Virtude e felicidade
Pedro J. Bondaczuk
O hábito da prática da virtude e uma extensa lista de valores –
aqueles que tiveram sua eficácia e verdade testadas (e comprovadas)
pelo tempo, como bondade, justiça, solidariedade, fé etc. – são
os maiores legados que podemos deixar aos filhos após a nossa morte.
Isso, todavia, apenas é possível mediante uma educação eficaz,
ministrada com irrestrito amor, baseada, sobretudo, em exemplos,
muito mais do que em meras palavras. Estas, via de regra, entram por
um ouvido, saem pelo outro e perdem-se no ar. Raramente contam com
alguma eficácia.
Bens materiais os filhos conseguirão sozinhos, caso sejam instruídos
nas regras corretas de conduta e bom comportamento. Saberão, por
exemplo, dar valor ao trabalho, dedicando-se àquilo que de fato
gostam, o que multiplicará sua eficiência. Terão consciência da
importância de se honrar compromissos e de respeitar os direitos
alheios. Descobrirão o valor do pensamento positivo, da
autodisciplina, da atitude construtiva, da alegria e do bom humor
(mesmo que as circunstâncias não lhes sejam favoráveis).
A arma essencial dos pais que realmente se preocupam com o futuro da
sua descendência é o diálogo: aberto, franco, amigável, sincero,
permanente e sem temas tabus. Não me refiro, óbvio, a cansativos
monólogos, a cínicas “lições de moral” meramente retóricas e
sem conteúdo, à postura de sabe-tudo face aos filhos. Esse tipo de
atitude é ineficaz, inócuo, cansativo e com ele ninguém consegue
prender a atenção de uma criança e, muito menos, de um adolescente
com mínimo de inteligência. Agindo assim, você só conseguirá
perder a credibilidade e jamais terá livre acesso ao coração do
seu filho.
Baseie sua vida na irrestrita e absoluta verdade. Não caia na
tentação de contar mentiras, mesmo aquelas pequeninas e
aparentemente inofensivas. E quando contar uma história a seu filho,
explique-lhe, antes, que se trata de fantasia, que é mera
manifestação de criatividade de quem a inventou, que é uma grande
metáfora e não expressão da realidade.
Não lhe incuta na cabeça imagens e símbolos que mais tarde ele
descobrirá que não são verdadeiros, como fadas, duendes, Papai
Noel, Coelhinho da Páscoa etc.etc.etc. criados por alguém como
você, mas sem nenhuma finalidade educativa, ao contrário do que se
busca, amiúde, dar a entender. Explique-lhe (se souber) sua origem e
finalidade. Se desconhecer essas informações, busque-as. Elas são
bastante acessíveis. Em geral, os objetivos dessas fantasias são
meramente comercias. Não faça dele uma pessoa supersticiosa,
crédula, sem senso crítico.
Nunca, em circunstância alguma, minta para o seu filho e ensine-o a
também jamais fazê-lo. Para tanto, porém, você não pode ser
excessivamente severo em relação aos seus erros. Lembre-se de
quantas bobagens você cometeu quando era moço.
Saiba corrigi-lo, e corrija sempre, mas sem traumatizá-lo e sem
aquelas intermináveis e chatas lenga-lengas, sem “lições de
moral”, mostrando-lhe compreensão e, sobretudo, irrestrito amor.
Não seja ditatorial e nem assuma postura de dono da verdade.
Tudo isso, caso você aja dessa forma, criará um elo indestrutível
entre vocês. Você será seu confidente, possivelmente o único, mas
se não for o exclusivo, será o que ele terá maior confiança, sem
que precise buscar outro qualquer alhures.
Esse conjunto de atitudes sequer é novo, original ou revolucionário.
É ditado pelo bom-senso. O poeta romano Virgílio escreveu, nas
célebres “Geórgicas”, a esse propósito: “Filho, lego-te a
virtude, a pena que não mente. Outros ensinar-te-ão a felicidade”.
Você não sabe como tornar o seu filho feliz? Ninguém sabe! Não há
nenhuma receita prévia e infalível para isso. Dê-lhe virtudes.
Dê-lhe princípios. Dê-lhe valores. Dê-lhe autoconfiança e
mostre-lhe o caminho.
A ele, somente a ele e a mais ninguém, competirá a decisão de
segui-lo ou não. Você nada poderá fazer a respeito. Ademais, caso
prevaleça a lógica, um dia você morrerá e seu filho não poderá
mais contar com seus conselhos, exemplos e orientações. Ensine-o a
andar com as próprias pernas Faça dele, sobretudo, um ser humano de
valor: verdadeiro, sensível, autêntico, altruísta, solidário e
participativo.
Fazendo a sua parte, a probabilidade maior é que seu filho encontre
a felicidade por si só. Afinal, estará habilitado a conquistá-la.
Estará predisposto a ser feliz. Lutará por esta condição.
Porquanto, a felicidade não está em determinada pessoa, coisa ou
lugar. É um estado de espírito, mera predisposição íntima,
pessoal e intransferível, que cada pessoa pode ou não desenvolver.
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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