Postura de estadista
Pedro J. Bondaczuk
O
presidente eleito, Fernando Henrique Cardoso, vem mantendo extrema
cautela em relação ao governo de Itamar Franco, a menos de dois
meses do seu final. Conserva uma postura ética impecável,
procurando não esvaziar a atual administração, à qual serviu como
ministro de Relações Exteriores e da Fazenda.
Age,
portanto, de forma muito diferente de outros, no passado, que sob o
pretexto de fazerem a transição, virtualmente antecipavam o início
de seus mandatos. Aliás, desde que os resultados das eleições
confirmaram sua consagradora vitória, vem mantendo um silêncio
absoluto na imprensa nacional. Todas as declarações que deu foram
feitas no Exterior. Primeiro, em seu giro pelo Leste europeu e agora,
em sua visita oficial aos países do Mercosul.
Sequer
indicações sobre seu futuro ministério FHC deu, para não
tumultuar os últimos dias do governo Itamar. Balões de ensaio foram
lançados, mas acabaram se esvaziando por falta de confirmações ou
desmentidos.
Tomara
que esta postura ética seja uma indicação de como será a sua
gestão. O País precisa de equilíbrio, de ação, de diálogo e de
entendimento e não de confronto, de retórica, de controvérsias e
de tanta coisa nociva que envenena a política e deslustra a imagem
dos homens públicos aos olhos da população.
Aliás,
as declarações de Fernando Henrique Cardoso impressionaram seus
interlocutores. Suas atitudes e palavras têm sido as de um
estadista, que revela estar preparado para a difícil missão que
terá pela frente.
Equilíbrio
e otimismo em relação ao futuro do País tem sido a tônica de seus
pronunciamentos. No plano econômico, FHC assegurou a continuidade do
Plano Real, que deverá ser acompanhado de quatro reformas básicas
que o consolidem: a tributária, a do Estado, a previdenciária e a
política.
Em
seu pronunciamento de quinta-feira, na Argentina, afirmou que a
economia do Brasil precisa crescer, em média, 7% ao ano, para que se
torne possível um combate eficaz à miséria que assola parcela
considerável da população. A crise social somente poderá ser
superada mediante a retomada do desenvolvimento e a adoção de um
modelo que corrija a atual e absurda concentração de renda.
A
ênfase dada à necessidade de crescimento significa que o presidente
eleito não cogita de lançar mão de estratégias que conduzam à
recessão. A paralisação (ou a redução de ritmo) das atividades
produtivas, além de não deter a espiral inflacionária, apresenta,
como terríveis sequelas, o desemprego em massa, a violência, a
fome, o absurdo aumento da mortalidade infantil e a miséria. Ou
seja, tudo o que conduz um país à desagregação e ao confronto
interno.
Fernando
Henrique é um emérito negociador, um articulador político, que
nada fica a dever ao saudoso presidente eleito (e jamais empossado)
Tancredo Neves. Tem o dom de transformar ferrenhos adversários,
senão em aliados, ao menos em colaboradores.
Exemplo
da sua postura moderada foi a declaração que fez em Buenos Aires,
sobre seu principal oponente nas eleições presidenciais que venceu,
Luís Inácio Lula da Silva. Respondendo a um repórter, afirmou que
o líder petista é “mais inteligente do que a maioria dos
intelectuais”.
Oxalá
FHC confirme as expectativas dos 35 milhões de brasileiros que
confiaram nele e faça um governo competente e honesto, que implante
as bases de um novo Brasil, vigoroso, produtivo, integrado e
socialmente mais justo.
(Artigo
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 5 de
novembro de 1994).
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