O custo da reeleição
Pedro J. Bondaczuk
A emenda constitucional que
prevê a reeleição para os cargos executivos (prefeitos,
governadores de Estado e presidente da República), vai ser a
"vedete", senão o único tema a ser apreciado, do período
de convocação extraordinária do Congresso Nacional, que teve
início no último dia 6 e irá se estender até 6 de fevereiro
próximo, véspera de Carnaval.
Os parlamentares negam que o
assunto a ser abordado será somente "este". Tanto que na
sessão inaugural até gastaram um tempo considerável com a leitura
dos títulos dos projetos que supostamente pretendem debater e votar
neste menos de um mês (descontando os finais de semana). E há muita
coisa urgente a ser apreciada e que certamente não o será. Entre o
que é inadiável está o Orçamento da União para 1997, por motivos
óbvios.
Muitos projetos, que tramitam
há mais de dois anos nas duas Casas, até justificariam esse
"esforço concentrado" dos congressistas para limpar a
pauta. Entre eles, pode ser citado como exemplo o novo Código
Nacional de Trânsito, à espera da apreciação dos senadores.
Dificilmente será apreciado.
Que ninguém se iluda. Dois
assuntos devem ser não apenas predominantes, como provavelmente
exclusivos neste período extra de sessões: a emenda da reeleição
e a escolha das mesas de trabalho da Câmara e do Senado, notadamente
dos seus respectivos presidentes. O segundo é uma rotina
parlamentar. O primeiro poderia ser debatido em qualquer ocasião,
nesta ou em qualquer legislatura, sem nenhum prejuízo para o País.
É certo que Fernando Henrique
Cardoso quer o direito de postular um novo mandato, aspiração
legítima, que se atendida, não lhe dará reeleição automática. A
decisão livre e soberana vai caber ao eleitorado, que terá o poder
de julgar se sua administração foi boa a ponto de ser interessante
sua continuidade ou ruim, merecendo substituição.
Daí ser incompreensível o
clima de passionalismo que cerca a questão. Para decidir um tema tão
trivial, os cofres públicos vão arcar com uma despesa estimada em
R$ 40 milhões, considerando-se o que deputados e senadores vão
receber, mais os salários de seu séquito de assessores e dos
funcionários das duas Casas.
Esse dinheiro daria, por
exemplo, para reequipar a Unidade de Tratamento Intensivo Neonatal
das maternidades de Fortaleza e impedir a morte de dezenas de bebês
prematuros, que vêm morrendo em decorrência da superlotação. Ou
para financiar a construção de 8 mil casas populares, provendo um
teto para 40 mil pessoas. Ou para consertar uma porção de rodovias
esburacadas e em petição de miséria. Ou para tantas coisas mais. O
direito de reeleição do presidente, de prefeitos e de governadores
vai custar demais diante da sua importância.
(Artigo escrito em 6 de
janeiro de 1997)
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