cícero". Ela não só mudou de canal, passando do Jardim Botânico para a Vila Guilherme, onde vai atuar na novela "Meu Filho, Minha Vida", como está de novo amor, após haver se separado do marido, Miguel de Almeida. Como se nota, a Cláudia está mesmo num pique a mil por hora.

LAGO E LAGUINHO

Mário Lago, até tempos atrás, tinha uma única frustração em sua longa e produtiva vida artística, como poeta, compositor (ele é o autor da famosa "Amélia") e ator de teatro e TV. A de não deixar sucessores. Tinha, é bem o termo, pois agora já não tem mais. É que para a sua alegria, um de seus cinco filhos, Mário Lago Filho, mostrou ter herdado o talento poético do pai. E para comprovar isso, está lançando o livro "Deveres de Casa".

(Coluna escrita por mim, sem assinar, publicada na editoria de TEVÊ, página 22, do Correio Popular, em 23 de maio de 1984).

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Tumba de luxo de magnatas

Pedro J. Bondaczuk

O Titanic foi não somente o maior navio de transporte de passageiros do seu tempo, com capacidade para transportar 3.500 pessoas – capacidade essa superada, apenas, em 2006, portanto, em pleno século XXI, por outros gigantes dos mares – mas também o mais luxuoso construído até então. Seu naufrágio despertou, desperta e provavelmente ainda irá despertar a atenção de várias gerações, portanto, não apenas pelas 1.523 mortes que causou e pelas falhas (técnicas e humanas) que contribuíram para o desastre, e nas proporções em que se deu.

Há um outro fator que torna o caso tão morbidamente atrativo: o fato de, entre os que morreram, estarem centenas de multimilionários, detentores das maiores fortunas no início do século XX. Eram figuras que freqüentavam, praticamente todos os dias, as páginas de todos os jornais do Ocidente, tanto as de caráter social quanto, e principalmente, as de economia, pela importância dos empreendimentos que comandavam.
É interessante lembrar o luxo do Titanic. Para isso, recorro à enciclopédia eletrônica Wikipédia, que descreve dessa forma suas acomodações, suntuosas até para os padrões atuais:

O Titanic superou todos os seus rivais em termos de luxo e a opulência. A seção da Primeira-classe tinha uma piscina, um ginásio, uma quadra de squash, banhos turcos, banhos elétricos e o Café Verandah. As salas comuns da Primeira-classe foram adornadas com painéis de madeira esculpidos, móveis caros e outras decorações. Além disso, o Café Parisien oferecia culinária aos passageiros da primeira-classe, com uma varanda iluminada pelo Sol. Havia bibliotecas e cabeleireiros tanto na primeira como na segunda classe. A sala geral da terceira-classe tinha painéis de pinheiro e móveis robustos. O Titanic incorporou recursos tecnológicos avançados para a época. Ele tinha três elevadores elétricos, dois na Primeira-classe e um na Segunda-classe. Ele também tinha um subsistema elétrico alimentado por geradores a base de vapor, uma fiação elétrica que cobria todo o navio e dois rádios Marconi, incluindo um de 1.500 W manejado por dois operadores que trabalhavam em turnos, permitindo contato constante e a transmissão de muitas mensagens dos passageiros”.

Como se vê, o poderoso e suntuoso transatlântico tinha tudo o que de melhor o dinheiro poderia (e pode) comprar. Suas caríssimas suítes de Primeira Classe, que não ficavam nada a dever às dos mais refinados hotéis de cinco estrelas da atualidade, eram todas decoradas com móveis de estilo Luiz XV e “holandês moderno”, em voga na ocasião. E tinham que ser assim para agradar as centenas de sofisticadas e exigentes personalidades VIPs (Very Important Persons) de diversas áreas de atividades, notadamente da indústria, dos transportes, da exploração mineral, das finanças e do comércio internacional, entre outros, que transportava.

Não conheço nenhum outro desastre – aéreo, rodoviário ou marítimo – em que tantas personalidades tenham morrido simultaneamente. Fossem as vítimas cidadãos, digamos, “comuns”, e o naufrágio, provavelmente, não teria a mesma repercussão, embora pudesse despertar alguma atenção. Para o leitor ter uma ideia, lembro que estavam a bordo do Titanic, nessa viagem inaugural, que pretendia estabelecer o recorde de travessia interoceânica entre Inglaterra e Estados Unidos, entre outros, o “rei das ferrovias”, Charles Hays; o “rei do cobre”, Benjamin Guddenheim; a bela Condessa de Rhodes; a esfuziante senhora Rotschild e o “rei dos hotéis”, John Jacob Astor. Hoje esses nomes não significam nada para o leitor contemporâneo. Mas, em 1912, constituíam a nata da alta sociedade internacional.

Seria necessário mencionar mais alguém? Afinal, estavam a bordo mais uns duzentos a trezentos magnatas, de fortunas incalculáveis. Transportem o desastre para o dia de hoje e imaginem que estejam a bordo de um outro navio, desses megabarcos de cruzeiro cada vez mais comuns, os maiores magnatas e as personalidades mais famosas da atualidade, e que este, por uma razão qualquer afunde, sem que sejam resgatados. É até inimaginável a repercussão que tal desastre teria, levando em conta, até, a multiplicidade, variedade e instantaneidade dos veículos de comunicação que existem nestes albores do século XXI.

Não foi à toa que o grupo de companhias seguradoras que seguraram o Titanic e, notadamente, seus ilustres passageiros, teve que despender fortunas em indenizações aos herdeiros. Uma única empresa não suportaria arcar com tamanhos ônus e quebraria, com toda a certeza. Algumas integrantes do “pool”, aliás, de fato quebraram.

Outra coisa, atinente ao naufrágio, que merece ligeiro comentário, é o fator que o teria provocado. Ou seja, o iceberg. Embora essas imensas estruturas sólidas, de gelo, sejam comuns, em determinadas épocas do ano, nos oceanos próximos às regiões polares, não são tão frequentes assim (diria, até, que são raras) as colisões de navios com elas. É certo que a tecnologia atual torna essa possibilidade virtualmente nula. Mas... segurança total é algo que não existe, nunca existiu e certamente jamais existirá.

A denominação dessas estruturas naturais provém da fusão de duas palavras, ou seja de “ice” (gelo em inglês) e “berg” (montanha, tanto em sueco quanto em alemão). São enormes blocos, ou imensas massas de gelo que se desprendem de geleiras existentes nas regiões polares. Algumas dessas estruturas, que podem ter tanto formato cônico quanto piramidal (o mais comum)  constituídas, basicamente, de água doce em estado sólido, têm dimensões extraordinárias. Há alguns anos, por exemplo, um iceberg de tamanho comparável ao Estado norte-americano do Texas chegou a ameaçar a navegação em águas próximas à Antártida, até que viesse a se derreter. Felizmente, nenhuma embarcação, de qualquer espécie ou tamanho, se chocou com ele.

O iceberg que vitimou o Titanic tinha, na superfície, altura estimada de trinta metros, equivalente à de um prédio de dez andares. Todavia, sua base teria trezentos metros, já que a parte submersa é, geralmente, dez vezes maior do que a visível acima da linha de água. E sua profundidade, via de regra, é imensa. Uma colisão com essas “gélidas montanhas” tende a ser fatal. Embora constituídas de água em um de seus estados, no caso o sólido, são mais resistentes do que o mais forte dos concretos e do que o ferro e o aço.
Os icebergs singram mares, próximos aos pólos norte e sul, não raro por vários meses, até que se dissolvam por completo nas águas do oceano. Esse período de dissolução varia muito, de acordo com seu tamanho, formato etc. Viram quanta informação esse naufrágio gerou? E o que tratei até agora é um quase nada sobre as circunstâncias e consequências desse já centenário desastre, se comparado com o que já se escreveu a propósito e com o que ainda poderia ser escrito e que provavelmente o será.

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Tuesday, February 26, 2013


As convenções, na maioria dos casos, têm muito mais força do que as leis, muitas das quais morrem por absoluta falta de cumprimento, porque “não pegam”. Principalmente as que são ditadas de cima para baixo. Quanto às convenções, as seguimos, quase sempre, automaticamente, sem mesmo nos darmos conta. A moral, por sua vez, é, não raro, muito mais apregoada do que praticada. Sem que nos apercebamos, cobramos dos outros que a sigam, mas não nos sentimos, muitas vezes, intimamente obrigados a segui-la. Essas observações são do filósofo Will Durant que, no seu livro “Filosofia da Vida”, constata: “Convenções são costumes mais praticados do que pregados. Moral são costumes mais pregados do que praticados. São obrigações que reclamamos dos nossos vizinhos”. Daí a necessidade de madura reflexão antes de cobrarmos comportamentos éticos dos outros. Devemos analisar, antes, se estamos de fato cumprindo aquilo que exigimos que os outros cumpram.

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O jovem Carlos

 Pedro J. Bondaczuk


O adolescente Carlos da Silva Milhomem, de 16 anos, natural de Araguaína, no Estado de Tocantins, passou o Dia da Criança deste ano de forma diferente, muito diversa de outras pessoas da sua idade. Não teve show de rock, cachorro-quente e refrigerantes. Não ganhou passagem para Disneyworld e o clima em que passou essa data podia ser tudo, menos o de festa.

Envolvido num delito que não cometeu, o jovem passou a data apanhando. Sendo torturado por policiais que desonraram a farda da corporação que vestiam. Mesmo que ele houvesse sido o autor do estelionato que lhe queriam imputar, não poderia, jamais, ser vítima de espancamento, como foi, já que a Constituição proíbe essa prática desumana. Por ser menor, Carlos é igualmente passivo da proteção do recém aprovado Estatuto da Criança e do Adolescente.

O Ministério da Justiça está apurando a denúncia e os acusados, no mínimo, praticaram o crime de abuso de autoridade. Agiram com uma insensibilidade indigna de quem exerce a função que lhes foi destinada, de guardiões da sociedade.

Entre nós, não somente em casos como este, mas já se tornou até uma regra geral, se costuma inverter o axioma que diz que "todo cidadão é inocente até que se prove o contrário". Esse comportamento, precipitado e preconceituoso, dá margem a dolorosos e, às vezes, irreparáveis, erros judiciários.

Para citar somente um, basta mencionar o caso dos irmãos Naves, em Minas Gerais, que foram presos, torturados, julgados, condenados e encarcerados por mais de vinte anos pelo alegado assassinato de um comerciante. Passado todo esse sofrimento, esta morte social que representa uma condenação judicial, eis que, num certo dia, a suposta vítima foi vista passeando na rua de uma determinada cidade mineira, vivíssima, mais viva do que nunca.

É verdade que o governo pagou indenização pelo erro judiciário. Mas há dinheiro que possa compensar os horrores de uma penitenciária, ainda mais pagando por um crime que não se cometeu?! O mesmo aconteceu com o garoto de Araguaína, humilde trabalhador de salário mínimo numa empresa avícola local.

Um dia depois da sessão de tortura a que o menor foi submetido, a polícia prendeu o verdadeiro culpado. Este, certamente, será um Dia da Criança que Carlos jamais irá esquecer enquanto viver. Além de tudo, o caso revela, com nitidez, a forma como nossos menores carentes são tratados.

Não importa o que os políticos falem em épocas de campanha. Não importam as promessas e as manifestações de boa intenção. O que conta é a ação. E esta, em geral, salvo honrosas exceções, é do mesmo tipo da que o jovem de Tocantins foi vítima.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 24 de outubro de 1990).

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Da confiança ao pânico

Pedro J. Bondaczuk

O naufrágio do Titanic deixou uma infinidade de interrogações, a propósito de sua causa (ou causas), não respondida até hoje, mesmo havendo passado cem anos do desastre, submetido a toda a sorte de investigações que, todavia, nunca foram conclusivas. Teoricamente, a colisão com o iceberg, embora tenha causado grande “rasgo” no casco, não seria suficiente para causar seu afundamento e muito menos com a rapidez que isso se deu. Afinal, o transatlântico contava com um sistema de dezesseis compartimentos estanques que deveriam evitar, assim que o primeiro fosse inundado, que o resto da embarcação também fizesse água. Funcionassem a contento, o navio manteria a estabilidade e até a navegabilidade, se não por tempo indefinido (para o que fora projetado) pelo menos até que o socorro chegasse e se pudesse resgatar todos os que estavam a bordo. Mas... esse sistema de segurança não funcionou.

A pergunta que fica no ar é: por que? Por falha do projeto? Por utilização de material não condizente com a qualidade requerida? Por falha humana? Por que nada disso funcionou? É uma gigantesca interrogação. Teorias, a propósito, há em profusão, mas nenhuma pôde ser devidamente comprovada. Creio que jamais poderão ser.

Há um detalhe, revelado por tripulantes sobreviventes, não muito divulgado (embora não omitido), que, se levado em conta, deveria adiar o início da viagem inaugural do Titanic, até que o problema fosse devidamente resolvido. Ocorre que, mesmo antes do navio zarpar do porto de Southampton, um incêndio irrompeu em um dos porões da embarcação, carregado de carvão. Não se trataram de chamas enormes e visíveis, mas de pequeno foco, quase imperceptível, mas contínuo. Estava lá. Os tripulantes sabiam. O capitão, certamente, também tinha conhecimento. Ninguém, todavia, deu maior importância ao fato. Presumo que todos entendessem que o foco poderia ser debelado no percurso do Titanic rumo a Nova York sem maiores riscos.

Portanto, mesmo com fogo em um dos porões, o transatlântico zarpou. Você, caso fosse passageiro, e soubesse do fato, concordaria em viajar a bordo de um navio que tivesse esse tipo de problema, mesmo que aparentemente ínfimo? Eu não! Nunca se pode ignorar nenhum incêndio, por menor que seja, porquanto pode surpreender e se alastrar subitamente, de forma imprevisível. O capitão e os tripulantes tinham confiança sem limites na invulnerabilidade do Titanic. E esse sentimento, claro, contagiou os passageiros, que não tinham a mínima dúvida quanto à segurança da embarcação. Deveriam ter.

Foi por essa razão, por confiar cegamente no que todos asseguravam, ou seja, de que o Titanic era impossível de naufragar, que o pânico tomou conta de todos a bordo quando, 25 minutos após a meia-noite de 14 de abril de 1912 o capitão, Edward Smith, depois de avaliar os danos causados pela colisão com o iceberg, ordenou que todos a bordo fossem reunidos no convés superior. “Uai, o navio não é à prova de naufrágio?”, devem ter se perguntado os até então crédulos passageiros. Daí para o pânico, foi um piscar de olhos.

O incêndio em um dos porões, que ardia há já quatro dias, teve algo  a ver com o desastre? Pode ser que sim, pode ser que não. Acredito que afetou alguma coisa, embora não se possa precisar o quê. Normal, convenhamos, é que não era. E por que os compartimentos estanques não funcionaram e não vedaram a embarcação, como deveriam fazer? Quando o capitão ordenou que todos os passageiros se dirigissem imediatamente para o convés superior, o quinto compartimento já estava completamente inundado, à altura do sexto andar do Titanic (que tinha dez andares). Ainda assim, se os demais, ainda secos, fossem hermeticamente selados, como deveriam ser, o transatlântico não perderia a estabilidade e poderia permanecer flutuando até a chegada de socorro. Mas... não permaneceu. Por que não se fecharam?

A embarcação, surpreendentemente, começou a adernar, a tombar para um dos lados, o que era o sinal mais evidente de que estava irremediavelmente condenada, de que o naufrágio era questão já nem mais de horas, mas de minutos. O pânico, a rigor, não se instalou de imediato, com o anúncio oficial, feito pelo capitão, aos passageiros reunidos no convés superior, da ocorrência do acidente. A essa altura, se não todos, pelo menos a maioria ainda acreditava que o navio, embora avariado, não estava em perigo. No princípio, as pessoas estavam com disposição otimista e até alegre, o que facilitou para que todas fossem reunidas com relativa ordem. Isso foi feito em tempo até curto, de não mais do que quinze minutos, conforme o relato de sobreviventes.

Boa parte achava (provavelmente, não todos) que o incidente seria contornado logo, e sem maiores problemas e que, quando se chegasse ao destino, cada um dos que estavam a bordo teria histórias interessantes para contar aos parentes e amigos. Infelizmente... a maioria, jamais chegou a Nova York.

A partir do instante em que o imediato Murdock ordenou que fossem baixados os escaleres – suficientes para transportar, quando muito, apenas a metade dos que estavam a bordo – a ficha caiu para todos. E foi um Deus nos acuda. A correria e o pavor começaram ao grito do marinheiro: “Todos para os botes! As mulheres e as crianças primeiro!”. Claro que nem todos respeitaram essa ordem de primazia. O pânico e o instinto de sobrevivência sobrepujam a ética e o cavalheirismo.

Gritos de angústia e desespero encheram todo o navio. Mulheres recusavam-se a se separar dos maridos e tinham que ser sorteadas, ao acaso, e postas à força nos botes salva-vidas, o que retardava, claro, a operação de salvamento. Não houvesse pânico, mesmo com insuficiência de escaleres, mais vidas provavelmente teriam sido salvas. Essa urgência da tripulação em embarcar as pessoas teve um efeito devastador na multidão. Foi apenas nesse momento, aos 50 minutos da madrugada de 14 de abril de 1912, que todos, absolutamente todos, se aperceberam da gravidade da situação. Mas... já era tarde para se fazer mais do que se fez.

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Monday, February 25, 2013


Os grandes luminares da sabedoria e do bom-senso sempre consideraram o mal um dos grandes mistérios do comportamento humano. Além das conseqüências funestas que ele sempre traz para os que o praticam – e para as suas vítimas, claro – exige muito mais esforço do que a prática do seu oposto, o bem. A solidariedade, por exemplo, além de mais nobre, é muito mais prazerosa do que o egoísmo. O mesmo vale para o amor, em relação ao ódio. No entanto, muitas e muitas pessoas preferem apostar na maldade, mesmo sabendo (ou pelo menos intuindo) que vão pagar um preço muito alto por essa escolha. O filósofo Will Durant, em seu livro “Filosofia da Vida”, constata: “Há mais prazer em dar do que em receber (todo receber é submissão, todo dar é dominação); há mais prazer em aliviar a dor do que em fazer sofrer; há mais prazer no amor do que no ódio”. Se tudo isso é verdade, e a experiência prova que é, por que tanta gente opta pelo mal? Mistério! 

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